Repórter
Publicado em 15 de julho de 2025 às 21h16.
Última atualização em 16 de julho de 2025 às 06h21.
O governo de Donald Trump abriu uma investigação sobre as práticas comerciais do Brasil nesta terça-feira, 15, para averiguar se elas estariam restringindo injustamente as exportações americanas para o país. A medida ocorre uma semana após o presidente Donald Trump anunciar que vai impor uma tarifa extra de 50% aos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.
De acordo com um comunicado do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos, o objetivo da investigação é verificar se determinadas políticas e ações do governo brasileiro são prejudiciais para empresas americanas. Entre os pontos que serão analisados estão: as tarifas aplicadas pelo Brasil a produtos dos Estados Unidos, políticas comerciais digitais, o acesso ao mercado de etanol e as "interferências anticorrupção", entre outros.
Na carta enviada na semana passada pela rede social Truth Social, Trump afirmou que planejava aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, como parte de uma série de ameaças de aumento de taxas que devem entrar em vigor em 1º de agosto. No entanto, a correspondência direcionada ao Brasil criticou as políticas do país que afetavam a operação de empresas americanas de tecnologia e o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente enfrenta julgamento por tentativa de golpe de estado.
Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, declarou que a investigação seria iniciada com base nos "ataques do Brasil contra as empresas americanas de mídias sociais, além de outras práticas comerciais desleais que afetam empresas, trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos dos Estados Unidos".
Ao focar suas ações no Brasil, Trump reacendeu a discussão sobre a abrangência de seus poderes tarifários. O presidente tem argumentado que possui grande autoridade para impor tarifas elevadas, mesmo sem a aprovação explícita do Congresso, com o intuito de reduzir o déficit comercial, lidar com questões de segurança e, ocasionalmente, intervir na política interna de outros países.
“Eles estão tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta. Ele é um bom homem”, afirmou Trump recentemente. “Eu não deveria gostar dele porque foi muito duro nas negociações, mas também foi muito honesto. E eu conheço os honestos e os desonestos.”
Em entrevista ao programa “This Week”, da ABC, Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional (CNE), explicou que o presidente Trump estava frustrado com as negociações com o Brasil e com as ações do governo brasileiro, destacando a necessidade de “colocar os Estados Unidos em primeiro lugar”.
Mais tarde, Hassett admitiu que Trump concordou com a tarifa de 50%, superior às taxas prometidas a outros países a partir de 1º de agosto, justamente em razão do tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, ele também apontou outros fatores, incluindo o fato de que vendedores chineses estariam tentando contornar suas próprias tarifas elevadas ao vender produtos pelo Brasil, uma prática conhecida como transbordo.
“Se você considerar uma estratégia geral, se não tiver uma estratégia geral para isso, haverá transbordo e tudo mais, e você não alcançará seus objetivos”, afirmou Hassett.
Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.
A medida entraria em vigor em 1º de agosto, mas ainda não foi oficializada por uma ordem executiva. Assim, o governo brasileiro busca negociar formas de evitar que a nova taxa entre em vigor.
Em uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele disse:
"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta".
"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.
"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.
No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.
No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.
Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.
Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.
Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.
Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.
Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um.
Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.
Na semana passada, ele adiou novamente o prazo, para 1º de agosto, e passou a anunciar novos percentuais de taxas para alguns países, que poderão ser negociados até o final de julho. A tarifa geral de 10% segue em vigor, além de outras taxas para países específicos, como China, Canadá e México, e para produtos, como aço e alumínio.