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Após pressão, EUA limitam visita à Groenlândia e Dinamarca comemora mudança de planos

Inicialmente, o itinerário incluía a participação da esposa do vice americano, Usha Vance, em uma tradicional corrida de trenós puxados por cães, mas a Casa Branca recuou

Segunda-dama Usha Vance e o vice president J.D. Vance participate in a departure ceremony for former U.S. President Joe Biden at the U.S. Capitol on January 20, 2025 in Washington, DC. Donald Trump takes office for his second term as the 47th president of the United States. (Photo by Chris Kleponis - Pool/Getty Images) (Chris Kleponis - Pool/Getty Images)

Segunda-dama Usha Vance e o vice president J.D. Vance participate in a departure ceremony for former U.S. President Joe Biden at the U.S. Capitol on January 20, 2025 in Washington, DC. Donald Trump takes office for his second term as the 47th president of the United States. (Photo by Chris Kleponis - Pool/Getty Images) (Chris Kleponis - Pool/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 26 de março de 2025 às 11h17.

Última atualização em 26 de março de 2025 às 11h18.

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O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, celebrou nesta quarta-feira, 26, a decisão dos Estados Unidos de restringir a visita de sua delegação à Groenlândia — território autônomo dinamarquês cobiçado por Donald Trump — exclusivamente à base militar de Pituffik, após pressão de autoridades dinamarquesas e groenlandesas. Antes da mudança de planos, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, classificou como uma “pressão inaceitável” a visita dos americanos, que chegarão na ilha na próxima sexta-feira.

"Considero muito positivo que os americanos tenham cancelado sua visita entre a sociedade groenlandesa. Visitarão apenas sua própria base, Pituffik, e não temos nada contra isso", afirmou Rasmussen à rádio pública DR.

Inicialmente, o itinerário incluía a participação da esposa do vice-presidente dos EUA, Usha Vance, em uma tradicional corrida de trenós puxados por cães, evento esportivo de grande relevância cultural na Groenlândia, programado para ocorrer na cidade de Sisimiut. No entanto, diante da pressão, a Casa Branca recuou, limitando a visita à base militar — mas elevou o tom ao escalar o próprio vice-presidente JD Vance para liderar a comitiva.

A visita da delegação americana, agora liderada por JD Vance, acontece em meio a um período de transição política na Groelândia, que aguarda a formação de um novo governo após as eleições legislativas realizadas em 11 de março. O governo interino já havia afirmado nas redes sociais que não "enviou nenhum convite [aos americanos] para visitas privadas nem oficiais".

A administração Trump, por sua vez, disse que a visita à base tem como foco “questões relacionadas à segurança do Ártico”. Em publicação na rede social X, JD Vance declarou que “apenas verificaria o que está acontecendo com a segurança lá na Groenlândia”.

Segundo Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, a visita tem como objetivo “construir parcerias que respeitem a autodeterminação da Groenlândia e promovam a cooperação econômica”.

"Os Estados Unidos têm um interesse de segurança investido na região do Ártico, e não deveria ser uma surpresa que o conselheiro de segurança nacional e o secretário de energia estejam visitando uma base espacial dos EUA para obter informações em primeira mão de nossos membros de serviço no solo. Também estamos confiantes de que esta visita apresenta uma oportunidade de construir parcerias que respeitem a autodeterminação da Groenlândia e promovam a cooperação econômica", declarou o porta-voz no início desta semana.

'Escalada nas tensões'

Para o comentarista político dinamarquês Lars Trier Mogensen, a decisão de enviar o próprio vice-presidente JD Vance, e não apenas autoridades de segundo escalão, representa uma "escalada nas tensões".

Cobiçada por Trump: Groenlândia classifica como 'interferência estrangeira' a visita de assessor de Trump e de esposa do vice americano
"Eles optam por dobrar isso, escalar maciçamente, na verdade, essa provocativa demonstração de força enviando JD Vance", disse Mogensen. "Na Dinamarca, as pessoas estão começando a ver isso como uma espécie de guerra híbrida".

A presença da delegação, que também inclui o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz — envolvido no escândalo do vazamento de planos de guerra dos EUA pelo Signal — e o secretário de Energia, Chris Wright, foi vista por autoridades locais como uma tentativa do governo Trump de avançar com seus interesses sobre a Groenlândia. O próprio presidente Donald Trump já havia manifestado publicamente o desejo de assumir o controle da ilha, rica em recursos minerais e com localização estratégica no Ártico.

Em janeiro deste ano, uma pesquisa encomendada por jornais dinamarqueses e groenlandeses mostrou que 85% da população da Groelândia rejeitam a ideia de se tornarem parte dos Estados Unidos.

"Se a visita a Nuuk foi cancelada, o governo Trump pode estar recuando evitando se impor à Groenlândia civil", avaliou Ulrik Pram Gad, pesquisador do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais. "Focar apenas na base militar traz a conversa de volta à segurança".

Base Espacial Pituffik

A Base Espacial Pituffik, localizada no extremo norte da Groenlândia, é uma instalação militar vital para o sistema de defesa antimísseis dos Estados Unidos. O acordo de 1951 entre os EUA e a Dinamarca garante aos americanos o direito de operar bases militares no território, desde que as autoridades dinamarquesas e groenlandesas sejam informadas.

Desde a década de 1950, os Estados Unidos mantêm presença militar na Groenlândia, especialmente na base de Pituffik. A ilha, com população de cerca de 57 mil habitantes — quase 90% de origem inuíte —, continua a reforçar sua autonomia. Desde 2009, o território administra seus próprios recursos naturais e sistema de Justiça, embora a Dinamarca, que governou o país como uma colônia até 1953, ainda detenha controle sobre defesa e política externa.

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