Migrantes desembarcam no porto de Valencia em 17 de junho de 2018. (José Jordán/AFP)
Vanessa Barbosa
Publicado em 17 de junho de 2018 às 10h51.
Última atualização em 18 de junho de 2018 às 10h05.
Valência - Os 630 migrantes resgatados na semana passada pelo barco humanitário Aquarius, que está no centro da tensão na UE pela questão migratória, começaram a desembarcar neste domingo na Espanha após um longa viagem de uma semana pelo Mediterrâneo.
O primeiro navio com 274 migrantes, o Dattilo, da Guarda Costeira italiana, entrou no porto de Valencia às 4H30 GMT (1H30 de Brasília).
Quatro horas mais tarde, o próprio Aquarius, fretado pela ONG francesa SOS Méditerranée e pela Médicos Sem Fronteiras (MSF), chegou ao porto com 106 migrantes.
O último barco da flotilha, o italiano Orione, chegou por volta das 11H00 GMT (8H00 de Brasília), com os demais 250 migrantes, que foram recebidos na cidade espanhola por um amplo dispositivo de mais de 2.000 pessoas, entre voluntários da Cruz Vermelha, médicos, intérpretes e policiais.
Os migrantes celebraram a chegada ao porto espanhol, após uma viagem cansativa de 1.500 quilômetros pelo Mediterrâneo, em alguns momentos com tempo ruim.
Resgatados pelo Aquarius na madrugada de 9 para 10 de junho na costa da Líbia, o grupo inclui 450 homens adultos e 80 mulheres - pelo menos sete grávidas -, 11 crianças com menos de 13 anos e 89 adolescentes menores de idade.
São de 26 países, principalmente africanos.
Após a recusa do governo italiano — formado em parte por um partido de extrema-direita, a Liga — de permitir a entrada do Aquarius no país, o governo da Espanha, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, ofereceu Valencia para "evitar uma catástrofe humanitária"
Também foi um gesto "político" do Executivo espanhol, que deseja estimular uma resposta comum europeia para a migração.
"É o fim de uma viagem muito longa", afirmou o presidente da MSF Espanha, David Noguera, antes de celebrar a presença dos migrantes em "um local seguro".
As migrantes foram recebidas no porto de Valencia com uma faixa no porto com a frase "Bem-vindas a sua casa" em vários idiomas, incluindo árabe.
Após o primeiro exame médico, que revelou patologias "menores" como queimaduras, segundo a Cruz Vermelha, os primeiros migrantes do Dattilo desceram da embarcação.
Todos serão entrevistados para saber se precisam de proteção, mas a Espanha já advertiu que os imigrantes econômicos podem ser expulsos.
As mulheres grávidas e as pessoas com necessidade foram transportadas em ambulâncias para hospitais. Os demais começaram a ser levados para abrigos provisórios.
A rejeição italiana ao Aquarius levou a Europa a uma nova disputa política e gerou uma crise diplomática entre Paris e Roma.
O governo italiano voltou a proibir no sábado o acesso aos portos da península para embarcações das ONGs, o que pode aumentar as tensões europeias.
O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, afirmou neste domingo esperar que a Espanha "receba outros 66.000 (migrantes) e que os portugueses, os malteses e os demais também possam".
Na Espanha foram registradas manifestações de solidariedade, tanto entre as regiões, que se ofereceram para receber parte dos migrantes, como entre os cidadãos, que ofereceram ajuda.
Os migrantes que cumpram os protocolos e, assim desejarem, poderão viajar à França, anunciou Madri. Pedro Sánchez agradeceu o presidente francês Emmanuel Macron pelo gesto.
Neste domingo o porta-voz do governo de Paris, Benjamin Griveaux, considerou impossível calcular quantos farão a viagem.
Ao receber o Aquarius, Sánchez estabeleceu uma diferença com o governo anterior do conservador Mariano Rajoy, criticado pelas ONGs por sua política migratória.
Atualmente, a Espanha é a terceira via marítima de entrada de imigrantes irregulares na União Europeia (UE), atrás de Itália e Grécia, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Apenas entre sexta-feira e sábado, quase mil pessoas foram resgatadas em precárias embarcações quando tentavam alcançar a costa espanhola. As autoridades informaram quatro mortes.