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Apoio à democracia cai na América Latina, mas não na Venezuela e Nicarágua

Relatório da ONG Latinobarómetro mostra que a democracia na América Latina é valorizada justamente nos países nos quais está mais em crise

Protestos contra Daniel Ortega na Nicarágua (Stringer/Anadolu Agency/Getty Images)

Protestos contra Daniel Ortega na Nicarágua (Stringer/Anadolu Agency/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 24 de novembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 24 de novembro de 2018 às 06h00.

São Paulo – A democracia passa por maus bocados na América Latina. É o que mostra o levantamento da organização não governamental Latinobarómetro, que monitora a situação política nos países latino-americanos. Segundo a edição 2018 do estudo, que foi divulgado no início de novembro e é visto como a análise mais completa da região, apenas 48% das pessoas apoiam esse regime político, o menor índice desde 2001.

A queda no apoio à democracia na América Latina registrada em 2018 é brusca quando se olha para retratos anteriores apresentados pelo estudo, que é feito desde 1995. Em 2010, por exemplo, essa percentagem era de 61% e foi caindo sistematicamente até despencar de 53%, o dado observado em 2017, para 48% em 2018.

A fatia de pessoas que deixou de apoiar o regime democrático, contudo, não parece estar do lado oposto dessa régua, que seria apoiando um regime autoritário. O índice de entrevistados que relataram preferir essa via política vem se mantendo razoavelmente estável nos últimos anos, saindo de 15% em 2010, passando para a máxima de 17% no ano seguinte e voltando para 15% em 2018.

Então onde estão essas pessoas? De acordo com pesquisa, se tornaram indiferentes ao regime político nos seus países e representam um grupo que saltou de 16% em 2010 para 28% nesse ano. “Os cidadãos da região que abandonaram a democracia preferem ser indiferentes, se afastando da política e das instituições democráticas”, notaram os pesquisadores, “ e votam sem lealdade ideológica ou partidária e com volatilidade”.

“2018 foi um ano horrível”, escreveu Marta Lagos, cientista política chilena e uma das chefes do estudo. “Desde o início da transição democrática na América Latina, poucas vezes a região viveu um período tão convulsionado quanto o atual”, notou. “E essas convulsões não foram produzidas por protestos, mas por disputas eleitorais e acusações de corrupção”, constatou.

Os países que mais apoiam a democracia

É bem verdade que o apoio geral à democracia na América Latina caiu. Contudo, dois dados importantes, e colocados como “surpreendentes” pelo estudo, vieram à tona em sua edição 2018: tanto na Venezuela quanto na Nicarágua, países que vivem crises profundas e nos quais as instituições encontram-se destruídas, a maioria da população é a favor desse regime político e contra o autoritarismo.

A Venezuela, inclusive, cujo sistema político foi classificado pelo Índice da Democracia da revista britânica The Economist como “autoritário”, é o país da região que conta com a maior percentagem de apoiadores da democracia, 75%.

Essa percentagem, no entanto, representa uma leve queda ante o observado em anos anteriores. Em 2016 e 2017, esse índice estava em 77% e 78%, respectivamente. No que diz respeito ao apoio ao regime autoritário, apenas 6% da população disse preferir um regime político com essas características.

Já na Nicarágua, país que vive uma onda de protestos contra a presidência de Daniel Ortega, demonstrações essas duramente repreendidas por agentes do Estado, o apoio ao regime saltou onze pontos percentuais em apenas um ano, a maior variação constatada pela pesquisa atual, e está em 51%. Entre os nicaraguenses, o apoio ao autoritarismo é de 10%.

“Os povos da América Latina querem prosperidade e desenvolvimento”, finaliza Marta, “não há evidências de uma demanda por autoritarismo, mas sim evidências de que querem ordem e ausência de violência”, notou a especialista. “No momento em que a política tem menos valor, mais importância ela tem”.

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