Argentino exibe foto de Néstor Kirchner (AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2010 às 12h31.
Buenos Aires - O corpo do ex-presidente e líder peronista Néstor Kirchner, cuja morte deixou um vazio de poder na Argentina, será sepultado em Rio Gallegos (sul), sua cidade natal, após o último adeus de uma multidão que formou filas de 2 km durante 26 horas de velório em Buenos Aires.
No cemitério de Rio Gallegos, Néstor Kirchner foi velado na noite desta sexta-feira por familiares, amigos e líderes peronistas.
Ao lado do caixão permaneceram Máximo, de 32 anos, e Florencia, 19, os dois filhos de Kirchner, mas a viúva e presidente, Cristina Kirchner, se ausentou para descansar.
Sobre o caixão, coberto com a bandeira argentina, havia um capacete de mineiro, símbolo dos trabalhadores da região, a 2.800 Km ao sul de Buenos Aires.
O avião com o corpo de Kirchner havia chegado às 17h36 local (18h36 Brasília) desta sexta-feira a Rio Gallegos, no sul argentino.
No mesmo voo viajaram a presidente Cristina Kirchner, membros da família e altos funcionários do governo. O grupo foi recebido no aeroporto de Rio Gallegos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Em Buenos Aires, uma multidão gritava "Voltarás e serás milhões!", entre bandeiras com as cores do país, azul celeste e branco, relembrando a frase histórica de Evita Perón, ao mesmo tempo em que pediam força à viúva, Cristina Kirchner, cuja fortaleza está à prova.
Ao fim das honras fúnebres, na capela ardente do Salão dos Patriotas Latino-Americanos da Casa Rosada, a presidente liderou até o Aeroparque um cortejo de veículos, em cuja passagem milhares de pessoas agitavam bandeiras, cantavam, choravam e atiravam flores.
"Néstor não morreu, Néstor não morreu, vive nos corações do nosso povo trabalhador!", cantava a multidão, em um ato político carregado de sentimentos e que, pela concentração de pessoas, reviveu os funerais de Evita, em 1952, e a do três vezes presidente Juan Perón, em 1974.
A morte de Kirchner, aos 60 anos, vítima de parada cardíaca, na residência de El Calafate, extremo sul argentino, fez ressurgir a mística peronista, com o desfile de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças pelo centro de Buenos Aires e pela Praça de Maio.
A presidente, que além do cônjuge, perdeu o companheiro de militância de toda a vida, recebeu pêsames e a solidariedade também de uma multidão de chefes de Estado, incluindo o ex-presidente espanhol Felipe González.
Passaram pela capela ardente os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva; da Venezuela, Hugo Chávez; Paraguai, Fernando Lugo; Bolívia, Evo Morales; Equador, Rafael Correa; Chile, Sebastián Piñera; Uruguai, José Mujica, e Colômbia, Juan Manuel Santos.
Ao perder seu maior estrategista, a Argentina vive horas de incerteza, mas o principal artífice político do governo, a central operária CGT, renovou seu apoio, depois que seu líder, Hugo Moyano, afirmou que "depois de Perón e Eva, vem Néstor Kirchner".
Mas apesar do luto nacional e do respeito que provoca a morte, os ativistas cantaram sem pausa, de dia e de noite, palavras contra Julio Cobos, que há dois anos passou à oposição sem renunciar à vice-presidência, de onde opera sua candidatura presidencial para 2011.
"Vai embora, Cobos, você é um traidor!", bradia a multidão contra o político da social-democrata União Cívica Radical (UCR), que vota leis contra o governo, quando há paridade no Senado, câmara que ele preside.
A presidente se destaca como candidata natural do kirchnerismo para 2011, disse o chanceler Héctor Timerman, mas os analistas consideram que deverá lidar com uma reestruturação de gabinete e uma recomposição de forças.
A economia cresceu com força total desde 2003, quando seu marido assumiu, a um ritmo de 8% ao ano, com exceção da recessão forçada pela especulação financeira mundial em 2009, embora o país arraste uma inflação de 25% ao ano, não reconhecida pelo governo.
© AFPO cortejo deixa a Casa Rosada
©AFP Daniel Garcia
Néstor Kirchner chegou ao poder como emergente da pior crise da história, devido ao colapso da economia, após o neoliberalismo implantado entre 1989 e 2001 pelos presidentes Carlos Menem e Fernando de la Rúa.
De seu governo, entre 2003 e 2007, se destacam a reforma da Suprema Corte, com juristas de prestígio, os julgamentos por crimes da ditadura (1976-1983), a estatização dos fundos privados de aposentadoria na crise, o cancelamento da dívida com o FMI e o ajuste quase total da dívida em 'default'.
Em troca, foi criticado por manipular os índices de inflação e por traços autoritários, que despertaram ódios na esquerda e na direita, inclusive em setores peronistas, além do confronto com as corporações da mídia.
Irascível e temperamental, enfrentou a Igreja Católica e os patrões dos agricultores, que combateram sua esposa com a maior greve da história do campo em protesto contra impostos sobre as exportações.