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Após 3 dias de confrontos, presidente afirma que Chile está em "guerra"

Os protestos no Chile são os mais violentos desde a redemocratização. Confrontos já deixaram sete mortos e quase 1.500 detidos

Protestos no Chile: confrontos completam três dias. Ao menos 1.500 pessoas foram detidas (Edgard Garrido/Reuters)

Protestos no Chile: confrontos completam três dias. Ao menos 1.500 pessoas foram detidas (Edgard Garrido/Reuters)

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AFP

Publicado em 21 de outubro de 2019 às 06h42.

Última atualização em 21 de outubro de 2019 às 10h38.

O Chile está "em guerra", afirmou no domingo à noite o presidente Sebastián Piñera, depois que o país foi abalado por três dias de manifestações violentas e saques que deixaram sete mortos e quase 1.500 detidos, na crise social mais grave em três décadas.

"Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém e que está disposto a usar a violência e delinquência sem nenhum limite", declarou Piñera após uma reunião com o general do exército Javier Iturriaga, que comanda a força de segurança em Santiago no momento.

O presidente explicou que Santiago e outras nove regiões das 16 que formam o Chile se encontram em estado de emergência, com 9.500 militares e policiais nas ruas. Ele confirmou que nesta segunda-feira, primeiro dia útil depois de três jornadas de distúrbios, serão abertas 27 estações da linha 1 do metrô, uma das sete que integram a rede da capital.

O metrô está fechado desde sexta-feira, depois que 78 estações e trens sofreram ataques, em um prejuízo calculado em mais de 300 milhões de dólares pela empresa estatal que administra o serviço.

Mais cedo, o ministro do Interior, Andrés Chadwick, confirmou a morte de sete pessoas, todas durante saques: duas no incêndio de um supermercado e cinco em um incêndio e uma fábrica têxtil.

A situação em Santiago provocou o cancelamento de centenas de voos no aeroporto, enquanto milhares de pessoas aguardavam nos terminais.

Protestos no Chile

Os estudantes convocaram novos protestos para esta segunda-feira (21) e as autoridades preveem uma grande dificuldade nos transportes públicos.

O centro de Santiago virou um cenário de destruição: semáforos no chão, ônibus queimados, lojas saqueadas e milhares de destroços nas ruas.

O balanço da revolta social sem precedentes desde o retorno da democracia ao Chile, em 1990, registrava no domingo 70 atos de violência graves, incluindo 40 saques, de acordo com Chadwick.

Duas pessoas ficaram gravemente feridas após serem baleadas em um incidente com uma patrulha militar na madrugada de domingo. O Ministério Público informou que 1.462 pessoas foram detidas.

Diante da violência dos incidentes, as autoridades decretaram pelo segundo dia um toque de recolher, mas anteciparam o início da medida para as 19H00 (horário local), em meio ao estado de emergência.

"Fiquem calmos e em suas casas", afirmou, ao anunciar a medida, o general Iturriaga.

Estudantes nas ruas

As manifestações explodiram após o aumento do preço da passagem do metrô - medida que o governou cancelou - e eram inimagináveis há alguns dias, quando Piñera classificou o país como um "oásis" de estabilidade.

Neste cenário, os três poderes do Estado tentaram passar a imagem de unidade com um encontro no domingo entre seus principais representantes no palácio presidencial de La Moneda.

"A democracia não apenas tem o direito, tem a obrigação de se defender usando todos os instrumentos que apresentam a própria democracia fornece e o Estado de Direito para combater aqueles que querem destruí-la", afirmou Piñera.

Manifestantes encapuzados enfrentaram durante quase todo o dia policiais na Praça Itália de Santiago, muito protegida por militares e agentes das forças de segurança.

No bairro de Ñuñoa, muitos manifestantes desafiaram o toque de recolher e gritaram frases contra o governo de Piñera.

O estopim dos protestos foi o aumento da tarifa do metrô, mas as manifestações apresentaram outras reivindicações em uma sociedade que registra hoje um profundo grau de descontentamento.

Aos gritos de "basta de abusos" e com o lema que dominou as redes sociais "ChileAcordou", o país enfrenta críticas a um modelo econômico em que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com elevada desigualdade social, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos.

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