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Após Hong Kong, Holanda e Bélgica também têm pacientes reinfectados

Casos de pessoas contraindo o novo coronavírus novamente meses depois levantam dúvidas sobre duração da imunidade

Testagem de covid-19 na Holanda: ao menos um paciente com reinfecção confirmada no país (Piroschka van de Wouw/File Photo/Reuters)

Testagem de covid-19 na Holanda: ao menos um paciente com reinfecção confirmada no país (Piroschka van de Wouw/File Photo/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 09h17.

Última atualização em 25 de agosto de 2020 às 09h25.

Após um caso de reinfecção pelo coronavírus em Hong Kong ser o tema do dia ontem, mais casos de infecções em pessoas já diagnosticadas anteriormente foram confirmados nesta terça-feira, 25.

Dois pacientes que já haviam contraído o vírus voltaram a ser infectados, um na Bélgica e outra na Holanda, segundo a imprensa local.

Em Hong Kong na segunda-feira, 24, médicos anunciaram que um homem de 33 anos contraiu o vírus pela segunda vez pouco mais de quatro meses depois da primeira infecção. O paciente foi infectado pela segunda em viagem à Europa.

Esse foi o primeiro caso confirmado globalmente de reinfecção pelo vírus e levantou debates na comunidade científica sobre a duração da imunidade. Até o momento, a hipótese mais aceita é a de que pessoas que contraíram o coronavírus uma vez não voltam a ter a doença -- ao menos, como pode mostrar o caso de Hong Kong, durante alguns meses.

Uma reinfecção verdadeira, como nos casos holandês, belga e chinês, requer teste genético do vírus na primeira e na segunda infecção para ver se as duas cepas se diferem, como afirmou a virologista Marion Koopmans, citada pela TV holandesa NOS sobre o caso de reinfecção no país.

Apesar disso, Marion disse que reinfecções já eram esperadas. "Que alguém apareça com uma reinfecção, não me deixa nervosa", disse. "Temos que ver com que frequência isso acontece."

Ao contrário do jovem em Hong Kong, o caso na Holanda foi de uma pessoa já idosa e com sistema imunológico enfraquecido.

O caso na Bélgica foi de uma mulher, que contraiu o coronavírus primeiro em março e depois, em junho. Os sintomas em ambos os casos foram relativamente leves.

Segundo disse o virologista Marc Van Ranst, que cuida do caso, à TV belga VRT, pelos sintomas leves, o corpo pode não ter criado anticorpos suficientes para prevenir uma reinfecção, embora eles possam ter ajudado a frear a doença.

"Acho que nos próximos dias veremos outras histórias semelhantes. Essas podem ser exceções, mas existem e não são apenas uma", disse Van Ranst. "Não é uma boa notícia."

Sem imunidade de rebanho

É mais comum que os pacientes sejam "portadores persistentes", isto é, tenham o agente infeccioso no corpo por vários meses, nunca conseguindo eliminá-lo completamente -- de modo que a doença volta a aparecer tempos depois.

Mas os três casos desta semana, concluíram os médicos, são de fato de reinfecção, com pessoas que já haviam superado o vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, contraindo-o novamente.

As descobertas podem impactar as pesquisas sobre a vacina, podendo levar à conclusão de que será necessária mais de uma dose. Pessoas que já contraíram o vírus também podem ter de tomar a vacina.

Os novos casos podem também descartar as estratégias da chamada imunidade de rebanho. Nesse caso, o argumento é que, se boa parte da população se infectar com o vírus, uma região ficaria imune.

A líder técnica da resposta à pandemia da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, comentou o caso nesta segunda-feira, durante coletiva de imprensa. "Não precisamos tirar conclusões precipitadas, mesmo que este seja o primeiro caso de reinfecção documentado".

Ela acrescentou que embora a reinfecção seja possível, porque em outros coronavírus a resposta imune decai após um período, ainda não há estudos conclusivos quanto à duração da imunidade ao Sars-CoV-2.

Reinfecção por coronavírus no Brasil?

No Brasil, a Universidade de São Paulo (USP) e a Fiocruz investigam 20 suspeitas de reinfecção. Por ora, nenhuma ainda foi confirmada.

Existem pelo menos dezesseis possíveis casos em investigação pela USP e mais quatro no Rio coordenados pela Fiocruz. Em todo o mundo, há outros casos sob investigação.

O primeiro caso reportado pela USP, no início de agosto, foi de uma técnica em enfermagem de 24 anos que voltou a ter sintomas pouco mais de um mês após testar positivo. Na primeira vez, em 13 de maio, os sintomas acabaram em dez dias e ela passou os 38 seguintes assintomática. Depois, em 27 de junho, acordou com forte dor de cabeça, muscular e de garganta, mal-estar, febre, perda de olfato e paladar.

No quinto dia em que os sintomas voltaram, deu novo positivo. Os sintomas sumiram 12 dias após, mas a dor de cabeça e a perda parcial do olfato persistiram até 6 de agosto, quando a pesquisa foi divulgada. Na época, ela ainda testava positivo.

O governo paulista anunciou na semana passada que o Hospital das Clínicas da capital preparou um ambulatório específico para pacientes que apresentem sinais de possível reinfecção. O objetivo, diz o governo, não é só dar seguimento ao atendimento, mas saber se houve recorrência de reinfecção ou há outro vírus em curso que não o covid-19.

(Com Estadão Conteúdo)

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