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Arábia Saudita paralisa aproximação diplomática com Israel e se volta para o Irã

Decisão revela como o atentado terrorista sem precedentes do Hamas e a resposta de Israel em Gaza impactaram o jogo político no Oriente Médio

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, governante de facto do país, manteve uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, em um movimento para conter o risco de que o conflito se espalhe pela região (Bandar Algaloud/Courtesy of Saudi Royal Court/Reuters)

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, governante de facto do país, manteve uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, em um movimento para conter o risco de que o conflito se espalhe pela região (Bandar Algaloud/Courtesy of Saudi Royal Court/Reuters)

Agência o Globo
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Publicado em 13 de outubro de 2023 às 20h03.

A Arábia Saudita decidiu paralisar as conversas diplomáticas para normalização das relações com Israel, parte de um esforço do governo americano de mudar o equilíbrio de forças no Oriente Médio, de acordo com a Bloomberg.

Antes dos ataques terroristas do Hamas no último sábado, autoridades israelenses e sauditas davam sinais de que um acordo era iminente, semelhante ao que reatou as relações entre Israel e dois outros Estados da região — Emirados Árabes Unidos e Bahrein, há três anos. A decisão é um duro golpe para a diplomacia do governo do presidente dos EUA, Joe Biden.

Desde sábado, analistas previam que a escalada sem precedentes do conflito entre o Hamas e Israel iria atingir duramente os esforços diplomáticos com os sauditas. A confirmação veio nesta sexta-feira, horas depois do secretário de Estado americano, Antony Blinken, manter reuniões na Jordânia, com o rei jordaniano, Abdullah II, e com o presidente da Autoridade Nacional Palestina [ANP], Mahmoud Abbas, representante reconhecido pela ONU da população palestina e que perdeu o controle da Faixa de Gaza para o Hamas, em 2007.

De acordo com o jornal israelense Haaretz, ao mesmo tempo, a elevação das tensões regionais com a gravidade do conflito também levou o reino a uma aproximação com o Irã. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, governante de facto do país, manteve uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, em um movimento para conter o risco de que o conflito se espalhe pela região. Há o temor cada vez mais palpável de que uma escalada da resposta israelense, com invasão por terra a Gaza arraste para uma guerra outros inimigos históricos de Israel, incluindo Teerã e o grupo fundamentalista islâmico libanês Hezbollah.

O telefonema foi o primeiro diálogo entre os líderes iraniano e saudita desde a aproximação de março, medida pela China, quando reataram relações diplomáticas interrompidas havia 7 anos. De acordo com a agência de notícias SPA, o príncipe Mohammed disse a Raisi que Riad "se comunica com todas as partes internacionais e regionais para deter a atual escalada" e destacou "a posição firme do reino de apoio à causa palestina". A agência estatal iraniana Irna também publicou o teor da conversa, apontando que os dois líderes discutiram "a necessidade de acabar com os crimes de guerra contra a Palestina".

'Pausa'

Fontes ouvidas pela Bloomberg sob anonimato disseram que autoridades sauditas comunicaram Washington sobre a decisão nos últimos dias. Eles descreveram o movimento como “pausa” e não cmo “o fim” das negociações. Um funcionário do governo americano disse a Bloomberg, também sob anonimato, que o governo dos EUA segue em contato com os sauditas e que não foi informado sobre a decisão de congelar as conversas.

Na quinta, em Tel Aviv, Blinken afirmou que pretendia manter contato com autoridades sauditas até o fim da viagem pela região e mencionou os esforços de normalização. O secretário de Estado pretende fazer uma parada em Riad, para conversas com os aliados.

Em um comunicado, o Departamento de Estado dos EUA declarou que o governo está focado em apoiar Israel, mas segue comprometido com os esforços por um Oriente Médio mais estável. O porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, John Kirby, disse que não tinha nada para confirmar, mas disse que o avanço da diplomacia dependia de israelenses e sauditas.

- Entendemos que a normalização é sobre decisões soberanas que estas nações tem que tomas por si mesmas – dizze Kirby, completando que – não cabe aos EUA ditar isso a eles.

A decisão saudita é simbólica da velocidade como os ataques terroristas sem precedentes do Hamas e a resposta de Israel alteraram o jogo político no Oriente Médio, ameaçando os esforços americanos de aproximar Israel de países árabes e contrapor a influência de Teerã.

Nesta sexta, o ministro iraniano de Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, disse que os Estados Unidos "devem controlar Israel" se quiserem evitar uma guerra regional. Abdollahian falou durante uma visita ao Líbano, onde se reuniu com o líder do movimento xiita libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah. O Hezbollah, que é apoiado por Teerã, afirmou que está "totalmente preparado" para se unir ao Hamas no conflito contra Israel no momento propício. Também nesta sexta-feira, Israel bombardeou o sul do Líbano como resposta a uma "tentativa de invasão" do Estado Judeu pelo norte, de acordo com autoridades em Jerusalém.

— Os EUA querem permitir a Israel destruir Gaza, e é um grave erro. Se os americanos querem evitar que a guerra se estenda por toda a região, devem controlar Israel — indicou o chanceler em Beirute. — Se não detiverem os crimes israelenses, não sabemos o que pode acontecer

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