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Área infestada de cascavéis é solução para falta de terras

Agricultores brasileiros estão testando os limites do clima e da tecnologia, empurrando a fronteira de cultivo do país para regiões cada vez mais inóspitas


	Fazenda no Brasil: quarto maior exportador agrícola do mundo está esgotando suas terras para plantio
 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Fazenda no Brasil: quarto maior exportador agrícola do mundo está esgotando suas terras para plantio (Paulo Fridman/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2013 às 00h00.

Brasília - Sobre um planalto no estado do Piauí, no nordeste do Brasil, Luciano Curioni inspeciona espigas de milho murchas enquanto a areia rodopia por toda sua fazenda infestada de cascavéis e sem água, eletricidade ou telefone.

Agricultores como Curioni estão testando os limites do clima e da tecnologia, empurrando a fronteira de cultivo do país para regiões cada vez mais inóspitas já que o quarto maior exportador agrícola do mundo está esgotando suas terras para plantio. Empresas que fornecem soluções, como Deere Co., Monsanto Co. e Bayer AG, têm a ganhar.

Incapazes de bancar uma área para cultivo no cinturão de grãos no oeste, onde sua família plantou durante décadas, Curioni investiu R$ 3,5 milhões (US$ 1,6 milhão) dois anos atrás para limpar 2.000 hectares, o equivalente a 2.801 campos de futebol americano, de cerrado virgem perto da cidade de Bom Jesus. A seca deste ano o deixou devendo R$ 1,3 milhão e quase o levou à falência.

“Eu estava quase desistindo, mas outros ganharam dinheiro aqui, então eu vou tentar mais uma vez -- eu vou rezar mais do que o normal na próxima temporada”, disse Curioni, esquivando buracos profundos enquanto o limpador tirava a poeira do para-brisa de sua velha caminhonete. “A terra aqui é barata, mas os custos operacionais são elevados, a logística é deficiente e as chuvas são, bom, incertas”.

Impulsionados pelo aumento da demanda mundial de alimentos, por leis ambientais mais rigorosas e pela expansão das áreas protegidas, os preços das terras cultiváveis subiram até sete vezes em algumas regiões ao longo da última década.

Isso é mais de quatro vezes o retorno das ações da Petrobrás SA, a maior empresa do país em valor de mercado. O Índice de Preços de Alimentos das Nações Unidas, que é formado pelos preços de 55 commodities agrícolas, tinha em agosto perto do dobro do nível de uma década atrás.

Exportações agrícolas

O Brasil, que responde por cerca de oito em cada 10 litros de suco de laranja entregues em todo o mundo, mais do que quadruplicou suas exportações agrícolas para US$ 83,4 bilhões no ano passado, de acordo com o Ministério da Agricultura.


“Tecnologia e gerenciamento, e não terra, são o futuro”, disse o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues por telefone, de São Paulo. “O custo em regiões tradicionais de cultivo torna a expansão inviável e está empurrando as fronteiras para os seus limites”.

“O mapa agrícola do Brasil será redesenhado” como resultado do aumento dos preços da terra e da busca por maior produtividade e retornos, disse José Vicente Ferraz, sócio da empresa de consultoria Informa Economics FNP, com sede em São Paulo, que estuda o mercado imobiliário agrícola há duas décadas.

Monoculturas como soja e milho, que exigem grandes extensões de terra para ganhar economia de escala, se estabelecerão nas planícies do centro-oeste e no norte, enquanto uma horticultura de maior valor agregado, como maçãs e outras frutas, se concentrarão no sul e no sudoeste, onde a propriedade da terra é mais fragmentada, disse Ferraz.

Atualmente, o Brasil tem 72 milhões de hectares de terras para agricultura e 170 milhões de hectares de pastagem em seu território de 850 milhões de hectares, de acordo com estimativas de Rodrigues. O que resta para reivindicar são 15 milhões de hectares em lugares com clima mais adverso, baixa fertilidade e que exigem tecnologia mais avançada para serem rentáveis, como o Mapitoba, área que tem esse nome porque abrange partes de quatro estados -- Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. É a última fronteira agrícola do Brasil e inclui a fazenda de Curioni.

Enquanto Curioni dirige seu Chevy de Bom Jesus até sua fazenda, ele dá mais números. Ele evitou a falência neste ano após o prefeito da cidade declarar estado de emergência por causa da seca, obrigando o banco a renegociar sua dívida.

Durante anos de boas chuvas, seus vizinhos conseguiram colher até 60 sacas de soja por hectare, rendimento semelhante ao de algumas das regiões mais produtivas do país. Cada saca pesa 60 quilos.

Com 50 sacas por hectare no preço atual Curioni diz que poderia ter receita líquida de mais de R$ 1 milhão.

“Uma boa colheita e estou de volta no jogo”, diz ele.

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