Mundo

Arafat perdura como herói palestino, 10 anos após sua morte

Yasser Arafat continua um símbolo para um povo que ainda aguarda um Estado, 10 anos após a morte de seu herói


	Família palestina acende velas em frente a retrato do líder da Autoridade Palestina Yasser Arafat
 (Hazem Bader/AFP)

Família palestina acende velas em frente a retrato do líder da Autoridade Palestina Yasser Arafat (Hazem Bader/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2014 às 11h42.

Ramallah - Yasser Arafat, lutador incansável pela independência dos palestinos durante décadas, continua um símbolo para um povo que ainda aguarda um Estado, 10 anos após a morte de seu herói nacional.

Quando morreu, em 11 de novembro de 2004, era o presidente de uma Autoridade Palestina agonizante. Dez anos mais tarde, seu sucessor, Mahmud Abbas, conseguiu na ONU o status de Estado observador.

Mas na prática, 66 anos após a criação de Israel, os palestinos ainda não têm um Estado.

Sem o reconhecimento internacional para o Estado almejado, Arafat continua sendo para os palestinos um "símbolo nacional, alguém que nunca abdicou e dedicou sua vida à causa", explica Nathan Brown, do Centro Carnegie.

Ele enfrentou Israel até o fim da vida, cercado em seu quartel-general de Ramallah. Por isto, "a causa palestina se identifica com sua pessoa", afirma Karim Bitar, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).

"Sua vitória foi ter conseguido que a Palestina passasse de uma causa humanitária a uma verdadeira questão nacional", destaca Xavier Abu Eid, porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fundada e dirigida por Arafat até sua morte.

Um ramo de oliveira e um fuzil

Em 1974, Arafat disse na ONU: "Vim com um ramo de oliveira e um fuzil de revolucionário, não deixem que o ramo caia da minha mão".

Mas depois ele acabou optando por uma solução diplomática, com o início de um árduo processo de paz, paralisado desde o ano 2000.

Considerado um "terrorista" pelos israelenses, expulso da Jordânia em 1970 e do Líbano em 1982, Arafat encarnou um líder que luta por um Estado, sem nunca tirar a roupa militar e o tradicional keffiyeh.

"Arafat foi o primeiro que tomou a dolorosa decisão de reconhecer em 1988 as fronteiras de 1967, que abandonam 78% da Palestina histórica, e abriu o caminho para a coexistência", recorda Abu Eid.

Em 1993 ele decidiu assinar os acordos de Oslo, que durante algum tempo representaram a possibilidade de um Estado palestino. Com o aperto de mãos histórico na Casa Branca com o primeiro-ministro israelense Yitzhac Rabin acabou com 27 anos de exílio e assumiu o comando da Autoridade Palestina.

Mas, segundo Bitar, para retornar à Palestina "fez muitas concessões, sem garantias sobre o fim da colonização nem da ocupação".

Dez anos depois da morte, os palestinos ainda tentam obter um Estado. Eles pretendem levar uma votação à ONU sobre o fim da ocupação em um prazo de dois anos, um projeto que pode ser barrado por mais um veto dos Estados Unidos.

"Mártir" da causa

O povo fica com a imagem de que, apesar de todos os erros - afirma Abu Eid —, levou a mensagem aos acampamentos de refugiados de todo o planeta.

Este "personagem de romance", que criou a própria lenda, sabia jogar com as palavras. Durante a segunda Intifada, elogiou a "resistência", atraindo para o seu lado um movimento que não havia planejado ou criado.

A mobilização das massas foi seu ponto forte até a morte. Quando seu corpo foi repatriado, milhares de palestinos compareceram a Ramallah para prestar homenagem.

Em 2004, Arafat se tornou um "mártir" da causa ao morrer em circunstâncias que ainda estão sendo investigadas: as mostras revelam a possibilidade de envenenamento.

Na opinião de Bitar, Abu Ammar, seu nome de guerra, era um "revolucionário e não um homem de Estado, exercia um poder pessoa e não soube construir instituições e planejar o futuro".

Após sua morte, Abbas tenta, com dificuldades, impor sua liderança, tanto aos israelenses como aos palestinos, que além da ocupação sofrem com as divisões entre o Fatah, do qual é líder, e o Hamas, movimento islamista que resiste a entregar o poder na Faixa de Gaza.

O Hamas expulsou o Fatah de Gaza em 2007 e reconciliação aconteceu há apenas poucos meses.

Acompanhe tudo sobre:Autoridade PalestinaConflito árabe-israelenseIsraelMortesPalestina

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado