Repórter
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 05h55.
Última atualização em 3 de novembro de 2025 às 06h21.
As forças armadas dos Estados Unidos estão modernizando uma antiga base naval da Guerra Fria no Caribe, abandonada há muito tempo, segundo a agência Reuters. A informação sugere preparativos para operações contínuas que poderiam apoiar possíveis ações militares na Venezuela.
A construção encontra‑se na antiga base naval de Roosevelt Roads, em Porto Rico — fechada pela Marinha há mais de 20 anos — mas voltou a funcionar em 17 de setembro, quando equipes iniciaram a limpeza e repavimentação das pistas de pouso e decolagem.
Até a retirada da Marinha da base em 2004, Roosevelt Roads era considerada uma das maiores bases navais americanas do mundo. A localização estratégica da base e o amplo espaço para armazenar equipamentos são algumas das vantagens dessa instalação.
Além das melhorias nas capacidades de pouso e decolagem na Roosevelt Roads, os Estados Unidos estão construindo instalações em aeroportos civis em Porto Rico e em St. Croix, nas Ilhas Virgens Americanas. Os dois territórios ficam a aproximadamente 800 quilômetros da Venezuela.
Por outro lado, as novas instalações em Porto Rico e nas Ilhas Virgens podem indicar preparativos para que as forças armadas americanas realizem operações dentro da Venezuela. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tem afirmado repetidamente que os EUA planejam removê‑lo do poder.
“Acredito que tudo isso visa intimidar o regime de Maduro e seus generais, na esperança de criar fissuras”, afirmou Christopher Hernandez‑Roy, pesquisador sênior do Center for Strategic and International Studies (CSIS), em Washington, em entrevista à Reuters.
O reforço militar na região constitui o maior movimento desse tipo, sem relação com ajuda humanitária desde 1994, quando os EUA enviaram dois porta‑aviões e mais de 20 000 soldados ao Haiti para participar da “Operação Manter a Democracia”.
Desde o início de setembro, os Estados Unidos realizaram ao menos 14 ataques contra supostos navios de narcotráfico no Caribe e no Pacífico, resultando na morte de 61 pessoas. Além disso, os ataques contra essas embarcações teriam elevado as tensões com a Venezuela e a Colômbia.
Questionada sobre a expansão militar na região, a Casa Branca afirmou que o presidente Donald Trump havia prometido, durante a campanha eleitoral, combater os cartéis de drogas da região.
“Ele tomou medidas sem precedentes para deter o flagelo do narcoterrorismo que resultou na morte desnecessária de americanos inocentes”, disse a porta‑voz da Casa Branca, Anna Kelly, em comunicado à agência de notícias.
O reforço militar dos EUA no Caribe teve início em agosto com a chegada de navios de guerra, um submarino nuclear, caças e aviões de reconhecimento.
O grupo de ataque do porta‑aviões Ford, com cerca de 10 000 soldados e dezenas de aeronaves e sistemas de armas, está a caminho do Mar Adriático. Um dos destróieres do Ford deixou Gibraltar em 29 de outubro, segundo imagens de satélite e dados de rastreamento de navios.
Segundo Mark Cancian, coronel aposentado do United States Marine Corps (USMC) e consultor sênior do CSIS, as reformas na antiga base de Roosevelt Roads “são consistentes com os preparativos para um aumento nas operações de pouso e decolagem de aeronaves militares”.
O governo americano também está investindo na instalação de equipamentos portáteis de apoio ao tráfego aéreo e outros dispositivos móveis de segurança. Além de melhorias na infraestrutura do Aeroporto Rafael Hernández, o segundo aeroporto civil mais movimentado de Porto Rico, segundo a Reuters.
Em meados de outubro, os militares dos EUA haviam instalado equipamentos de comunicação e uma torre móvel de controle de tráfego aéreo — normalmente empregada para coordenar um grande número de aeronaves em zonas de conflito ou após desastres.
Torres móveis de controle de tráfego aéreo são usadas para organizar o tráfego de aeronaves que entram e saem de uma região. Os especialistas consultados pela agência de notícias também apontaram para a possibilidade de as forças armadas usarem o aeroporto também para criar um depósito de munições.
“Elas poderiam ser usadas em breve para uma operação contra a Venezuela", disse Cancian, que indicou também que instalação poderia servir para possíveis operações de combate aos cartéis.
Albert Bryan Jr., governador das Ilhas Virgens Americanas, afirmou em comunicado divulgado por seu gabinete que, embora haja “um certo nível de coordenação com as forças armadas americanas sobre o destacamento de tropas no território, seu gabinete não tem acesso a detalhes operacionais e ao planejamento futuro dessas operações”.
“A presença regional das forças armadas americanas fortalece a segurança e impede o tráfico de drogas e armas pelo território", disse Bryan Jr., no comunicado.
Outras fontes ouvidas pela Reuters afirmaram que as mudanças podem ter como finalidade dar suporte à grande quantidade de aeronaves militares americanas que chegam à região. As restaurações também podem ajudar a suprir lacunas nas capacidades de vigilância por radar, caso os traficantes de drogas passem a usar aeronaves em vez de navios.
De acordo com o U.S. Department of State, o Haiti é usado como ponto de trânsito para transportar cocaína e maconha da América do Sul até os Estados Unidos.
Segundo a Reuters, desde agosto o governo de Donald Trump enviou pelo menos 13 navios de guerra, cinco navios de apoio e um submarino nuclear para a região, provenientes de diversas bases navais — incluindo o porta‑aviões Gerald Ford, o maior navio desse tipo. Oito navios de guerra permanecem na região, assim como embarcações de apoio.
Além disso, um antigo navio comercial, o MV Ocean Trader, foi observado atracando em Porto Rico e St. Croix, bem como na costa da Venezuela. Embora haja pouca informação pública disponível sobre o MV Ocean Trader, especialistas acreditam que ele esteja ligado às forças especiais americanas.
Brent Sadler, especialista em segurança marítima da Heritage Foundation, afirmou que a embarcação “é capaz de operar helicópteros utilizados pelas forças especiais e também pode ser usada para desembarque de tropas.”
A agência de notícias identificou o navio em imagens de satélite a cerca de 85 quilômetros de Saint Kitts no final de setembro, mas não conseguiu determinar quando ele foi enviado para a região. A última vez que foi visto atracando foi em Ponce, Porto Rico, no final de outubro.
Três destróieres de mísseis guiados — o USS Jason Dunham, o USS Gravely e o USS Stockdale — também foram enviados para o Caribe.
Também foram identificadas embarcações de apoio, incluindo dois navios‑tanque de reabastecimento, o USNS Kanawha e o USS Stockdale. Além do USNS Joshua Humphreys, navio‑hospital, e o USNS Comfort, navio de testes de sistemas de navegação submarina.
A presença de aeronaves militares dos EUA também tem aumentado na região. Além do porta‑aviões Ford, que pode acomodar mais de 75 aeronaves, o Pentágono enviou 10 aeronaves avançadas F‑35 e aviões de espionagem, segundo a Reuters.
No fim de outubro, a força aérea dos EUA realizou voos com bombardeiros supersônicos Lancer, partindo da Base Aérea de Dyess em Abilene, Texas, e da Base Aérea de Grand Forks em Dakota do Norte, sobre a costa da Venezuela.
Em 15 de outubro, três bombardeiros B‑52 decolaram da Base Aérea de Barksdale, em Shreveport, Louisiana, e sobrevoaram a costa da Venezuela antes de retornar à base, segundo dados de rastreamento de voos.
Fontes próximas do governo americano afirmaram à agência, em condição de anonimato, que os aviões podem estar reabastecendo navios ou levando sistemas de armas ou drones para a base de Porto Rico.
Pelo menos uma dúzia de aeronaves P‑8A da Base Aérea Naval dos EUA em Jacksonville, Flórida, sobrevoaram as Bahamas e mais ao sul, sobre o Caribe, em outubro, segundo dados de rastreamento de voos do site FlightRadar24.
Apesar desta movimentação, a Casa Branca se manifestou contra uma possível invasão do território venezuelano. Nesta sexta-feira, 31 de outubro, o presidente Donald Trump negou estar planejando ataques dentro da Venezuela.
A posição do republicano contradiz suas próprias declarações feitas na semana anterior sobre a possível ampliação das operações dos EUA contra o narcotráfico.
Em entrevista coletiva a bordo do Air Force One sobre a veracidade das notícias que sugeriam possíveis ataques na Venezuela, Trump respondeu simplesmente: "Não".
Não ficou claro se Trump estava descartando totalmente ataques futuros ou apenas indicando que ainda não havia uma decisão final sobre o assunto.