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Após Brics, Lavrov diz que proposta de cessar-fogo na Ucrânia é 'início' de diálogo com Kiev

Chefe da diplomacia russa se disse contra uma pausa de 30 dias nos combates, sugerida pelo presidente Volodymyr Zelensky, e demonstrou otimismo com diálogo com Washington

Agência o Globo
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Publicado em 29 de abril de 2025 às 14h45.

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Em entrevista coletiva após a reunião de chanceleres do Brics, no Rio de Janeiro, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, considerou que a proposta do presidente russo, Vladimir Putin, de um cessar-fogo de três dias no início de maio no conflito em solo ucraniano é o início das conversas diretas com Kiev, "sem condições prévias", embora não concorde com uma proposta de Kiev sobre uma pausa ainda maior, de 30 dias.

Ele ainda demonstrou otimismo com as negociações para a normalização dos laços com os EUA, virtualmente suspensos desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Aos jornalistas, Lavrov afirmou que a proposta de um cessar-fogo de três dias, que vai coincidir com a celebração do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, entre os dias 8 e 10 de maio, pode ser considerada o início de fato do diálogo direto com Kiev para encerrar o conflito. Salvo conversas pontuais e através de mediadores, recentemente centradas na troca de prisioneiros, os dois lados não dialogam diretamente sobre o fim da guerra desde 2022.

— Nossa proposta, expressa pelo presidente Putin , é o início de negociações diretas, sem pré-condições — reiterou Lavrov.

Contudo, o chanceler rejeitou uma contraproposta vinda do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para expandir de três para 30 dias a suspensão dos combates, que ocorreria de forma imediata, e pôs em xeque a disposição dos ucranianos para aceitar e cumprir um cessar-fogo.

— Sabemos muito bem o preço dessas declarações. Há um mês e meio ou dois, Kiev emitiu avisos terríveis de que não aceitaria nenhuma trégua. Radicais europeus estavam incitando o regime de Kiev a continuar nessa linha — disse Lavrov, que ainda questionou como seria feito o monitoramento do cessar-fogo.

Além da guerra, Lavrov expressou otimismo com as negociações visando a normalização dos laços com os EUA, virtualmente suspensos desde a invasão da Ucrânia, há pouco mais de três anos. Para ele, se trata de um passo esperado e que não deve ser tratado como algo extraordinário.

— É simplesmente um retorno à normalidade — declarou o chanceler.

Segundo o chefe da diplomacia da Rússia, estão sendo realizados contatos "em várias esferas" entre os dois lados, que buscam "equilibrar seus interesses". Ele garantiu que o processo de aproximação com Washington, iniciado após a eleição de Donald Trump, está sendo informado com regularidade aos parceiros do Brics, sem dar maiores detalhes.

— A maioria dos países do Sul e do Leste Global vê vantagens em retomar o diálogo entre a Rússia e os Estados Unidos — afirmou Lavrov aos jornalistas. — Continuaremos a construir nossas relações com os Estados Unidos de forma transparente e, claro, sem prejudicar os laços tradicionais e fortes com nossos parceiros estratégicos e pessoas com ideias semelhantes.

Diante de um impasse sobre o caminho para o fim da guerra na Ucrânia, o governo Trump dá sinais crescentes de impaciência com Moscou, e chegou a sugerir que, caso não haja um acerto rápido, poderia abandonar sua participação no diálogo sobre o conflito. Na entrevista coletiva, Lavrov afirmou que a guerra só será resolvida se forem eliminadas "suas causas profundas", citando nominalmente os planos ucranianos para aderir à Otan, a principal aliança militar do Ocidente.

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