Imagem de satélite publicada pelo Planet Labs Inc mostra o navio porta-contêiner MV Ever Given bloqueando o tráfego no Canal de Suez (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 25 de março de 2021 às 09h18.
Última atualização em 28 de março de 2021 às 10h26.
A navegação no Canal de Suez foi suspensa temporariamente, nesta quinta (25), até que as autoridades consigam retirar um cargueiro gigantesco que bloqueia o tráfego desde quarta-feira (24) nesta rota comercial crucial entre Europa e Ásia - uma tarefa que se mostra bastante complicada.
"As autoridades marítimas indicaram que 13 navios do comboio norte (procedentes do Mar Mediterrâneo) (...), que deveriam passar, estão atracados em áreas de trânsito até que a operação de retirada seja concluída", afirmou o porta-voz da Autoridade do Canal de Suez (SCA, na sigla em inglês), George Safwat.
Ao mesmo tempo, a empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, proprietária do gigantesco porta-contêiner "Ever Given", admitiu que enfrenta uma "dificuldade extrema" para colocar o navio à tona de novo.
O incidente, que aconteceu na madrugada de terça para quarta-feira, provoca um grande engarrafamento de navios e atrasos consideráveis nas entregas de petróleo e de outros produtos comerciais.
A SCA deslocou vários rebocadores para o Canal,k que tentam desencalhar o navio porta-contêiner, de 400 metros de comprimento.
O bloqueio provocou o aumento de quase 6% dos preços do petróleo na quarta-feira, motivado pelos temores sobre o abastecimento.
"As consequências sobre os preços dependerão da duração do bloqueio", afirmou Bjornar Tonhaugen, da consultoria Rystad.
"Nunca vimos nada como isto antes, mas é provável que o congestionamento tome vários dias ou semanas, para ser reabsorvido, pois deve ter um efeito cascata sobre os outros comboios, horários e mercados mundiais", afirma Ranjith Raja, diretora de pesquisas sobre o petróleo do Oriente Médio e o Mar na empresa Refinitiv, que compila dados financeiros e outras informações.
O "Ever Given", um navio de mais de 220.000 toneladas que seguia para Roterdã procedente da Ásia, encalhou na madrugada de terça-feira para quarta-feira e ficou atravessado, bloqueado na ala sul do Canal de Suez.
Os especialistas citam os ventos fortes como uma das causas do incidente com o cargueiro de 60 metros de altura. A SCA também mencionou uma tempestade de areia, um fenômeno comum no Egito nesta época do ano, que reduz a visibilidade e provocou o desvio do navio.
O tamanho do cargueiro complica as operações, afirma Jean-Marie Miossec, professor da Universidade Paul-Valéry de Montpellier (França) e especialista em transporte marítimo. As autoridades devem levar o tempo necessário para "manobrar bem", disse.
A empresa Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), que tem sede em Singapura e é responsável pela gestão técnica do "Ever Given", informou que os 25 membros da tripulação estão a salvo. Não há contaminação nem danos na carga do navio, que tem capacidade para mais de 20.000 contêineres.
"Em cooperação com as autoridades locais e a empresa Bernhard Schulte Shipmanagement, estamos tentando desencalhar o navio, mas enfrentamos uma dificuldade extrema", afirmou a Shoei Kisen Kaisha em um comunicado.
A empresa pediu "sinceras desculpas" pela preocupação e os atrasos no tráfego. Também confirmou que não há feridos na tripulação, nem vazamentos de combustível.
Ligação marítima entre Europa e Ásia, o Canal de Suez permitiu que os navios não tivessem de dar a volta no continente africano (o que representa, por exemplo, 6.000 km a menos entre Singapura e Roterdã), mas também foi cenário de guerras e anos de inatividade.
Um incidente como o desta semana tem grandes consequências, porque 10% do comércio marítimo internacional passa por esta via, segundo os especialistas.
Uma ampliação feita entre 2014 e 2015, para acompanhar a evolução do comércio marítimo, facilitou o cruzamento de navios e diminuiu ainda mais o tempo de trânsito no canal. Quase 19.000 embarcações usaram o Canal de Suez ano passado, segundo a SCA.
Idealizado por Ferdinand de Lesseps, um empresário e diplomata francês, o colossal projeto levou dez anos de trabalho, entre 1859 e 1869, com a participação de um milhão de egípcios, de acordo com as autoridades.