Interpol: a indicação de Kim Jong-yang foi apoiada pelos EUA e criticada pela Rússia (YONHAP/AFP)
AFP
Publicado em 21 de novembro de 2018 às 11h00.
O sul-coreano Kim Jong-yang, que teve a candidatura apoiada pelos Estados Unidos ante o candidato russo, foi eleito presidente da Interpol nesta quarta-feira (21) para um mandato de dois anos, entre "fortes pressões" denunciadas por Moscou.
Kim Jong-yang já ocupava o posto de forma interina, após a súbita "demissão" de seu antecessor, o chinês Meng Hongwei, acusado de corrupção na China e cujo desaparecimento no início de outubro durante uma viagem a seu país ainda não foi elucidada.
Reunidos desde domingo em Dubai, os delegados da maior organização policial do mundo escolheram o sul-coreano na assembleia geral. Kim derrotou a candidatura do general russo Alexander Prokopchuk, que recebeu muitas críticas dos Estados Unidos e provocou ameaças da Ucrânia e da Lituânia de abandonarem a organização.
O Kremlin denunciou "fortes pressões" durante a eleição.
"Lamentamos que nosso candidato não tenha vencido", afirmou o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov.
"Mas, analisando de maneira imparcial as declarações de vários países na véspera da votação, fica evidente que aconteceram fortes pressões", completou.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, destacou na terça-feira o apoio de Washington ao sul-coreano.
"Estimulamos todas as nações e organizações que integram a Interpol e respeitam o Estado de Direito a escolher um chefe íntegro. Pensamos que será o caso do senhor Kim", afirmou o chefe da diplomacia americana.
Pouco depois da vitória, o novo presidente da Interpol declarou que "o mundo enfrenta hoje mudanças sem precedentes que representam grandes desafios para a segurança e para a proteção públicas".
"Precisamos de uma visão clara: temos que construir uma ponte para o futuro", completou.
O argentino Néstor R. Roncaglia foi eleito vice-presidente para a América por um mandato de três anos.
Em uma carta aberta, quatro senadores americanos pediram aos 192 membros da Interpol que rejeitassem a candidatura de Prokopchuk.
"Os acontecimentos recentes demonstraram que o governo russo abusava dos processos da Interpol para perseguir os opositores políticos", escreveu no Twitter na terça-feira o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança americano, Garrett Marquis.
De acordo com biografia publicada no site do Ministério do Interior russo, Prokopchuk entrou para a polícia nos anos 1990. Em 2003, foi promovido a general de polícia e começou a trabalhar com a Interpol em 2006, primeiro como diretor-adjunto do escritório da organização na Rússia.
Prokopchuk é poliglota. Fala alemão, polonês, italiano, inglês e francês. Foi responsável pela cooperação com a Europol, a agência europeia de polícia criminal e, em 2014, foi nomeado para o comitê executivo da Interpol, antes de se tornar vice-presidente em novembro de 2016.
"Se Prokopchuk for eleito presidente, a Rússia estenderá seus tentáculos criminosos a cada canto do planeta", denunciou no Twitter o investidor britânico William Browder, ex-chefe do advogado Serguei Magnitski, que morreu em uma prisão russa em 2009.
Browder foi detido por alguns minutos este ano na Espanha em consequência de uma ordem de prisão emitida pela Interpol. Moscou deseja sua extradição há vários anos.
O principal opositor russo, Alexey Navalny, afirmou que sua equipe sofreu "abusos da Interpol por culpa de perseguições políticas por parte da Rússia".
O sul-coreano Kim deverá terminar o mandato de quatro anos de Meng, que vai até 2020. Mas o verdadeiro comandante da Interpol é o secretário-geral. Até 2019 o cargo será ocupado pelo alemão Jürgen Stock, que no início do mês recordou que o cargo de presidente da organização policial é "essencialmente honorário".