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Argentina: acordo do FMI abre crise entre Fernández e ala kirchnerista

Insatisfeito, na segunda-feira, o deputado Máximo Kirchner, filho de Cristina e do ex-presidente argentino Néstor Kirchner, renunciou à liderança do bloco governista na Câmara dos Deputados

Argentina: o acordo exige que a Argentina reduza seu déficit a zero até 2025 e faça grandes cortes nos subsídios do governo à energia (Marcos Brindicci/Getty Images)

Argentina: o acordo exige que a Argentina reduza seu déficit a zero até 2025 e faça grandes cortes nos subsídios do governo à energia (Marcos Brindicci/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 09h15.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 09h16.

O acordo de refinanciamento da dívida, assinado entre a Argentina e o FMI, na sexta-feira, abriu uma nova crise entre os peronistas, colocando mais uma vez a ala kirchnerista, comandada pela vice-presidente, Cristina Kirchner, em rota de colisão com o bloco liderado pelo presidente argentino, Alberto Fernández.

O pacto, referente a uma dívida de US$ 44,5 bilhões contraída pela Argentina em 2018, prevê o refinanciamento por meio de um "programa de facilidades estendidas" durante os próximos dois anos e meio. O acordo exige que a Argentina reduza seu déficit a zero até 2025 e faça grandes cortes nos subsídios do governo à energia.

Insatisfeito, na segunda-feira, o deputado Máximo Kirchner, filho de Cristina e do ex-presidente argentino Néstor Kirchner, renunciou à liderança do bloco governista na Câmara dos Deputados. "Esta decisão decorre de eu não compartilhar da estratégia utilizada e muito menos dos resultados obtidos com a negociação com o FMI", afirmou o deputado.

Para Máximo, seria "irracional e desumano" sinalizar e propor correções aos "erros e abusos" do FMI. "Talvez seu nome deve ser Força Monetária Internacional. Como vejo que eles estão sempre interessados em despesas, eles poderiam economizar em economistas caros, pois para fazer o que fazem, é suficiente apenas gente que sabe pressionar, prometendo o inferno se o que eles querem não for feito."

A decisão de Máximo aumenta a incerteza dentro da coalizão governista, formada nas eleições de 2019, em razão das diferenças entre o kirchnerismo - a ala mais esquerdista - e o restante do peronismo, liderado por Fernández, mais moderado. As duas facções já tinham entrado em conflito alguns meses atrás, após a derrota do governo nas primárias legislativas.

Risco alto

A renúncia de Máximo coloca em risco o próprio acordo, que precisa ser aprovado no Congresso. "A decisão representa um golpe significativo no acordo, especialmente porque muitas das questões mais desafiadoras ainda precisam ser negociadas", alertou o analista econômico Daniel Kerner, diretor para a América Latina da consultoria Eurasia. "Os deputados terão de aprová-lo, mas um partido governista dividido terá muita dificuldade para encontrar os votos necessários."

Pouco após saber da renúncia de Máximo, Fernández deu uma entrevista ao canal C5N. "Na quarta-feira passada, falei com Máximo. Ele mencionou suas divergências. Hoje, ele me ligou e disse que tinha tomado esta decisão. Eu disse que não era necessário", afirmou o presidente. "Ele me disse que Cristina não concordava com a renúncia. Ela tem suas nuances em relação ao FMI, mas o presidente sou eu. Tenho certeza de que seguimos no melhor caminho."

O kirchnerismo é, desde o início do governo Fernández, a ala do Executivo peronista com o discurso mais duro contra o FMI. Alguns membros do grupo criticaram a negociação. "Esse acordo não é um benefício. É para entregar o país" escreveu a ex-deputada kirchnerista Fernanda Vallejos no Twitter.

"Vamos chamar a atenção para os perigos e riscos que o acordo tem", afirmou o deputado Leopoldo Moreau, que pretende colocar em discussão mudanças no texto assinado pelo governo. "Espero que esse alerta sirva para que, quando os memorandos de entendimento definitivos forem assinados, algumas questões sejam removidas."

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