Mundo

Apoio americano a ativista chinês atrapalha diálogo

Hillary Clinton tentou discutir as liberdades fundamentais na China durante o discurso inaugural do fórum

No encontro, os dois países também analisarão questões como uma maior transparência em assuntos militares e o aumento da segurança cibernética, enquanto o diálogo econômico, que a princípio parecia ser o principal tema de agenda, ficou em um segundo plano (Michael Loccisano/Getty Images)

No encontro, os dois países também analisarão questões como uma maior transparência em assuntos militares e o aumento da segurança cibernética, enquanto o diálogo econômico, que a princípio parecia ser o principal tema de agenda, ficou em um segundo plano (Michael Loccisano/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2012 às 09h32.

Pequim - O caso do dissidente Chen Guangcheng enfraqueceu nesta quinta-feira o 4º Diálogo Estratégico e Econômico China-EUA, apesar das tentativas da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e do presidente da China, Hu Jintao, de dar uma imagem de normalidade aos laços bilaterais.

Enquanto Chen continua no hospital de Chaoyang, em Pequim, após sair na quarta-feira da Embaixada dos Estados Unidos, onde esteve refugiado por seis dias, Hu e Hillary trocaram palavras de elogio mútuo, apertos de mão e desejos de maior cooperação bilateral no Palácio de Diaoyutai, onde são realizadas as reuniões.

Hillary, que está começando a receber duras críticas pela gestão da crise diplomática por parte de grupos pró-direitos humanos e da imprensa de seu país, tentou discutir as liberdades fundamentais na China durante o discurso inaugural do fórum.

"Nenhuma nação pode privar os cidadãos de suas aspirações à dignidade e ao império da lei", disse Hillary em seu discurso, lembrando que na semana passada o presidente Barack Obama afirmou que "uma China que proteja seus próprios cidadãos será uma nação mais forte e próspera".

O presidente Hu não estava presente na sala quando Clinton fez estas advertências, nem quando a ex-primeira-dama pediu ao Governo chinês um maior envolvimento em conflitos internacionais.

Mais tarde, Hu entrou no recinto e destacou em seu discurso que a China e os EUA devem "romper a tradicional crença de que as grandes potências têm que entrar em conflito".

Mas a quarta-feira foi de fato conflituosa para os dois países, pelo menos no terreno diplomático, depois que a China rompeu o silêncio em torno do caso de Chen Guangcheng, reconheceu que o advogado cego e ativista esteve refugiado na embaixada americana e pediu a Washington uma desculpa oficial.

Longe de se desculpar, Hillary afirmou em comunicado na véspera do fórum bilateral que "o Governo dos Estados Unidos e o povo americano estão comprometidos a continuar envolvidos com Chen e sua família nos dias, semanas e meses que virão".

É uma incógnita o futuro de Chen, que antes dos fatos de quarta-feira afirmava que queria permanecer na China - e assim disse a seu amigo, o também ativista Hu Jia - mas agora afirmou a diversos veículos de comunicação que quer sair para os EUA, e que nas negociações se sentiu coagido por Pequim e decepcionado com Washington.

O espinhoso assunto quase levou a um segundo plano o diálogo estratégico, de dois dias de duração.


Hillary e o secretário do Tesouro americano Timothy Geithner presidem a parte americana, enquanto a delegação chinesa é liderada pelo vice-primeiro-ministro Wang Qishan e o Conselheiro de Estado Dai Bingguo.

Em seu discurso inaugural, Hillary buscou também pontos comuns entre os dois países apesar do enfrentamento diplomático atual, e destacou a importância da reunião que é realizada anualmente, afirmando que "a China e os EUA não podem resolver todos os problemas do mundo, mas sem sua cooperação nenhum poderá ser solucionado".

Hillary fez declarações sobre conflitos internacionais como a questão nuclear iraniana, afirmando que "a China e os EUA compartilham da ideia de impedir que o Irã tenha armas nucleares", e sobre a Síria, destacando que Pequim e Washington estão totalmente comprometidos a impedir "a violência brutal contra civis".

Sobre a Coreia do Norte, a secretária de Estado afirmou que Washington "reconhece o papel que a China está desempenhando para trabalhar junto e dizer a Pyongyang que terá maior segurança se priorizar as necessidades de seu povo, ao invés de agir com futuras provocações".

No encontro, os dois países também analisarão questões como uma maior transparência em assuntos militares e o aumento da segurança cibernética, enquanto o diálogo econômico, que a princípio parecia ser o principal tema de agenda, ficou em um segundo plano.

No entanto, em seu discurso, o secretário do Tesouro Geithner ressaltou a importância de que China e EUA dialoguem sobre questões como resguardar os direitos de propriedade intelectual e proteger as empresas de um país que investem no outro.

Ele também afirmou que a China e os EUA "trabalharão juntos para apoiar os esforços da Europa na superação da crise da dívida" e na promoção da reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. 

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaDiplomaciaEstados Unidos (EUA)Países ricos

Mais de Mundo

Votação antecipada para eleições presidenciais nos EUA começa em três estados do país

ONU repreende 'objetos inofensivos' sendo usados como explosivos após ataque no Líbano

EUA diz que guerra entre Israel e Hezbollah ainda pode ser evitada

Kamala Harris diz que tem arma de fogo e que quem invadir sua casa será baleado