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Após Nobel da Paz, UE faz cúpula em clima de guerra

Apesar do prêmio, para muitos políticos, diplomatas, funcionários públicos e até jornalistas, a organização parece uma câmara de tortura


	 

	Cada vez mais, a Europa é governada à noite, por líderes num avançado estado de exaustão, desrespeitando evidências científicas de que isso pode levar a decisões ruins
 (Boris Roessler/AFP)

  Cada vez mais, a Europa é governada à noite, por líderes num avançado estado de exaustão, desrespeitando evidências científicas de que isso pode levar a decisões ruins (Boris Roessler/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2012 às 10h17.

Bruxelas - A União Europeia ganhou o Prêmio Nobel da Paz neste ano, mas, para muitos políticos, diplomatas, funcionários públicos e até jornalistas, a organização parece uma câmara de tortura.

Cada vez mais, a Europa é governada à noite, por líderes num avançado estado de exaustão, desrespeitando evidências científicas de que isso pode levar a decisões ruins, ou à indecisão.

Nos últimos três anos, a UE realizou 25 cúpulas para tentar resolver sua crise da dívida e os problemas econômicos dela decorrentes. Poucas vezes essas reuniões terminaram antes de 3h ou 4h da madrugada -- geralmente, após 12 horas ou mais de negociações quase infrutíferas.

Some-se a isso mais de 40 reuniões de ministros de Finanças --a última delas encerrada às 5h da quarta-feira, novamente sem acordo--, e é fácil entender como um conjunto de instituições criadas para promover a paz e a estabilidade na Europa pode acabar causando frustração, raiva e dor de cabeça.

"Digamos assim: acordei às 5h ou 5h30 ontem, e acabamos de manhã, por volta de 4h", queixou-se o premiê eslovaco, Robert Fico, depois da frustrante cúpula anterior, em outubro. "É assim que todos nós operamos, adotamos decisões muito sérias sob pressão", disse.

Na cúpula de quinta e sexta-feira desta semana, os líderes dos 27 países da UE buscarão um acordo sobre o orçamento comum do período de 2014-2020, num valor de cerca de 1 trilhão de euros (1,3 trilhão de dólares).


Promete ser um acirrado duelo entre interesses nacionais, ao invés do modelo de reconciliação e harmonia louvado pelo Comitê do Nobel.

Essas negociações orçamentárias acontecem a cada seis ou sete anos, e são notórias por envolverem debates agressivos que se prolongam até bem depois dos horários previstos.

Em 2005, o então premiê britânico, Tony Blair, disse que esse havia sido o embate mais duro do seu governo, mais até do que a negociação de paz da Irlanda do Norte, em 1998.

Funcionários da UE já alertam que a discussão pode se estender até sábado ou domingo, fazendo dela o que os diplomatas chamam no seu jargão de "cúpula de quatro camisas".

O Conselho Europeu, em Bruxelas, onde a cúpula será realizada, já avisou seus funcionários para ficarem de prontidão pelo menos no sábado. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente da França, François Hollande, cancelaram compromissos pelo resto da semana.

Os cerca de 1.500 jornalistas instalados no vasto saguão de vidro e aço também não têm hora para irem para casa.

O efeito disso para os mais de 500 milhões de cidadãos da UE não é nada edificante. "Não é exatamente glamouroso, e alguns dizem que é pura tortura", disse um diplomata da UE com pelo menos 30 cúpulas no currículo. "Todo mundo fica extremamente enfastiado."

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