De maneira simbólica, a bandeira dos Estados Unidos foi retirada de dentro do complexo diplomático (Noel Celis/AFP)
AFP
Publicado em 27 de julho de 2020 às 07h05.
Última atualização em 27 de julho de 2020 às 18h13.
As autoridades chinesas entraram, nesta segunda-feira (27), no consulado dos Estados Unidos em Chengdu, pouco depois da saída dos últimos funcionários de Washington, encerrando um episódio de sanções mútuas dignas da Guerra Fria.
De maneira simbólica, a bandeira dos Estados Unidos foi retirada de dentro do complexo diplomático, segundo imagens da televisão chinesa.
Ao contrário dos dias anteriores, as forças de segurança impediram os jornalistas estrangeiros de se aproximar da representação diplomática.
Em uma breve declaração, o ministério das Relações Exteriores chinês confirmou o fechamento do consulado e alegou que a China "tomou posse" do prédio às 10H00 (23h00 de domingo no horário de Brasília). Pouco antes, alguns funcionários deixaram as instalações a pé. Carregavam bolsas e outros empurravam suas bicicletas.
No dia anterior, um ônibus deixou o complexo diplomático sob as vaias das pessoas que estavam nas proximidades.
"Hoje nos despedimos do consulado dos Estados Unidos em Chengdu. Sentiremos falta para sempre", comentou a embaixada americana em Pequim na rede social Weibo.
O consulado dos EUA em Chengdu, aberto em 1985, entrou, na sexta-feira, para a longa lista de litígios entre Pequim e Washington, quando a China ordenou seu fechamento.
O regime comunista tomou essa atitude em resposta ao fechamento forçado de seu consulado em Houston pelo governo do presidente Donald Trump, em meio a acusações de espionagem.
Mais tarde, Pequim protestou contra a entrada forçada na sexta de agentes americanos, depois que as autoridades chinesas partiram do prédio.
O edifício é "uma propriedade nacional da China", enfatizou o ministério das Relações Exteriores da China, referindo-se ao direito internacional.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, declarou, na quinta-feira, que o consulado chinês em Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos, era um "centro de espionagem e roubo de propriedade intelectual".
"Alguns funcionários do consulado dos Estados Unidos em Chengdu realizaram atividades que vão além de suas funções, intrometeram-se nos assuntos internos da China e ameaçaram a segurança e os interesses chineses", acusou Pequim, por sua vez.
Essas retaliações mútuas ocorrem em meio à deterioração das relações entre os dois países, em várias frentes, como a repressão em Hong Kong com a entrada em vigor de uma lei de segurança controversa, a pandemia de COVID-19 e as tensões no Mar da China Meridional.
No domingo, véspera do fechamento, o consulado em Chengdu se tornou uma atração para os habitantes desta cidade do sudoeste da China.
Sob um céu azul e um calor sufocante, muitos curiosos vieram se fotografar em frente ao prédio. Alguns agitavam uma bandeira chinesa, constataram jornalistas da AFP.
A tensão era palpável entre as forças de segurança, que não toleravam gestos provocativos ou sinais de alegria evidentes demais diante da partida dos americanos. Um jovem gritando "eu sou chinês! Viva a China!" foi retirado por dois agentes.
Os jornalistas da AFP viram uma equipe de segurança confiscar um cartaz. Mas um habitante exibiu uma imponente bandeira chinesa da sacada de seu apartamento e gritou o nome de seu país.
Alguns jornalistas estrangeiros foram insultados.
Além da embaixada em Pequim, os Estados Unidos agora têm quatro consulados na China continental (Cantão, Xangai, Shenyang, Wuhan) e um em Hong Kong, um território autônomo abalado no ano passado por protestos em massa contra o governo central.
Pequim acusou Washington de estar por trás dos distúrbios. Na semana passada, nacionalistas chineses pediram o fechamento do consulado americano em Hong Kong.