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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h44.
Buenos Aires - A presidente Cristina Kirchner desembarcou em Toronto, no Canadá, alinhada com a posição dos presidentes dos EUA, Barack Obama, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que defendem a manutenção do estímulo à atividade econômica na Europa. Em seu discurso na reunião de cúpula do G-20, Cristina vai defender que as políticas econômicas de ajuste fiscal pretendidas pela UE acabarão "aprofundando a crise na região e estes países terminarão como a Argentina de 2001", quando decretou o maior default de dívida soberana da história, de mais de US$ 140 bilhões, após vários e duros arrochos fiscais.
Esses mesmos conceitos já foram exibidos na reunião Mercosul-União Europeia, no mês passado, em Madri, quando a argentina deu conselhos ao chefe de governo espanhol José Luis Zapatero sobre como enfrentar a crise. Ontem, durante sua participação no segundo congresso mundial da Confederação Sindical Internacional, em Vancouver, Cristina bateu na mesma tecla. "É preciso sustentar as medidas anticíclicas porque as políticas de ajuste vão agravar terminadas situações", disse a presidente argentina, pedindo que "tomem a Argentina de 2001 como exemplo".
"Muitos países da eurozona aplicam hoje as mesmas políticas que conduziram a Argentina ao desastre", criticou ela, citando três pontos centrais como receitas para ativar a economia: aplicar políticas que tendem a aumentar a demanda agregada; gerar mais e melhor emprego, com políticas ativas; e regular os paraísos fiscais para que estes países coloquem parte de seus recursos na produção e criação de postos de trabalho. Contudo, a presidente argentina não apresentou em seu receituário nenhum remédio para a inflação no país, que já acumula alta de 25% em 12 meses, podendo chegar a 30% até o fim do ano. É o índice mais elevado entre os países do G-20. Para o governo, no entanto, a inflação oficial é de 10%.
Sem mencionar nomes, Cristina ponderou ainda sobre a urgência de reformular os organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI); o Banco Mundial (Bird); a Organização das Nações Unidas (ONU) e seu Conselho de Segurança. "Necessitamos reformular os organismos de governo global porque temos instrumentos de política e economia global de 1945, da época da pós-guerra", reclamou.
Em suas formulações, a presidente argentina coincidiu com quase todas as posturas de Lula sobre compromissos com a retomada do crescimento da economia. No entanto, uma mensagem que Obama enviou a Cristina evidenciou uma forte diferença entre a Argentina e o Brasil no que diz respeito ao Irã. "Estimada presidente, lhe escrevo para agradecer seu apoio à declaração conjunta sobre o Irã, efetuada no Conselho de Direitos Humanos no dia 15 de junho de 2010 (...) Seu apoio é um exemplo evidente da maneira como a Argentina desempenha um papel de liderança chamando a atenção internacional sobre aqueles governos que persistem em desconhecer brutalmente os direitos de seus cidadãos, a fim de manter-se no poder", disse Obama.
"Estados Unidos e Argentina compartilham um forte compromisso na promoção dos direitos humanos básicos na região e no mundo inteiro. Este compromisso surge da convicção de que as liberdades democráticas, a paz, e a estabilidade não podem ser atingidas plenamente enquanto houver governo que ignore as normas internacionais", afirmou Obama.
Em outro trecho da carta, o líder norte-americano afirma que "os EUA se sentem orgulhosos de contar com a Argentina como um firme aliado na defesa dos direitos humanos, independentemente do lugar onde estes se vejam ameaçados. Tenho a maior expectativa de seguir trabalhando com você neste objetivo comum", arrematou Obama. A carta de Obama é lida como um sinal de aproximação à Argentina.
Para o analista de estratégia internacional argentino, Jorge Castro, essa aproximação dos governos argentino e norte-americano se deve ao discurso de Cristina anti-Irã, responsabilizando o país pelos ataques terroristas contra a embaixada de Israel e à sede da associação israelita em Buenos Aires, em 1992 e em 1994, respectivamente, que deixaram 115 mortos e 700 feridos. O Brasil, por sua vez, tentou promover um acordo do país com os EUA sobre o urânio enriquecido e votou a favor do Irã, recentemente, na quarta rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU.