O presidente sírio, Bashar al-Assad: "Dou os pêsames ao povo sírio pelo martírio do xeque Mohammad Said al-Bouti, este grande personagem da Síria e do mundo islâmico", disse Assad. (AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2014 às 13h28.
Damasco - O presidente sírio, Bashar al-Assad, condenou o atentado suicida que matou um clérigo sunita pró-regime e outras 48 pessoas em Damasco, e se comprometeu a "limpar" o país dos extremistas.
"Dou os pêsames ao povo sírio pelo martírio do xeque Mohammad Said al-Bouti, este grande personagem da Síria e do mundo islâmico", disse Assad em uma mensagem divulgada na noite de quinta-feira.
Em uma carta à ONU, o Ministério sírio das Relações Exteriores pediu que o Conselho de Segurança "condene este crime terrorista e afirme claramente que a comunidade internacional pretende lutar contra o terrorismo".
O líder da oposição Ahmed Moaz al-Khatib também condenou o ataque e disse suspeitar que o regime esteja pro trás do atentado cometido quinta-feira à noite na mesquita Al-Iman, no bairro de Mazraa, onde o xeque Buti ministrava cursos de religião todas as segundas e quintas-feiras.
Mas manifestantes anti-regime criticaram nesta sexta-feira o clérigo. "Que sua alma seja condenada, Bouti", gritavam alguns em Idleb (norte), enquanto outros na região de Homs prometiam um destino semelhante ao mufti sunita da Síria, muito próximo ao poder, o xeque Ahmad Badreddine Hassun, que expressou apoio ao Exército regular. "Sua vez virá Hassoun", gritaram alguns em Talbissé.
O funeral do xeque al-Bouti deve ser realizado no sábado após a oração do meio-dia na Mesquita dos Omíadas, uma das mais famosas de Damasco. As autoridades decretaram luto nacional de um dia, segundo a agência oficial Sana.
O atentado não foi reivindicado, mas seu modus operandi - um homem-bomba detonou os explosivos que carregava - lembra o da rede extremista Al-Qaeda.
A explosão causou a morte de 49 pessoas, segundo o Ministério da Saúde, e 52, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Uma fonte dos serviços de segurança em Damasco afirmou à AFP que o xeque Al-Bouti rejeitava proteção, afirmando que deixaria sua vida nas mãos de Deus. Ele também era contra a revista dos fiéis que ouviam seus sermões.
"Eles o mataram acreditando que, com isso, silenciavam a voz do Islã e a fé no país (...) Eles o mataram por ter levantado a voz contra suas ideias obscurantistas que querem destruir os princípios de nossa religião clemente", declarou Assad em sua mensagem.
"Juro ao povo sírio que teu sangue, o de teu neto e de todos os mártires da pátria não foram derramados em vão, porque seguiremos fiéis a tuas ideias, aniquilando o obscurantismo deles e sua incredulidade até que tenhamos limpado o país", completou.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, denunciou o "ataque terrorista" em Damasco e insistiu sobre "a necessidade de capturar rapidamente os autores deste crime odioso".
Membro de uma grande tribo curda que vive entre a Síria, Turquia e o Iraque, Bouti, nascido em 1929, era doutor em Ciências Islâmicas pela universidade Al-Azhar do Cairo.
Odiado pela oposição, formada em grande parte por sunitas, ele foi expulso de uma mesquita em Damasco em julho de 2011 por ter dito: "A maioria das pessoas que vêm para as orações da sexta e depois protestam (contra o governo) não entendem nada da oração".
Neste mês, em um sermão de sexta-feira, ele havia garantido que a Sharia (lei islâmica) ordena "todos os que podem a entrar para o Exército e aqueles que são incapazes de fazê-lo, que ajudem dentro de suas possibilidades".
O Irã, o principal aliado regional do regime, denunciou a "conspiração dos Estados Unidos, do regime sionista e de seus agentes regionais que auxiliam e entregam armas aos grupos terroristas sírios para criar divisões interreligiosas".
Nesta sexta-feira, novos combates foram registrados entre rebeldes e soldados. A violência causou a morte de 38 pessoas, incluindo 17 civis, de acordo com o OSDH, enquanto o conflito já matou mais de 70 mil pessoas desde o início do conflito em meados de março de 2011.