Erich Priebke em foto de novembro de 1995, acenando enquanto embarca em um avião em Bariloche, Argentina, rumo à Itália (Daniel Luna/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2013 às 22h28.
Buenos Aires - A Argentina não aceitará a entrada do corpo do criminoso de guerra nazista Erich Priebke, que morreu esta sexta-feira aos 100 anos em Roma e pretendia ser sepultado ao lado da esposa na cidade de Bariloche, informou a Chancelaria no microblog Twitter.
"O chanceler Héctor Timerman deu ordem de não aceitar nenhum trâmite que permita a entrada do coro do criminoso nazista Erich Priebke no nosso país. Os argentinos não aceitam este tipo de afronta à dignidade humana", destacou a mensagem publicada na rede social.
O ex-oficial alemão das SS viveu mais de 40 anos em Bariloche, no sudoeste da Argentina, onde foi detido em 1994, para ser extraditado um ano depois, julgado e condenado à prisão perpétua na Itália, onde cumpria prisão domiciliar por motivos de saúde.
Priebke foi descoberto em Bariloche em 1994 por uma emissora de TV americana.
Seu procurador, Paolo Giachino, disse na Itália que o corpo de Priebke não seria colocado em uma capela e que seu corpo seria enviado à Argentina, para ser enterrado em Bariloche (1.600 km a sudoeste de Buenos Aires), ao lado da esposa.
Priebke, que nunca pediu perdão por seus crimes, foi um dos oficiais a organizar o massacre das Fossas Ardeatinas, nos arredores de Roma, no qual morreram 335 civis, entre eles 75 judeus, executados com um tiro na nuca em 24 de março de 1944, em represália a um ataque da resistência contra uma unidade das SS.
As duas entidades judaicas da Argentina, AMIA e DAIA, expressaram sua satisfação "com a rápida ação do ministério das Relações Exteriores" e declararam que "Priebke nunca terá sepultura na Argentina".
A Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA) qualificou de "um agravo aos princípios da República" o fato de que o criminoso de guerra "residisse impunemente durante décadas no nosso país, desfrutando da vida da qual privou tantos civis inocentes".
A DAIA exortou "não esquecer e não perdoar os genocidas nazistas, nem a nenhum tipo de genocida".
A comunidade judaica da Argentina é a maior da América Latina, integrada por 300.000 pessoas.
Priebke foi um entre as centenas de nazistas que encontraram refúgio na Argentina após a capitulação do regime de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial (1939-45), aonde chegaram inclusive altos hierarcas, como Adolf Eichmann e Josef Mengele.
Em Bariloche, maior centro turístico de inverno da Argentina, aos pés da cordilheira dos Andes, este homem de trato afável, gozava de prestígio por seu ativo trabalho educativo no Instituto Cultural Germano-argentino e no colégio Primo Capraro, associado.
A escola Primo Carpraro é uma das locações do filme argentino "Wakolda", selecionado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e conta a história de Mengele, conhecido como "o anjo da morte", um dos altos hierarcas nazistas que também viveu em Bariloche.