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Após chamar Deus de "estúpido", Duterte sela trégua com Igreja Católica

Nesta segunda-feira o presidente das Filipinas teve uma reunião com o presidente da Conferência de Bispos Católicos das Filipinas, e fez compromissos

Duterte: o polêmico presidente indignou os cristãos de todo o país no fim de junho ao questionar o conceito do pecado original e se referir a Deus como "estúpido" (Ezra Acayan/Reuters)

Duterte: o polêmico presidente indignou os cristãos de todo o país no fim de junho ao questionar o conceito do pecado original e se referir a Deus como "estúpido" (Ezra Acayan/Reuters)

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EFE

Publicado em 10 de julho de 2018 às 09h11.

Manila - Depois de chamar Deus de "estúpido" e zombar de alguns dogmas cristãos, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, entrou em contato com hierarquia da Igreja Católica do país, incomodada com as ofensas à religião de 86% dos filipinos.

Duterte teve nesta segunda-feira uma reunião privada de 30 minutos com o presidente da Conferência de Bispos Católicos das Filipinas, Romulo Valles, e se comprometeu a decretar uma espécie de "moratória" em suas declarações sobre a Igreja, confirmou o porta-voz do presidente, Harry Roque.

O Palácio de Malacañang, sede da Presidência das Filipinas, deixou claro, no entanto, que "a cessação na linguagem hostil" deve vir das duas partes e que Duterte não hesitará em atacar a Igreja de novo caso se sinta ameaçado por seus líderes.

O polêmico presidente, de 73 anos, indignou os cristãos de todo o país no fim de junho ao questionar o conceito do pecado original e se referir a Deus como "estúpido" por ter criado Adão e Eva perfeitos para depois tentá-los com o fruto proibido.

Longe de se desculpar diante da avalanche de críticas após suas palavras, nas últimas semanas Duterte continuou atacando a Igreja Católica, tachando-a de "hipócrita" e afirmando que sua influência sobre a sociedade filipina é "horrível".

O presidente, inclusive, prometeu renunciar se alguém conseguisse provar a existência de Deus fazendo uma 'selfie' com ele, em tom de sarcasmo.

O porta-voz presidencial chegou a afirmar na semana passada que alguns bispos e sacerdotes católicos estavam envolvidos em um complô com a guerrilha comunista para tirar Duterte do poder.

Antes da reunião de Valles com Duterte, a Conferência Episcopal publicou uma carta pastoral na qual pedia que seus fiéis fossem "pacificadores" em "tempos de crise" e os convocava para participar de jornadas de "oração, jejum e oferenda por aqueles que blasfemam contra Deus" nos dias 17, 18 e 19 de julho.

"Passemos alguns dias de oração e penitência invocando a justiça e a misericórdia de Deus sobre aqueles que blasfemam seu nome, que caluniam e dão falso testemunho, e que cometem assassinato ou justificam o assassinato como um meio para combater a criminalidade no nosso país", disse o vice-presidente da Conferência, o bispo Pablo David, ao ler a carta pastoral diante da imprensa.

Citando o Evangelho de São Paulo, o bispo ressaltou que "a estupidez de Deus é mais sábia que a sabedoria humana e a fraqueza de Deus é mais forte do que a fortaleza humana".

A Igreja criticou duramente a guerra contra as drogas promovida por Duterte, uma campanha que custou a vida de milhares de pessoas, e em fevereiro do ano passado tachou de "reino do terror", o que Duterte respondeu chamando os bispos de "filhos da p...".

Este foi o episódio que azedou a relação inicialmente boa entre o governo e a hierarquia católica, especialmente com o seu presidente, Romulo Valles, que é arcebispo de Davao, cidade que Duterte foi prefeito durante 22 anos em diferentes períodos.

"A Igreja respeita a autoridade política, especialmente dos funcionários escolhidos democraticamente, sempre que não contradigam os princípios espirituais e morais básicos que apreciamos", destacaram os bispos na carta pastoral.

Entre esses princípios básicos, se referiram "ao respeito pelo sagrado da vida, a integridade da criação e a dignidade inerente da pessoa humana".

"Não somos líderes políticos e certamente não somos opositores políticos ao governo", ressaltaram os bispos, reiterando o seu compromisso com a separação entre Igreja e Estado.

Fontes da Conferência Episcopal lembraram que a Igreja ao longo da sua história coexistiu com inúmeras formas de governo e sempre trabalhou com eles "pelo bem comum, especialmente dos mais desfavorecidos", embora se trate de uma colaboração "crítica".

As polêmicas palavras de Duterte sobre Deus não somente indignaram a hierarquia católica, mas também outros grupos religiosos como o Conselho de Igrejas Evangélicas, que também foi convidado a Malacañang para uma reunião, ainda sem data marcada, com o presidente filipino.

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