Agência de notícias
Publicado em 11 de maio de 2025 às 10h42.
O cessar-fogo entre Índia e Paquistão se mantinha no domingo, após uma série de acusações mútuas das duas potências nucleares vizinhas de violar a trégua anunciada neste fim de semana. O acordo foi firmado no sábado, após quatro dias de ataques e contra-ataques de ambos os lados, que deixaram pelo menos 60 mortos e forçaram milhares a fugir. Foi o pior surto de violência desde o último conflito aberto entre os dois países, em 1999.
O fim "total e imediato" das hostilidades foi anunciado surpreendentemente pelo presidente Donald Trump, após "uma longa noite de conversas com mediação dos EUA". Nova Délhi e Islamabad confirmaram o acordo minutos depois que Trump fez o anúncio em sua perfil na sua rede social Truth Social.
A escalada entre as duas potências nucleares havia gerado temores de uma guerra generalizada.
Apesar do acordo ainda vigorar, o secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, denunciou neste domingo "repetidas violações" do cessar-fogo por parte do Paquistão e afirmou que suas forças armadas "estão dando uma resposta adequada e proporcional".
Já o Paquistão declarou que "segue comprometido" com a trégua e que suas tropas estavam reagindo às violações indianas com "responsabilidade e moderação".
Nas áreas fronteiriças da Caxemira administrada pela Índia, o clima no domingo era de confusão.
Moradores de várias aldeias do lado indiano da Linha de Controle — a fronteira de fato da Caxemira dividida — relataram que os bombardeios paquistaneses recomeçaram horas depois do anúncio do cessar-fogo.
A casa de Bairi Ram, na aldeia de Kotmaira, foi reduzida a escombros pelos ataques, e três de seus búfalos morreram. "Está tudo perdido", disse ele.
Hazoor Sheikh, de 46 anos, que tem uma loja no mercado principal da cidade fronteiriça indiana de Poonch — uma das mais atingidas nos combates — foi um dos primeiros a reabrir seu comércio no domingo.
"Finalmente, depois de dias, conseguimos dormir em paz", afirmou Sheikh.
Praveen Donthi, analista do International Crisis Group, mostrou ceticismo em relação à trégua.
"Há uma paz frágil. É muito precária", declarou à AFP.
"As relações vão continuar hostis. As coisas serão difíceis. Ainda haverá ataques de baixa intensidade, provavelmente não das forças armadas, mas talvez de militantes", acrescentou.
Já ontem, poucas horas após o acordo ser firmado, a Índia acusou o Paquistão de violar o cessar-fogo. A afirmação sobre a quebra do acordo foi dada por uma fonte do governo indiano à AFP.
Uma série de explosões foi ouvida na noite de ontem em Srinagar, principal cidade da Caxemira administrada pela Índia, onde a energia foi cortada. Moradores da cidade indiana de Jammu também enfrentaram ataques de drones, com explosões sendo ouvidas e projéteis vistos no céu, segundo testemunhas.
O conflito começou com o ataque de 22 de abril na Caxemira administrada pela Índia, que matou 26 turistas — a maioria homens hindus — em um atentado que Nova Délhi atribui ao Paquistão.
A Índia acusa o grupo Lashkar-e-Taiba, com base no Paquistão e considerado "terrorista" pela ONU, de ser o responsável, algo que Islamabad nega.
Na quarta-feira, a Índia lançou ataques de mísseis contra "campos terroristas". O Paquistão respondeu imediatamente com artilharia pesada e afirmou ter abatido cinco caças.
Os grupos armados que atuam na Caxemira têm intensificado suas ações desde 2019, quando o governo nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi revogou a autonomia limitada da região e colocou o território sob controle direto de Nova Délhi.
Desde que os dois países conquistaram a independência do domínio britânico, em 1947, já travaram várias guerras pelo controle total da Caxemira.
"O cessar-fogo é um passo positivo", apontou Bilal Shabbir, consultor de TI de Muzaffarabad, na Caxemira administrada pelo Paquistão.
"Na guerra, não só soldados morrem, mas principalmente civis. E, neste caso, seriam os habitantes da Caxemira", acrescentou.
A notícia da trégua foi recebida com alívio pela comunidade internacional.
A China, que faz fronteira com Índia e Paquistão, afirmou estar "disposta a continuar desempenhando um papel construtivo", segundo a agência estatal Xinhua.
"Os próximos dias serão decisivos para ver se o cessar-fogo se mantém e abre caminho para uma relativa normalidade", destacou um editorial do Dawn, principal jornal em língua inglesa do Paquistão.