Agência de notícias
Publicado em 25 de julho de 2025 às 13h58.
O presidente americano, Donald Trump, disse nesta sexta-feira que o Hamas não queria um acordo de cessar-fogo em Gaza, mas sim "morrer". As declarações foram feitas depois que Israel e Estados Unidos abandonaram as negociações indiretas com o grupo extremista palestino, e enquanto a pressão internacional se intensifica para pôr fim a quase dois anos de uma guerra devastadora.
— Foi uma pena. O Hamas não queria realmente chegar a um acordo. Acho que eles querem morrer — afirmou Trump. — Agora estamos nos últimos reféns, e eles sabem o que acontece depois que você resgata os últimos reféns. E basicamente por causa disso, eles realmente não queriam chegar a um acordo.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou nesta sexta-feira que o Hamas constitui um “obstáculo” para um acordo de libertação dos reféns mantidos na Faixa de Gaza.
“O enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, acertou. O Hamas é o obstáculo para um acordo de libertação dos reféns”, declarou em um comunicado. “Em colaboração com nossos aliados americanos, estamos atualmente estudando outras opções para trazer de volta nossos reféns, pôr fim ao regime terrorista do Hamas e garantir uma paz duradoura para Israel e nossa região."
Na véspera, Witkoff, que justificou a retirada das negociações acusando o Hamas de não "agir de boa-fé", já havia antipado que agora os EUA “considerará opções alternativas" para levar os reféns remanescentes de volta para casa e "tentar criar um ambiente mais estável para o povo de Gaza".
Não ficou claro, porém, quais "opções alternativas" os EUA estavam considerando. A Casa Branca não comentou de imediato, e o Departamento de Estado não respondeu as mensagens enviadas.
"Decidimos trazer nossa equipe de volta de Doha para consultas após a última resposta do Hamas, que mostra claramente uma falta de vontade de chegar a um cessar-fogo em Gaza”, postou Witkoff nas redes sociais, na quinta-feira. “Embora os mediadores tenham feito um grande esforço, o Hamas não parece estar coordenado ou agindo de boa-fé. É uma pena que o Hamas tenha agido de forma tão egoísta."
Nesta sexta-feira, um representante do Hamas acusou o enviado especial dos EUA de distorcer a realidade.
— As declarações negativas do enviado dos EUA, Witkoff, vão totalmente contra o contexto em que as últimas negociações foram realizadas, e ele está perfeitamente ciente disso, mas elas servem à posição israelense — disse Bassem Naim, membro do escritório político do Hamas, em entrevista à AFP.
Mediadores vinham se desdobrando entre as delegações israelense e do Hamas no Catar há mais de duas semanas, mas as negociações indiretas até o momento não resultaram em uma trégua. Enquanto isso, a preocupação internacional com a situação de mais de dois milhões de palestinos na Faixa de Gaza está crescendo, onde os combates desencadearam uma grave crise humanitária e alertas de que a fome maciça estava se espalhando.
Na quarta-feira, o Hamas apresentou sua resposta aos mediadores sobre a mais recente proposta de cessar-fogo, mas o Gabinete de Netanyahu informou que os negociadores israelenses estavam sendo chamados de volta para consultas. Posteriormente, ele indicou que Israel não estava se retirando, pedindo ao Hamas que não interpretasse mal seu compromisso com uma trégua.
— Estamos trabalhando para chegar a outro acordo para a libertação de nossos reféns — disse Netanyahu em um discurso. — Mas se o Hamas interpreta nossa disposição de chegar a um acordo como uma fraqueza, como uma oportunidade para ditar termos de rendição que colocariam o Estado de Israel em perigo, está gravemente enganado.
Uma fonte palestina familiarizada com as negociações disse à AFP anteriormente que a resposta do Hamas incluía propostas de emendas às cláusulas sobre a entrada de ajuda, mapas das áreas das quais o Exército israelense deveria se retirar e garantias para o fim permanente da guerra.
Ao longo de 21 meses de combates, ambos os lados se agarraram a posições de longa data, impedindo que duas tréguas de curta duração se convertessem em um cessar-fogo duradouro. As negociações em Doha começaram em 6 de julho para tentar chegar a um acordo sobre uma trégua que também previsse a libertação de reféns israelenses.
Dos 251 reféns feitos durante o ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, que desencadeou a guerra, 49 ainda estão detidos em Gaza, incluindo 27 que, segundo o Exército israelense, estão mortos. Mas as negociações se arrastaram sem nenhum avanço, com cada lado culpando o outro por se recusar a ceder em suas principais demandas.
Para Israel, desmantelar as capacidades militares e de governo do Hamas é inegociável, enquanto o Hamas exige garantias firmes de uma trégua duradoura, a retirada total das tropas israelenses e o livre fluxo de ajuda para Gaza.
Israel rejeitou as acusações de que é responsável pelo agravamento da crise alimentar em Gaza, que a Organização Mundial da Saúde classificou como “provocada pelo homem” e que a França atribuiu ao “bloqueio” israelense. Em vez disso, acusa o Hamas de impedir a distribuição de suprimentos e de saquear ajuda para si ou para vender a preços inflacionados, além de atirar em pessoas em busca de esmolas.
Organizações de notícias internacionais, incluindo a AFP, instaram Israel a permitir a entrada e saída de jornalistas de Gaza, com a preocupação de que a falta de alimentos esteja colocando suas vidas em risco. Israel afirma que está permitindo a entrada de ajuda no território palestino, mas que as agências internacionais de ajuda humanitária não estão conseguindo buscá-la para distribuição.
O Cogat, órgão do Ministério da Defesa israelense que supervisiona os assuntos civis nos territórios palestinos, informou na quinta-feira que cerca de 70 caminhões de alimentos foram descarregados em postos de socorro no dia anterior, e mais de 150 foram recolhidos pela ONU e organizações internacionais do lado de Gaza, mas mais de 800 ainda aguardavam coleta.
Agências humanitárias afirmaram que as permissões de Israel ainda são limitadas e que a coordenação para mover caminhões com segurança para onde são necessários é um grande desafio em uma zona de guerra ativa.
A campanha militar de Israel em Gaza matou 59.587 palestinos, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas. O ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023 resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.