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Arquiteto do Acordo de Paris diz que governo Trump é conjuntural, mas 'deixará dano'

Ex-ministro do Peru Manuel Pulgar-Vidal diz que guerras comerciais também impactam combate às mudanças climáticas

Manuel Pulgar-Vidal, ex-ministro do Peru, durante evento em São Paulo (Sebastião Moreira/EFE)

Manuel Pulgar-Vidal, ex-ministro do Peru, durante evento em São Paulo (Sebastião Moreira/EFE)

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Agência de Notícias

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 15h04.

O ex-ministro peruano Manuel Pulgar-Vidal, um dos arquitetos do Acordo de Paris, considera que as medidas do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, são um fenômeno "conjuntural", mas reconhece que deixarão um dano na luta contra a crise climática que precisará ser revertido.

Em entrevista por videoconferência à EFE a dois meses da COP30, o ex-ministro do Meio Ambiente do Peru (2011-2016) afirmou que, diante das ameaças à transição energética, é o momento de "armar trincheiras" econômicas e sociais para proteger os avanços conquistados.

"Porque a guerra comercial também afeta as cúpulas do clima", advertiu o ex-presidente da COP20 e que será um dos convidados de honra do III Fórum Latino-Americano de Economia Verde, organizado pela Agência EFE em São Paulo na próxima quinta-feira, 4.

Para Pulgar-Vidal, a guerra tarifária e as pressões políticas estão incidindo nos orçamentos domésticos e poderão afetar os planos financeiros de transição para abandonar os combustíveis fósseis.

"Os Estados Unidos disseram que estarão muito atentos a quem vota a favor da política de emissões líquidas zero da Organização Marítima Internacional, e pode haver medidas de retaliação. As ameaças chegam a esse nível", declarou.

Segundo Pulgar-Vidal, Trump já materializou algumas de suas ameaças climáticas, como voltar a sair do Acordo de Paris e o desmantelamento de entidades científicas, e está contagiando países na Europa.

Ele acredita que o governo do político e empresário é "conjuntural", mas deixará impactos.

"É preciso entender que haverá um nível de dano que depois precisará ser revertido. Felizmente, o benefício da agenda climática sempre foi pensado a longo prazo. Sempre soubemos que, no caminho, teríamos acidentes", apontou.

"Imagine que você vai dirigir do norte do Canadá ao sul da Argentina. Sabe que nessas pistas você vai encontrar diferentes condições, buracos, vai furar um pneu. Esse é o caminho. Talvez agora estejamos cruzando a selva de Darién (entre Colômbia e Panamá), onde não há estradas e sentimos que estamos perdidos", acrescentou.

'Muito otimista' com liderança do Brasil

Apesar de tudo, ele se mostra "muito otimista" em relação à COP30 pela capacidade do Brasil, anfitrião do evento, de liderar processos multilaterais.

"Sempre foram capazes de nos surpreender com um resultado bem-sucedido, mesmo em cenários complexos", afirmou.

O ex-ministro também disse que, diante da falta de vontade política, esta deve ser uma cúpula climática em que os setores econômicos "precisam mostrar qual é o seu nível de maturidade para continuar nos dizendo que o caminho" para uma transição verde é "irreversível".

"Essa é a única maneira de poder superar as dificuldades políticas, e depois entrar no social também", aponta.

E, embora pense que não haverá grandes mudanças sobre o abandono dos hidrocarbonetos, ele vê espaço para conseguir um consenso, pelo menos, sobre o roteiro para um financiamento climático satisfatório para todos.

Sobre as críticas de várias delegações em relação aos problemas logísticos em Belém, sede da COP30, em parte pelos preços exorbitantes da hospedagem, ele pediu aos organizadores brasileiros que mudem a narrativa, dando ênfase às necessidades da Amazônia.

"Teremos problemas (logísticos), é uma realidade", mas "não precisamos de um hotel cinco estrelas, com todas as comodidades, mas, eventualmente, precisamos entender como o planeta se comporta, e o melhor lugar para isso é um local como a Amazônia", declarou.

A COP30 será um dos temas centrais do III Fórum Latino-Americano de Economia Verde, que será realizado pela Agência EFE em São Paulo na próxima quinta-feira.

O encontro reunirá autoridades e especialistas para debater sobre a crise climática e conta com o patrocínio de ApexBrasil e Norte Energia, além do apoio de Ibmec, Observatório do Clima e Imaflora.

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