Elon Musk: neste ano, fundador da Tesla disse que "vamos dar golpe em quem quisermos" ao ser questionado sobre a Bolívia (Eduardo Munoz/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2020 às 11h00.
Última atualização em 19 de outubro de 2020 às 11h35.
Com pesquisas de boca de urna na Bolívia apontando a vitória do economista Luis Arce, usuários brasileiros no Twitter levaram a hashtag #ChoraElonMusk aos assuntos mais comentados da plataforma na manhã desta segunda-feira, 19. A hashtag faz referência a comentários anteriores do presidente e fundador da fabricante de carros elétricos Tesla, o sul-africano Elon Musk.
Arce é do mesmo partido do ex-presidente Evo Morales, o MAS. Morales deixou o governo boliviano no ano passado, após perder o apoio das Forças Armadas diante de supostas irregularidades na eleição presidencial que lhe deu a vitória.
Os brasileiros usando a hashtag passaram a lembrar uma frase de Musk em julho deste ano. O empresário falou sobre a Bolívia na ocasião após ser questionado por um usuário sobre um suposto interesse da Tesla e dos Estados Unidos nas reservas de lítio do país para a produção de baterias.
"Nós vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso", respondeu Musk na postagem, mas dizendo na sequência que a Tesla compra seu lítio da Austrália. O tuíte foi deletado tempos depois por Musk. Embora tenha feito sua carreira nos EUA, o empresário nasceu na África do Sul, e também tem cidadania americana e canadense.
Com os comentários nas redes sociais nesta segunda-feira, usuários de outros países também mencionaram a piada dos brasileiros. "Elon Musk: tome um pouco de lítio para a depressão que está sentindo", disse uma usuária ao citar os resultados na Bolívia.
https://twitter.com/carolzoccoli/status/1318176035884748806
Currently watching brazilians destroy elon musk under the #choraelonmusk hashtag lol
— Julian 𓆉 (@jujubeestar) October 19, 2020
O dono da Tesla costuma responder a seguidores no Twitter e nem sempre com grande precisão, mas a mensagem levou a críticas no ano passado.
Nem só os comentários políticos geram polêmicas: Musk já foi questionado até por órgãos reguladores sobre tuítes acerca de números da Tesla que não correspondiam à realidade, mas que faziam as ações da empresa subir.
O hidróxido de lítio é uma das principais matérias primas usadas nas baterias dos carros elétricos da Tesla. Com o avanço dos carros elétricos, o lítio é chamado por alguns de "o petróleo do futuro" devido a seu papel nas baterias.
Na outra ponta, ao contrário do petróleo, o lítio é mais abundante, com mais de 80 milhões de toneladas no mundo -- embora o recurso ainda não totalmente explorado.
As estimativas apontam que a Bolívia tem uma das maiores reservas de lítio do mundo, com mais de 21 milhões de toneladas do material, embora os valores não estejam totalmente confirmados porque há pouca exploração de fato no país. Bolívia, Chile e Argentina formam na América do Sul o chamado "triângulo de lítio".
Dentre os países com dados consolidados, a Austrália tem a segunda maior reserva do mundo, atrás do Chile, segundo estudo do US Geological Survey, que pertence ao governo dos EUA. Os próprios Estados Unidos têm pequenas reservas, assim como o Brasil. Na frente industrial, a China é também uma das principais responsáveis pela produção do material.
O próprio Evo Morales, quando era presidente, já fez declarações afirmando que era de interesse de seu governo explorar o lítio na Bolívia. Até agora, poucos projetos saíram do papel no país.
A fundação Jubileo aponta Luis Arce com 53% dos votos e Carlos Mesa com cerca de 31% dos votos na Bolívia. Como a apuração completa dos votos ainda deve demorar alguns dias, ainda não há um resultado oficial. Mas mesmo a presidente interina Jeanine Añez, rival de Morales, já se pronunciou admitindo potencial vitória do MAS.
Arce é conhecido por ser o "pai do milagre econômico" nos governos de Evo Morales e por ter perfil tecnocrata. O economista trabalhou por 18 anos no Banco Central boliviano.
Evo Morales deixou o governo em novembro do ano passado após a última eleição presidencial terminar em profunda crise. Nas eleições de 2019 a contagem rápida foi suspensa por mais de 20 horas e quando foi retomada Morales apareceu com um avanço que o tornava vencedor no primeiro turno. A missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que houve manipulação.
O ex-presidente foi então substituído, sem nova eleição, pela presidente interina Jeanine Áñez, rival do MAS, que ficou 12 meses no governo.
Todo o movimento foi questionado dentro e fora da Bolívia, e alguns analistas classificaram o caso como um golpe, enquanto outros afirmaram que a transição foi democrática.