Avós da Praça de Maio: as Avós da Praça de Maio ainda buscam 400 bebês roubados durante a ditadura (1976 a 1983) (Facebook/Maria Isabel Chorobik)
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2016 às 20h48.
Aos 97 anos, a vice-presidente das Avós da Praça de Maio, Rosa Roisinblit, escutou nesta quinta-feira, depois de 38 anos, a condenação a 25 e 12 anos de prisão dos ex-militares acusados pelo desaparecimento de sua filha grávida e seu genro durante a ditadura argentina.
O ex-comandante da Força Aérea Omar Graffigna, de 90 anos, e o comodoro aposentado Luis Trillo, de 75 anos, foram condenados a 25 anos de prisão, enquanto o agente de inteligência militar Francisco Gómez, de 70 anos, recebeu uma pena de 12 anos de prisão, segundo a sentença.
"Vejo que a justiça tarda, mas chega", declarou Roisinblit, que promovia uma ação contra o Estado desde 1979 e comemora por poder "ter a felicidade de viver para ver isso que acabei de ver e ouvir".
A sentença condenou os militares por "privação ilegal de liberdade e tormentos agravados", mas não pelo desaparecimento forçado como pedia a ação que solicitava penas de prisão perpétua pelo sequestro ocorrido em outubro de 1978 de José Pérez Rojo e de Patricia Roisinblit, que permanecem desaparecidos.
Após ouvir a sentença, os netos de Rosa - Mariana e Guillermo Pérez Roisinblit - se abraçaram com sua avó.
Aos 15 meses, Mariana presenciou o sequestro de seus pais e foi entregue aos avós paternos.
Guillermo, um dos 120 netos recuperados pelas Avós da Praça de Maio, nasceu no cativeiro de sua mãe que estava grávida de 8 meses ao ser sequestrada. Conseguiu recuperar sua identidade em 2000, encontrado por sua irmã que trabalhava com as Avós.
O rapaz não se conformou com a pena de seu sequestrador, Francisco Gómez. "Não estou feliz com os 12 anos que lhe deram, não só pela magnitude do dano que cometeu, mas também porque ele tem a informação precisa - e sei pela sua boca - do que aconteceu com meus pais, do calvário que tiveram que viver e certamente onde estão seus corpos", afirmou.
As Avós da Praça de Maio ainda buscam 400 bebês roubados durante a ditadura (1976 a 1983).
"Eu vi meus dois netos me abraçarem e chorarem comigo. É um momento de muita emoção, um pouco de pranto e um pouco de satisfação. A luta continua porque ainda faltam muitos netos a serem encontrados", sentenciou Rosa Roisinblit.
Força Aérea no banco dos réus
O julgamento começou em maio passado, quando Rosa pôde ver cara a cara os três acusados no banco dos réus, entre eles Omar Graffigna, integrante da segunda Junta Militar que governou a Argentina, entre 1979 e 1981.
Também viu o comodoro aposentado Luis Trillo, que esteve à frente da Riba, um organismo de espionagem da Força Aérea em Morón, periferia oeste de Buenos Aires, e Francisco Gómez, um agente de inteligência que lá atuou.
Na Riba funcionava uma prisão clandestina onde Patricia e José permaneceram em cativeiro entre outubro e novembro de 1978.
De lá, Patricia foi levada para o centro clandestino da Escola de Mecânica da Armada (Esma) onde deu à luz em um porão. Após regressar ao Riba, sequestraram seu bebê.
O caso de Guillermo foi o primeiro conhecido de um bebê roubado envolvendo a Força Aérea.
Graffigna foi absolvido no histórico Julgamento das Juntas de 1985, em que o ex-ditador Jorge Videla e o ex-chefe da Marinha Emilio Massera foram condenados à prisão perpétua.
Porém, em 2013, foi preso e processado pelo desaparecimento de Pérez Rojo e de Roinsinblit, quando era o chefe do Estado Maior Geral da Força Aérea.