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Argentina se mobiliza por onda de crimes contra a mulher

As frases que justificam os crimes de gênero são repudiadas como parte da campanha #NiUnaMeno, que realizará na 4ª uma manifestação contra o feminicídio


	Violência contra a mulher: uma mulher morre a cada 31 horas nas mãos do companheiro ou ex-companheiro na Argentina, segundo ONG
 (thinkstock)

Violência contra a mulher: uma mulher morre a cada 31 horas nas mãos do companheiro ou ex-companheiro na Argentina, segundo ONG (thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2015 às 21h23.

Buenos Aires - "Morrer por amor", "deve ter merecido", "olha como ela se vestia": as frases que justificam os crimes de gênero são repudiadas na Argentina como parte da campanha #NiUnaMenos ("nenhuma a menos", na sigla em espanhol), que nesta quarta-feira realizará uma manifestação massiva contra a crescente onda de feminicídios.

A menos de 48 horas do protesto massivo que irá reclamar respostas às autoridades por uma série de crimes contra as mulheres nos últimos dois meses, a Argentina acordou nesta segunda-feira com a manchete de outra tentativa de feminicídio: uma mulher recebeu um tiro de escopeta de seu ex-companheiro em pleno centro da cidade e está em estado grave.

Uma mulher morre a cada 31 horas nas mãos do companheiro ou ex-companheiro no país, segundo a ONG Casa del Encuentro.

A manifestação de quarta-feira, que ocorrerá também no Uruguai, busca conscientizar a sociedade sobre um mal que a Argentina não conseguiu conter com leis, nem tento agravado em 2012 a pena por feminicídio com prisão perpétua ao homem "que matar uma mulher ou a uma pessoa que se auto-perceba com identidade de gênero feminino".

Nas redes sociais o convite para participar da marcha se tornou viral com o apoio de figuras públicas ao ato que ocorrerá em frente ao Congresso, em Buenos Aires. Quase todas as 24 províncias argentinas têm ao menos um evento marcado para quarta-feira com o nome #NiUnaMenos.

A cartunista Maitena e os atores Juan Minujín e Erica Rivas (a noiva de "Relato Selvagens") lerão um documento de cinco pontos assinado por políticos e autoridades.

"Não é o suficiente ter uma legislação ou penalizar, mas é preciso enfrentar uma mudança cultural e apontar para a educação", disse à AFP Gabriela Alegre, deputada da cidade de Buenos Aires.

"Os educadores sabem que esta é uma batalha cultural que temos de lutar em nossos locais de trabalho onde a violência simbólica e o autoritarismo, muitas vezes, tenham sido naturalizados", concordou o sindicato de professores do ensino privado.

Entre os casos que causaram espanto no país nos últimos meses estão o assassinato de Maria Eugenia Lanzetti, uma professora de jardim de infância de 44 anos, separada de um marido obsessivo que tinha ordem de restrição. O homem cortou sua garganta na frente dos filhos, na província de Córdoba (centro).

Também chocou o crime, ocorrido há três semanas, de uma adolescente de 14 anos espancada até a morte e enterrada pelo namorado que supostamente a teria forçado a abortar.

Como não há estatísticas oficiais, a ONG Casa del Encuentro contabilizou 277 feminicídios em 2014 como resultado dos quais 330 crianças ficaram órfãs de mãe.

O número foi menor do que os 295 assassinatos de 2013, um trágico recorde de feminicídios que nos últimos sete anos levou a 1.808 mulheres mortas, 63% delas com idades entre 19 e 50 anos.

Entre os pedidos que serão levados ao Congresso estão a execução de estatísticas oficiais para pensar a dimensão das políticas públicas.

E também pedem a proteção das vítimas, "porque é muito difícil para uma mulher que vive uma situação violenta denunciar".

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