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Após se entregar à Justiça, Trump ataca promotores em discurso

Republicano disse que as investigações são uma perseguição liderada pelos democratas; entenda

Donald Trump durante discurso: ex-presidente também atacou juiz que supervisiona o processo (Eva Marie Uzcategui/Bloomberg/Getty Images)

Donald Trump durante discurso: ex-presidente também atacou juiz que supervisiona o processo (Eva Marie Uzcategui/Bloomberg/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 5 de abril de 2023 às 08h29.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump criticou nesta terça-feira, 4, as investigações contra ele e atacou o promotor Alvin Bragg, responsável pelo processo no qual ele é acusado de subornar a atriz pornô Stormy Daniels.

Durante um discurso feito em Mar-a-Lago, seu resort na Flórida, após retornar de Nova York o republicano disse que as investigações são uma perseguição liderada pelos democratas e chamou Bragg de "radical de esquerda" e "financiado por George Soros".

Os promotores responsáveis por outras investigações contra ele, em especial Jack Smith, que investiga o caso dos documentos secretos, também foram atacados durante o discurso. Trump foi orientado pelo juiz de Nova York para ser cauteloso, mas manteve a retórica agressiva que o caracteriza.

Como foi o discurso de Trump?

O discurso do republicano durou menos de 30 minutos, muito inferior ao tempo que ele costuma dedicar a esse tipo de evento, e pouco se ateve ao processo de Nova York. Ele se disse inocente e dedicou o restante do tempo a repetir uma série de queixas contra os democratas, como a busca e apreensão em Mar-a-Lago no ano passado e a investigação sobre se sua campanha de 2016 conspirou com os russos. "O único crime que cometi foi defender com coragem nossa nação daqueles que procuram destruí-la", declarou.

Ele disse que as acusações contra ele em Nova York fazem parte da "perseguição" liderada pelos democratas para destruí-lo e que "nunca pensou que algo assim pudesse acontecer nos EUA". Diante dos apoiadores, ele também repetiu acusações de fraude nas eleições presidenciais de 2020, no qual foi derrotado por Joe Biden.

As alegações do ex-presidente também atacaram o juiz Juan Merchan, que supervisiona o processo sobre o pagamento do suborno. "Tenho um juiz que odeia Trump com uma esposa e família que odeia Trump", disse, na tentativa de tirar a credibilidade o juiz responsável pelo seu caso e aumentar as suspeitas de perseguição que ele diz sofrer.

Trump também aproveitou o discurso para se antecipar a novas acusações possíveis, como a da Geórgia, que investiga a ação dele e dos aliados para anular os resultados das eleições no Estado. Segundo o Washington Post, espera-se que o promotor do caso, Fani Willis, apresente o resultado da investigação nas próximas semanas.

Entenda as acusações

O magnata vai responder a 34 acusações pelo crime de falsificação de registros financeiros na Justiça de Nova York. O objetivo de Trump ao cometer essa fraude, segundo os procuradores, seria esconder ao menos três de seus casos extraconjugais do público, antes da eleição americana de 2016, por meio do suborno das pessoas envolvidas.

O número de acusações equivale ao número de indícios de pagamentos não contabilizados encontrados pelos promotores nas contas de Trump e suas empresas. Com isso, ele se tornou o primeiro ex-presidente da história americana a virar réu.

Entre as pessoas que receberam dinheiro não declarado de auxiliares do presidente, estão, além da atriz pornô Stormy Daniels, a ex-modelo da Playboy Karen McDougal e um porteiro da Trump Tower que dizia ter provas de que o republicano teve um filho fora do casamento.

Segundo a promotoria, Stormy Daniels recebeu US$ 130 mil (R$ 659 mil) de Michael Cohen, advogado de Trump. McDougal ganhou US$ 150 mil (R$ 761 mil) da revista National Enquirer, uma publicação próxima ao ex-presidente, numa prática conhecida da imprensa sensacionalista de pagar pela exclusividade de uma história e não divulgá-la. O mesmo ocorreu com o porteiro, que teria levado US$ 30 mil da publicação (R$ 152 mil).

Outros processos

As acusações de falsificação de registros financeiros, no entanto, podem não ser o mais prejudicial frente a outros três que enfrenta, tanto legal quanto politicamente.

Por um lado, alguns especialistas jurídicos veem o caso de Manhattan com ceticismo. A analogia mais próxima disso pode ser o julgamento de 2012 de John Edwards, o ex-candidato presidencial democrata, acusado de violar a lei de financiamento de campanha ao ocultar pagamentos para encobrir um caso extraconjugal.

Os jurados absolveram Edwards de uma acusação e chegaram a um impasse nas outras, um lembrete de que muitas pessoas se sentem desconfortáveis em criminalizar escândalos que giram em torno de sexo consensual.

O impacto político dos escândalos sexuais é igualmente questionável. Trump tem uma longa história pública de trair suas esposas, como qualquer leitor dos tabloides de Nova York sabe.

Isso não o impediu de ser eleito presidente mais do que a reputação de infidelidade de Bill Clinton o impediu de vencer em 1992. Clinton também mentiu sobre um caso enquanto era presidente - sob juramento, nada menos - mas muitos americanos, no entanto, acreditavam que ele deveria permanecer no cargo.

Duas das outras três investigações sobre Trump são um pouco diferentes. Elas são sobre democracia, não sexo, e já há motivos para acreditar que elas são mais ameaçadoras politicamente para ele.

A primeira é uma investigação federal sobre os esforços de Trump para anular a eleição de 2020, incluindo seu papel no ataque de 6 de janeiro ao Capitólio. A segunda está relacionada à Geórgia.

Há ainda o caso envolvendo o manuseio de documentos confidenciais. O ex-presidente pegou centenas de documentos confidenciais da Casa Branca e repetidamente resistiu a devolver muitos deles. As acusações podem incluir obstrução da Justiça por desafiar uma intimação. Smith também está supervisionando esta investigação, e o momento de uma resolução permanece desconhecido.

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