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Apesar da crise: estes são os países que vão crescer em 2020

O ano de 2020 trouxe estragos sem precedentes. Mas mesmo com o mundo em recessão, alguns países devem seguir crescendo (e não só a China)

Hanoi, no Vietnã: país já vinha crescendo antes da crise e se beneficiou também por controlar melhor a pandemia (Kham/Reuters)

Hanoi, no Vietnã: país já vinha crescendo antes da crise e se beneficiou também por controlar melhor a pandemia (Kham/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 5 de dezembro de 2020 às 08h05.

Em janeiro, ninguém imaginava as proporções que uma desconhecida infecção respiratória que começava a ganhar os holofotes na China iria tomar. Passado um ano desde as primeiras informações sobre o coronavírus, a economia global deve encolher 4,4%, segundo as projeções de outubro do Fundo Monetário Internacional (FMI), e deixar um cenário de terra arrasada em todo o mundo, quase sem exceções.

Os analistas já apontam que a crise do coronavírus pode ser, inclusive, mais difícil de superar do que a recente crise de 2008, uma vez que a economia não poderá plenamente se recuperar sem uma vacina (em 2008, a economia global encolheu só 0,1%).

É neste cenário desafiador que chama atenção uma lista de duas dezenas de países que, mesmo em um ano dos mais difíceis da história, deverão ter avanço na economia em 2020.

Pela última projeção do FMI, de outubro, são 25 os países que terão crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, um grupo seleto dentre os mais de 220 países analisados pela organização. Se incluídos os que ao menos não terão recessão (com variação de zero na economia), o grupo sobe para 28.

A China, é claro, é a maior economia dentre esses países: a projeção do FMI é que os chineses cresçam 1,9% em 2020, um número baixo perto dos 6,1% do ano passado e dos mais de 10% nos anos recentes, mas ainda notável em tempos de crise.

Para além dos chineses, figuram na lista países da Ásia e do Oriente Médio, como Vietnã e Bangladesh, e países africanos, como o Egito e a Etiópia.

Com exceção da China, o avanço desses países menores deve ter "baixíssima relevância pra o Brasil", diz Arthur Mota, economista da Exame ResearchMas o crescimento chinês segue sendo boa notícia para as exportações.

"Em um cenário de dólar globalmente mais fraco e a China crescendo, o preço das commodities pode se recuperar e permanecer num patamar elevado, que, mantido o resto constante, é positivo para o Brasil. Soja, minério de ferro e proteína dominam nossa pauta, e dominam também a demanda chinesa", diz Mota.

A título de comparação, o FMI projetou em outubro queda de 5,8% no PIB do Brasil. A estimativa é um pouco pior do que a do governo brasileiro, que estima recuo de 4,5%. O boletim Focus desta segunda-feira, com base em analistas do mercado, trouxe a mesma projeção de 4,5% para 2020. Para 2021, a projeção do último Focus é de crescimento de 3,45% no Brasil.

O único país com crescimento em 2020 fora de África e Ásia será a Guiana, que também é o país que mais vai crescer no mundo, o único com dois dígitos. A bonança tem um motivo específico: a ex-colônia britânica, vizinha do Brasil, encontrou imensas reservas de petróleo no mar do Caribe e tem começado a colher os frutos da exploração -- com participação de empresas como a ExxonMobil, que começou a operar no fim do ano passado, e atração de engenheiros de todo o mundo.

Segundo o Credit Suisse, a ExxonMobil deve extrair 750.000 barris de petróleo por dia. Até o final da década, deverão ser obtidos 1,2 milhão de barris por dia. “É muita coisa”, disse em entrevista anterior à EXAME a americana Lisa Viscidi, diretora de energia e mudanças climáticas do instituto The Dialogue, dedicado a estudos econômicos e geopolíticos na América Latina. “Resta saber se o país terá condições de absorver e usar corretamente a súbita riqueza”.

Embora esse não seja o motivo principal e não se aplique a todos os casos, alguns dos países crescendo em 2020 também se beneficiaram ao serem menos afetados pela crise de saúde, por razões diversas. O Vietnã, por exemplo, tinha zero mortes por covid até julho, e mesmo hoje não passa de 35 vítimas (apesar de ter mais de 95 milhões de habitantes, mais que o dobro do estado de São Paulo).

A própria China, que foi o primeiro epicentro da covid-19, termina o ano com a pandemia melhor controlada do que em países europeus ou nos EUA.

"Em alguns desses países houve uma dinâmica mais favorável da pandemia do que países do Ocidente -- vemos isso pelo volume de novos casos dividido pela população, que é uma comparação mais justa. Esse cenário leva a medidas de restrição de mobilidade mais brandas, ajudando sobretudo o setor de serviços a suportar melhor o período de crise", diz Mota, da Exame Research. No Brasil, o setor de serviços, um dos mais afetados pela pandemia, gera dois terços dos empregos.

A recuperação virá do Oriente?

Projeção de crescimento dos países em 2020, segundo o FMI: o único a crescer fora de África e Ásia é a Guiana (FMI/Reprodução)

Países que vão crescer em 2020, segundo o FMI: o único fora de África e Ásia é a GuianaNomes como a Guiana, outrora considerada um dos países mais pobres do mundo, são ampla exceção. Para os países que o FMI classifica como mercados emergentes e em desenvolvimento, como o Brasil, a projeção conjunta é de queda de 3,3% no ano e de retomada de 6% em 2021.

A China, é claro, puxa a régua para cima nesse grupo. O cenário é pior na conta separada de América Latina e Caribe, com queda de 8,1% em 2020 e crescimento menor em 2021, de 3,6%.

A China também faz com que o saldo dos emergentes seja melhor do que o das economias desenvolvidas. Para o grupo dos países ricos (como Estados Unidos, Alemanha, França, Japão e Reino Unido), a previsão é de queda de 5,8% em 2020 e de crescimento de 3,9% em 2021.

O fenômeno é natural. Desde a década de 1990 o crescimento dos emergentes têm sido maior que o das economias já desenvolvidas. Mas, na crise do coronavírus e diante da guerra comercial EUA-China, um risco para os países ricos do Ocidente é ficar para trás na retomada do ano que vem.

Em relatório nesta semana, a OCDE melhorou sua projeção de queda global no PIB e disse que há mais otimismo para o mundo diante das boas notícias sobre as vacinas, mas reforçou que a recuperação entre os países será desigual. Enquanto a China se recupera rapidamente, o cenário será mais tortuoso para Estados Unidos e Europa, que devem contribuir menos com a recuperação nos próximos anos do que seu atual peso na economia, escreveu a organização.

A partir de agora, a corrida pela recuperação econômica passará por quem conseguir obter mais rápido a vacina contra a covid e retomar a "vida normal". A primeira vacina foi oficialmente aprovada no Reino Unido nesta semana, mas tem a barreira de necessitar de armazenamento a temperaturas muito baixas e ser mais cara. Países europeus e EUA também já planejam começar a vacinação em janeiro.

Uma preocupação é que os países mais pobres fiquem para trás nesse processo, tanto na corrida pela vacina quanto com com menos munição financeira para enfrentar os desafios econômicos sem fazer a dívida sair do controle. São desafios com os quais muitos dos pequenos notáveis países em crescimento neste ano também terão de lidar.


O que esperar para o final do ano na economia? Veja a análise dos economistas no Questão Macro, da EXAME, e assista aos novos programas toda quarta-feira às 13h30, no canal da Exame Research no YouTube

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