Emirados Árabes: casamento entre o emir de Dubai, xeque Mohamed bin Rachid al-Maktum, e a princesa Haya, da Jordânia, em 10 de abril de 2004, em Amã (AFP Arquivo/AFP)
AFP
Publicado em 31 de julho de 2019 às 17h49.
Última atualização em 31 de julho de 2019 às 17h51.
Nos últimos anos, duas jovens princesas tentaram escapar do poder patriarcal do todo-poderoso emir de Dubai, Mohamed bin Rashid al Maktum, em dolorosos episódios dignos de uma série de televisão que não teve um final feliz.
Agora, a princesa Haya, que fugiu para Londres, pede à Justiça britânica proteção para sua filha.
Nesse estratégico país do Golfo, os Emirados Árabes Unidos, estes casos de "princesas rebeldes" ganharam as primeiras páginas dos jornais e irritaram as altas esferas de Dubai.
Esta cidade-Estado controla cuidadosamente, no exterior, sua imagem de grande centro financeiro internacional e paraíso de luxo para os turistas, com seus gigantescos centros comerciais e sofisticados arranha-céus.
Neste verão, a princesa Haya, de 45 anos e sexta esposa do soberano emirati desde seu casamento em 2004, causou polêmica ao fugir para Londres de seu marido de 70 anos e lançar um processo inédito contra o esposo.
Na terça-feira (30), a um juiz da Vara de Família da Alta Corte de Justiça de Londres ela solicitou uma medida protetiva contra um casamento forçado que pode envolver sua descendência. Também pediu proteção contra atos brutais e pediu a guarda de seus filhos.
O xeque Mohamed bin Rachid al-Maktum reclama o retorno de seus filhos aos Emirados.
A audiência na Alta Corte de Londres seguia nesta quarta.
Nascida e criada na Jordânia, Haya foi educada em escolas privadas da elite britânica e é graduada em Oxford. Apresenta-se como o símbolo da mulher muçulmana moderna.
"As mulheres devem tomar consciência de sua força", disse ela em 2016 a uma revista feminina dos Emirados.
"O soberano de Dubai escreve poesia sobre seu coração quebrado pela fuga de sua mulher, a princesa Haya, mas dado os maus-tratos que dá às suas filhas detidas, parece não tolerar as mulheres, salvo quando estão confinadas em sua prisão dourada", disse no início de julho o diretor da Human Rights Watch (HRW), Ken Roth, referindo-se às princesas Latifa e Shamsa, filhas do emir.
As princesas tentaram fugir, mas tiveram menos sorte.
Em março de 2018, Latifa al-Maktum, de 32, anunciou em um vídeo divulgado no YouTube seu desejo de fugir do país. Aos prantos, disse que foi "torturada" e "presa por três anos" pelo pai, depois de uma primeira tentativa de fuga quando ainda era adolescente em 2002. Criticou "um pai que pensa apenas em sua imagem" e "destrói a vida de tantas pessoas".
"Faço este vídeo, caso isso fracasse", disse à época.
O vídeo foi publicado, depois que a tentativa, digna de um filme de ação e iniciada em 24 de fevereiro de 2018, fracassou de maneira espetacular.
Com a ajuda de uma amiga finlandesa, a princesa conseguiu sair da cidade-Estado para embarcar discretamente nas águas de Omã, sultanato vizinho, em um veleiro americano. Sua tentativa fracassou na noite de 4 para 5 de março, em águas internacionais frente a Goa, quando o navio foi abordado pela Marinha indiana, segundo a finlandesa Tiina Jauhiainen.
O governo de Dubai confirmou depois que a princesa foi "levada de volta" para sua família e estava "bem".
A organização com sede no Reino Unido Detidos em Dubai disse à AFP que a "situação das princesas Haya e Latifa mostra faltas graves e abusos legalizados do Sistema Judiciário dos Emirados, em particular no que diz respeito aos direitos das mulheres".
No vídeo de março de 2018, Latifa disse estar marcada pelo destino de sua irmã mais velha, a princesa Shamsa, filha do emir de Dubai.
Aos 18 anos, Shamsa tentou fugir do pai, em 2000, durante férias na Inglaterra. Foi encontrada depois de dois meses de fuga, "drogada". Acabou sendo levada para Dubai em um jato particular e "trancafiada".
"Não tem nenhuma liberdade (...) está cercada por enfermeiras e tem que tomar medicamentos que controlam seus pensamentos", denunciou Latifa, no vídeo.