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Assassinato de CEO em Nova York eleva preocupação de líderes empresariais com segurança corporativa

Após Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, ser morto em Manhattan, executivos apagam fotos de sites e aumentam investimentos em proteção pessoal

Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare (UnitedHealthcare/Divulgação)

Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare (UnitedHealthcare/Divulgação)

Agência o Globo
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Publicado em 6 de dezembro de 2024 às 16h14.

Última atualização em 6 de dezembro de 2024 às 16h23.

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Uma empresa farmacêutica da Fortune 500 – lista da revista Fortune que conta com as 500 maiores empresas dos Estados Unidos – aumentou os preços dos medicamentos, e, em seguida, membros do conselho e executivos receberam ligações com ameaças. Outra empresa de sáude teve a reunião de seu conselho interrompida após membros serem alvos de "swatting" – ataques que envolvem falsas denúncias para enviar a polícia à casa das vítimas.

Esses incidentes ocorreram antes do assassinato de Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare – um dos maiores braços do UnitedHealth Group, dedicado aos seguros de saúde – na quarta-feira em Midtown Manhattan. Até a noite desta quinta-feira, a polícia ainda não havia apresentado um motivo para o crime nem confirmado se havia relação com o trabalho de Thompson na indústria de seguros.

No entanto, o assassinato chocou líderes empresariais, muitos dos quais já estavam preocupados com questões de segurança. Nos últimos cinco anos, houve um aumento acentuado em ataques direcionados, tanto digitais quanto presenciais, contra executivos e suas famílias, de acordo com Chris Pierson, CEO da BlackCloak, uma empresa de proteção digital para executivos. Segundo dados da empresa, líderes nas áreas de saúde, biomedicina e farmacêutica são mais alvo de ameaças do que executivos de outros setores.

As plataformas digitais tornaram mais fácil obter informações sobre a identidade e localização de executivos, enquanto as redes sociais amplificam o ódio dirigido a esses líderes corporativos.

As empresas também têm investido mais em segurança: o gasto médio com segurança de executivos entre empresas do S&P 500 que divulgam essas informações dobrou de 2021 a 2023, segundo a Equilar, uma empresa de pesquisa de compensação executiva.

Dada a frequência das ameaças online, empresas e firmas de segurança precisam avaliar o nível de severidade, a probabilidade de ataque e a capacidade de quem faz a ameaça, afirmou Pierson.

Enquanto alguns usuários de redes sociais reagiram à morte de Thompson com raiva e até satisfação, expressando frustrações sobre a negação de reembolsos para tratamentos médicos essenciais, muitos líderes corporativos compartilharam o medo ao ver um executivo ser morto a tiros em plena rua de Manhattan.

"Minha esposa perguntou: 'Por que alguém mataria um CEO?' E eu respondi: 'Todo CEO tem pessoas que não gostam dele. CEOs demitem pessoas. CEOs têm concorrentes no mercado'", disse Seth Besmertnik, CEO de uma empresa de software também localizada em Manhattan.

Brad Karp, presidente do escritório de advocacia Paul, Weiss, comentou: "Foi assustador e perturbador ver o assassinato capturado em vídeo, a dois quarteirões do meu escritório".

Para alguns executivos, o assassinato foi um alerta: não apenas líderes políticos precisam estar atentos à sua segurança pessoal. Muitos agora estão correndo para reforçá-la.

De acordo com informações divulgadas pela Reuters, empresas de seguro de saúde, incluindo a própria UnitedHealth, começaram a remover as fotos de seus líderes dos sites após a morte de Thompson, para dificultar que sejam identificados e encontrados.

Executivos da Allied Universal, que presta serviços de segurança para 80% das empresas da Fortune 500, disseram que seus telefones não pararam de tocar na quarta-feira com novos clientes em potencial. A Allied oferece uma ampla gama de serviços, como guardas fora de escritórios, motoristas para executivos, vigilância em residências e monitoramento das famílias.

Proteger um CEO em tempo integral custa cerca de US$ 250 mil por ano, segundo Glen Kucera, chefe dos serviços de proteção avançada da Allied.

Neste mês, dezenas de CEOs da Fortune 1000 se reunirão para uma cúpula em Midtown, região de Manhattan, em Nova York, a poucos passos de onde o CEO da UnitedHealth Group foi morto.

Jeffrey Sonnenfeld, que lidera o Instituto de Liderança Executiva da Universidade de Yale e organiza a cúpula, recebeu uma enxurrada de ligações nesta quarta-feira com perguntas sobre segurança no evento. Sonnenfeld afirmou que policiais e seguranças privados estarão presentes, uma decisão tomada antes do assassinato, embora em anos anteriores a segurança não fosse uma preocupação central.

"Líderes do mundo corporativo são alvos convenientes", disse Sonnenfeld.

Ranjay Gulati, professor da Harvard Business School, observou que, embora as pessoas frequentemente se frustrem com empresas – como no caso da Purdue Pharma e sua relação com a crise dos opioides, ou da BP com o vazamento de petróleo da Deepwater Horizon – é chocante ver essa raiva se transformar em violência.

"Existe uma corrente subterrânea de frustração com a indústria da saúde", disse Gulati. "Não estou justificando a ação de forma alguma, mas precisamos refletir sobre uma indústria que consome quase 20% do nosso PIB e ainda assim apresenta resultados muito inferiores aos de países que gastam metade disso."

A polícia informou que cápsulas de bala encontradas no local do crime pareciam ter as palavras "negar" e "atrasar" escritas – termos familiares para pessoas que buscam cobertura para procedimentos médicos.

Kathryn Wylde, CEO da Partnership for New York City, uma organização sem fins lucrativos que representa a comunidade empresarial da cidade, disse que o prefeito Eric Adams a contatou na quarta-feira, informando que o crime parecia ser direcionado e não aleatório, pedindo que ela alertasse os membros da parceria.

Na próxima semana, a Partnership for New York City receberá a nova comissária de polícia da cidade, Jessica Tisch, em sua reunião anual. Wylde afirmou que os líderes empresariais estavam focados na segurança pública de forma ampla, mas o assassinato de Thompson pode levar a uma discussão mais profunda sobre a segurança pessoal de executivos.

"É razoável pensar que uma retórica violenta pode levar a resultados trágicos", disse Wylde.

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