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As regiões mais ameaçadas por conflitos de água no mundo

Estudo da ONU identifica riscos crescentes à gestão de águas transfronteiriças

 (Christopher Furlong / Staff/Getty Images)

(Christopher Furlong / Staff/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 19 de julho de 2017 às 16h36.

Última atualização em 20 de julho de 2017 às 17h37.

São Paulo - "Rivalidade" vem do latim rivalis, ou "aquele que usa o mesmo rio que o outro". Na raiz da antiga palavra espelham-se os conflitos do presente, onde países, comunidades ou províncias disputam as águas que compartilham. Com a perspectiva da escassez hídrica afetar dois terços do mundo até 2050, criam-se as condições ideais para um século marcado por conflitos em torno da água.

Uma nova análise encomendada pelas Nações Unidas revela que mais de 1.400 novas barragens ou projetos de desvio de água são planejados ou já estão em construção no mundo, sendo que muitos estão em rios que atravessam várias nações. Como em um condomínio residencial, o uso conjunto dessas reservas hídricas tem o poder de acentuar tensões e aumentar divergências.

Para identificar áreas ao redor do mundo mais ameaçadas por conflitos "hidro-políticos", o Programa de Avaliação das Águas Transfronteiriças da ONU realizou um abrangente estudo das bacias hidrográficas levando em conta fatores sociais, econômicos, políticos e ambientais. Os resultados do estudo acabam de ser publicados na revista Global Environment Change.

A análise sugere que os riscos de conflito devem aumentar nos próximos 15 a 30 anos em quatro regiões principais: Oriente Médio, Ásia Central, a bacia Ganges-Brahmaputra-Meghna e as bacias Orange e Limpopo no sul da África.

Além disso, o rio Nilo na África, grande parte do sul da Ásia, dos Balcãs no sudeste da Europa e do norte da América do Sul também são áreas onde novas barragens estão em construção e os países vizinhos enfrentam demanda crescente pelo recurso.

Se dois países concordaram com o fluxo e distribuição de água, geralmente não há conflito, segundo Eric Sproles, hidrologista da Universidade Estadual de Oregon, nos EUA, e coautor do estudo. "Tal é o caso da bacia do rio Columbia entre os  Estados Unidos e o Canadá, cujo tratado é reconhecido como um dos acordos mais resilientes e avançados do mundo".

Porém, segundo ele, esse não é o caso de muitos outros sistemas fluviais, onde, além da variabilidade ambiental e da falta de tratados, uma variedade de outros fatores entra em jogo, como instabilidade política e econômica e conflitos armados.

A Ásia tem o maior número de barragens propostas ou em construção em bacias transfronteiriças do que qualquer outro continente, com 807 projetos ao todo, seguida pela América do Sul, 354; Europa, 148; África, 99; e América do Norte, 8.

Mas é a África que tem um nível mais alto de tensão hidro-política, dizem os pesquisadores. O rio Nilo, por exemplo, é uma das áreas mais controversas do globo. A Etiópia está construindo várias barragens sobre os afluentes do Nilo em suas terras altas, que desviarão a água dos países a jusante, incluindo o Egito.

Para agravar o cenário, o conflito sobre a água não se restringe ao consumo humano. Segundo a pesquisa, existe uma ameaça global à biodiversidade em muitos dos sistemas fluviais do mundo e o risco de extinção das espécies vai de moderado a muito alto em 70% da área das bacias hidrográficas transfronteiriças.

Apesar das crescentes ameaças às águas transfronteiriças, há mais casos de gestão compartilhada amigável deste recurso do que conflitiva pelo mundo. Em vez de ser alvo de disputa, a água pode ser a chave para a cooperação. O desafio é garantir que o caminho da boa vizinha prevaleça sobre o da rivalidade.

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