Seca provocada pelo El Niño na Colômbia: o aquecimento global pode contribuir para que o fenômeno ocorra mais frequentemente (Eitan Abramovich/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2015 às 16h24.
São Paulo - Os impactos do aquecimento global na agricultura tendem a ser mais frequentes nos próximos anos.
O climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Gilvan Sampaio disse ao Broadcast Agro que o avanço do aquecimento global ao longo do século 21 tende a aumentar a frequência com que o fenômeno El Niño ocorre.
Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) compilados pelo pesquisador, até 2100 o aumento da temperatura média do planeta pode variar de 1 grau a até 3,7 graus Celsius, o que poderia acarretar a elevação da temperatura e do nível dos oceanos (pelo derretimento do gelo polar), influenciando também a ocorrência do fenômeno climático.
As projeções do IPCC consideram diversos cenários de emissões de gases de efeito estufa para as próximas décadas, nos quais o aumento da temperatura média do planeta pode ser maior ou menor.
"O aquecimento global pode contribuir para que o El Niño ocorra mais frequentemente. Até o fim do século 21, existe a possibilidade ele passar a ocorrer todos os anos", afirmou Sampaio.
O padrão de chuvas previsto para o planeta nas próximas décadas, também associado ao aumento da temperatura média do planeta, é semelhante ao de precipitações verificado em anos de El Niño, segundo o climatologista.
Caso a previsão se confirme, o que era considerado até então um fenômeno periódico pode se tornar um novo padrão climático.
De momento, porém, ainda não é possível identificar se o El Niño ficará mais intenso nos próximos anos.
O El Niño se caracteriza pelo aquecimento acima da média das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical (próximo à linha do Equador).
Isso provoca mudanças nas correntes oceânicas e maior formação de nuvens na região equatorial.
O fenômeno provoca alterações no clima em todo o planeta, com a ocorrência de mais precipitações em algumas regiões e seca em outras.
Desde que foi identificado por cientistas, no fim do século 19, o fenômeno vem ocorrendo com frequência pouco regular, que varia de três a sete anos.
Até hoje, não foi identificada a causa exata da periodicidade do aumento da temperatura do oceano, que provoca o El Niño, diz Sampaio.
No Brasil, de forma geral, os principais impactos do El Niño são verificados nos períodos de junho a agosto e de dezembro a fevereiro.
Entre junho e agosto, observa-se temperaturas mais altas em todo o Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil e elevação nas precipitações no extremo sul do País.
Já de dezembro a fevereiro, ocorre o aumento das chuvas no Sul, clima mais quente no Sudeste e Centro-Oeste e mais seco no Nordeste.
Nos próximos seis meses, segundo Sampaio, o El Niño deve persistir, dando sequência ao excesso de chuvas nos Estados do Sul, déficit de precipitações no Norte, leste da Amazônia e norte da região Nordeste e temperaturas altas em todo o Brasil.
A temperatura do Oceano Pacífico equatorial, que em julho deste ano estava 1,7ºC acima da média histórica para a região e em dezembro já chega a quase 3º C acima da média, deve voltar ao patamar normal por volta de junho de 2016, segundo o pesquisador, colocando fim a este El Niño.
Não há nenhuma previsão, até agora, de que após o término do fenômeno venha a ocorrer a La Niña - esfriamento anormal das águas do Pacífico, que provoca temperaturas abaixo da média no Sul e Sudeste e maior precipitação em parte do Norte e do Nordeste do País entre dezembro e janeiro e tempo mais seco no Sul em junho, julho e agosto.