Mundo

Arquitetos do Japão unem forças para reconstrução

De acordo com o famoso arquiteto Toyo Ito, tudo que foi construído para proteção contra tremores "voltou à estaca zero" após desastres

Destruição no Japão: arquitetura de segurança falhou ao não considerar acidentes nucleares (Toshifumi Kitamura/AFP)

Destruição no Japão: arquitetura de segurança falhou ao não considerar acidentes nucleares (Toshifumi Kitamura/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2011 às 13h08.

Tóquio - O desastre que em 11 de março assolou o Japão e destruiu 60 mil prédios em menos de uma hora rachou o conceito de arquitetura segura e levou professores como Toyo Ito e os prêmios Pritzker Kazuyo Sejima e Tadao Ando a somarem-se à reconstrução.

"Com o terremoto, o conceito de tudo que construímos nos últimos 50 e cem anos voltou à estaca zero", indicou à Agência Efe o arquiteto Toyo Ito, criador dos prédios como a famosa Mediateca de Sendai (2001), cujo teto desabou parcialmente pelo terremoto.

Surpreendido por uma tragédia que foi "além do que imaginado", Ito reconheceu que a arquitetura moderna falhou ao não contemplar a possibilidade de um desastre natural dessas dimensões e considerar seguro um cenário que incluía uma usina nuclear.

"Este foi o erro", admitiu o arquiteto, quem esteve com outros quatro colegas para apresentar propostas de reconstrução: Hiroshi Naito, Riken Yamamoto, Kengo Kuma e Kazuyo Sejima, este último vencedor do prêmio Pritzker 2010 com seu companheiro no escritório Sanaa, Ryue Nishizawa.

Para Ito, autor também das Torres Porta Fira de Barcelona, o grupo pode contribuir à reconstrução cobrindo os vazios do plano do Governo, ou seja, pensando nos detalhes que tornem mais confortável a vida dos refugiados e moradores da região.

O terremoto, segundo o arquiteto, obrigou a refletir sobre o significado da arquitetura e seu serviço ao público, que deve estar acima do conceito de urbanismo e humanizá-la para abranger "a relação entre a natureza e o ser humano, e entre as próprias pessoas".

Agora, por exemplo, "é necessário instalar casas temporárias para que as pessoas possam manter sua privacidade", explicou Ito, quem visitou no final de março Sendai, capital da província de Miyagi e uma das cidades mais atingidas pelo desastre, para avaliar o alcance dos danos. 


Com longa experiência em ajudar em outros desastres naturais também se faz presente nesse atual movimento de reconstrução o inovador Shigeru Ban, júri do prêmio Pritzker entre 2006 e 2009 e criador de prédios como o Museu Pompidou-Metz (França).

Além de fazer parte da elite da arquitetura, Ban trabalha há 15 anos construindo refúgios temporários para os desabrigados: ergueu estruturas desse tipo em países como Haiti, após o terremoto do ano passado, Sichuan (China) em 2008, Sumatra em 2004 e Kobe em 1995.

O símbolo que identifica seus refúgios está no uso de materiais de baixo custo, principalmente cilindros de papelão tratados com poliuretano, que Ban transforma em estruturas surpreendentemente sólidas.

Nesse momento, o arquiteto está envolvido na tarefa de melhorar a vida dos milhares de desabrigados no nordeste de seu país que estão vivendo em uma dezena de ginásios. Nesses locais, construiu com canos e telas, pequenos quartos que devolvem independência às famílias.

A montagem idealizada por Ban é simples e rápida e foi realizada em várias províncias, incluindo Fukushima, epicentro da crise nuclear do Japão, ao custo de 1,5 mil ienes (12,5 euros) por metro quadrado, financiado graças às doações (www.shigerubanarchitects.com) e de seu próprio bolso.

Na reconstrução das áreas assoladas desempenha também um papel fundamental o arquiteto Tadao Ando, prêmio Pritzker 1987 e nomeado integrante do comitê oficial encarregado de fazer um plano de restauração para as zonas afetadas, que será apresentado em junho.

Em declarações ao jornal "Mainichi", Ando ressaltou que o Japão está em uma situação "crítica em vários aspectos" que devem ser levados a refletir não só sobre o papel dos políticos, mas dos próprios cidadãos.

Considerou que as vítimas devem ser apoiadas por todos os japoneses e a forma é criar um imposto para a reconstrução: "o primeiro-ministro deve deixar claro que, para que o Japão funcione, temos que nos ajudar mutuamente", disse.

Defendeu ainda, entre outros pontos, a necessidade de estabelecer um programa de ajuda aos órfãos da tragédia, um sistema de isenção de impostos para as vítimas e um plano para enfrentar os problemas energéticos do país.

Para Tadao Ando, este é o "momento crítico" para levantar no Japão uma sociedade que, do ponto de vista ambiental, funcione.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaDesastres naturaisDesenvolvimento econômicoJapãoPaíses ricos

Mais de Mundo

Partiu, Europa: qual é o país mais barato para visitar no continente

Sem escala 6x1: os países onde as pessoas trabalham apenas 4 dias por semana

Juiz adia indefinidamente sentença de Trump por condenação em caso de suborno de ex-atriz pornô

Disney expande lançamentos de filmes no dinâmico mercado chinês