Avdiivka é uma cidade que foi conquistada recentemente pelo Exército russo, após meses de resistência ucraniana (Anadolu Agency/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 10h30.
Quando recebeu a notícia de que um míssil russo havia atingido a maternidade do hospital em que trabalhava, a ucraniana Olena Obodets correu para o local.
O ataque da semana passada contra o hospital de Selydove, na região leste da Ucrânia, matou uma mulher grávida de 36 anos, além de uma mãe e seu filho de 9 anos.
Poucos dias depois, Olena relata à AFP, sem conter as lágrimas, a retirada frenética de dezenas de pacientes de um hospital em chamas.
Selydove fica 30 km ao leste de Avdiivka, uma cidade que foi conquistada recentemente pelo Exército russo, após meses de resistência ucraniana.
O revés aumentou a angústia entre os habitantes da região.
"Ouço muitas pessoas na cidade falando sobre se vão abandonar ou não", explica Olena, 42 anos, enquanto o cheiro de concreto carbonizado paira no ar, misturado ao barulho da artilharia distante. "As pessoas estão com medo. Minha filha pede todos os dias para deixarmos a cidade, mas eu digo que o momento ainda não chegou", acrescenta.
Com a aproximação dos combates, a polícia enfrenta a difícil tarefa de retirar os civis de uma área cada vez mais perigosa.
Os ataques e avanços russos convenceram as pessoas a deixar a região, segundo Oleksandra Gavrilko, porta-voz da polícia regional. "Agora retiramos com mais frequência civis mortos. Transportamos os corpos para que seus familiares possam enterrá-los", explica à AFP.
Uma mãe aterrorizada retira alguns de seus pertences de um apartamento atingido pelos ataques, mas não tem a intenção de abandonar a cidade. Sua filha, no entanto, afirma que deseja partir.
A promotora Olena Osadcha, 40 anos, já fugiu da cidade de Donetsk, que foi conquistada por militantes pró-Rússia em 2014. As autoridades deram a opção de que prosseguisse com seu trabalho na cidade de Dnipro, mais ao oeste.
"Nós vamos partir, mas ainda não sabemos para onde. Não quero ir para Dnipro. Lá também não é seguro", disse.
O diretor do hospital em ruínas, Oleg Kiyashko, de 46 anos, disse que, após os últimos ataques, quase 20 dos 350 funcionários que seguiam trabalhando informaram que desejam abandonar a cidade.
"Nós estamos pensando para onde seria melhor ir. Mas se a situação exige que estejamos aqui hoje, então estamos aqui. Não vou a lugar nenhum por enquanto", disse Kiyashko.
A poucos quilômetros de Avdiivka, perto da localidade de Progress, as tropas ucranianas estão cavando novas linhas de defesa.
A última loja da cidade ainda está aberta, apesar dos bombardeios que destruíram as vitrines. Um funcionário e o proprietário se perguntam por quanto tempo conseguirão manter o negócio aberto diante da intensificação dos bombardeios e da fuga da população.
"Quando as coisas ficarem realmente ruins, ninguém ficará aqui. Ninguém comprará comida", declarou Dmitro Dimitrov, dono da loja.
Viktor, um aposentado de 66 anos, pendura garrafas de água pode em sua bicicleta. Ele tenta ignorar os disparos de artilharia, mas admite que são cada vez mais fortes e frequentes.
"Meus vizinhos foram para Dnipro, mas eu não tenho para onde ir", afirma.
Oleksandra Gavrilko, porta-voz da polícia, explica que os idosos, como Viktor, são os mais difíceis de convencer a deixar a região.
"Querem morrer em sua terra", afirma.