Mundo

As deputadas comunistas que estão definindo os rumos do Chile

No país modelo do livre mercado, reforma trabalhista coloca parlamentares em rota de colisão com o presidente de direita, Sebastián Piñera

Camila Vallejo, deputada do Partido Comunista, no Chile: Vallejo e Cariola estão angariando apoio para uma reforma trabalhista que reduzirá a jornada semanal máxima de 45 para 40 horas (Anadolu Agency / Colaborador/Reuters)

Camila Vallejo, deputada do Partido Comunista, no Chile: Vallejo e Cariola estão angariando apoio para uma reforma trabalhista que reduzirá a jornada semanal máxima de 45 para 40 horas (Anadolu Agency / Colaborador/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 25 de agosto de 2019 às 06h00.

Última atualização em 25 de agosto de 2019 às 06h00.

(Bloomberg) --Em um país que há muito tempo se destaca como garoto-propaganda dos princípios do livre mercado na América Latina, duas jovens comunistas recebem enorme atenção dentro do governo do Chile.

Um projeto de lei de reforma trabalhista apresentado por Camila Vallejo e Karol Cariola — que ficaram famosas como líderes do movimento estudantil há oito anos — está obtendo apoio amplo e coloca as duas parlamentares do Partido Comunista em rota de colisão com o presidente de direita, Sebastián Piñera.

O plano da dupla é reduzir a jornada semanal máxima de 45 para 40 horas de trabalho. Para Piñera, o projeto é inconstitucional e ele prometeu contestar na Justiça se a proposta for aprovada. O presidente tem uma proposta própria que não avança.

O bilionário de 69 anos ocupa a presidência pela segunda vez. A disputa em torno da legislação trabalhista e o impasse no Congresso não são o que ele esperava para a metade de seu mandato. Ele foi eleito no final de 2017 prometendo grandes reformas que desencadeariam uma fase de grande expansão econômica.

Agora, a expectativa é de redução do crescimento e as propostas de reforma tributária e da previdência estão emperradas. Enquanto isso, a guerra comercial entre EUA e China prejudica o preço do cobre, principal produto de exportação do país.

“O governo deveria estar definindo a agenda e usando seu capital político”, disse Macarena Lobos, que foi vice-ministra de Finanças da antecessora de Piñera, Michelle Bachelet, em entrevista à rádio Pauta Bloomberg. “Em vez disso, está sendo empurrado para escanteio nas principais reformas.”

A economia já mostra sinais de fraqueza. O banco central baixou a estimativa de crescimento em 2019 de 3,6% no início do ano para 2,8%. O principal índice do mercado acionário, o IPSA, acumula queda de 6% neste ano, enquanto o índice MSCI para mercados emergentes da América Latina tem pouca variação.

Protestos estudantis

A ascensão das duas comunistas surpreende porque o presidente tem poder para decidir o que o legislativo discute.

Vallejo, hoje com 31 anos, ganhou fama quando liderou manifestações pela educação durante o primeiro governo de Piñera, que tiveram adesão de centenas de milhares de pessoas, que foram protestar também contra a desigualdade.

Em resposta à movimentação popular, Piñera trocou gente no alto escalão e iniciou um novo fundo educacional, mas os estudantes não se deram por satisfeitos.

A taxa de aprovação dele desabou enquanto Vallejo despontava para o estrelato no Partido Comunista e fora dele. Pesquisas realizadas em 2011 mostraram que ela era mais admirada que Bachelet ou que a revolucionária compositora Violeta Parra.

Cariola, 32 anos, outra jovem ativista do Partido Comunista, viajou pelo mundo com Vallejo também representando o movimento estudantil. Eleitas deputadas em 2014, elas se tornaram importantes figuras políticas de esquerda — e adversárias de Piñera.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaBloombergChileDemocraciaDireitos trabalhistas

Mais de Mundo

Ataque aéreo de Israel atinge Beirute e aumenta tensão com o Líbano

Dez anos após desaparecimento de 43 estudantes no México, caso segue sem conclusão

O que é PETN, químico altamente explosivo que pode ter sido usado em pagers do Hezbollah

Novo centro de processamento de minerais vai fazer com que o Canadá dependa menos da China