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Apertada, mas nem tanto: vantagem de Biden é igual à de Trump em 2016

Com 306 votos no colégio eleitoral, a chapa Joe Biden-Kamala Harris também teve mais votos do que nas eleições de Bush, Jimmy Carter e Nixon

Trump na posse, em janeiro de 2017, após vencer a eleição contra Hillary Clinton no ano anterior: no colégio eleitoral, vitória igual à de Biden (Pat Benic via Bloomberg/Getty Images)

Trump na posse, em janeiro de 2017, após vencer a eleição contra Hillary Clinton no ano anterior: no colégio eleitoral, vitória igual à de Biden (Pat Benic via Bloomberg/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 20 de novembro de 2020 às 15h32.

Última atualização em 20 de novembro de 2020 às 15h35.

Que a chapa de Joe Biden e Kamala Harris bateu recorde na votação popular, é sabido. Com o maior comparecimento do eleitorado em um século (e uma votação maior do que nunca em estados já democratas, como Califórnia e Nova York), Biden se aproxima de 80 milhões de votos e já bateu o recorde que antes pertencia a Barack Obama em 2008.

Mas a finalização da contagem de votos nos estados -- que têm até esta sexta-feira para divulgar os resultados -- traz ainda outra descoberta sobre a votação neste ano.

Com a confirmação da vitória de Biden na Geórgia hoje (após uma recontagem manual dos votos), o democrata chegou a 306 votos no colégio eleitoral, contra 232 do presidente Donald Trump.

Pelas ironias da história, é a mesma quantia que Trump teve na eleição de 2016, quando conseguiu 306 votos eleitorais, contra 232 de Hillary Clinton. 

Ao todo, Biden teve mais votos do que sete presidentes desde 1900: o republicano William McKinley (em 1900), o democrata Woodrow Wilson (em 1916), o democrata Harry Truman (em 1948), o democrata John F. Kennedy (em 1960). Mais recentemente, tiveram vitórias menores o republicano Richard Nixon (em 1968), o democrata Jimmy Carter (em 1976) e o republicano George W. Bush (em suas duas eleições, em 2000 e 2004).

Vale ressaltar que, até 1964, os EUA tinham menos do que os atuais 538 votos no colégio eleitoral. Na eleição de Kennedy, em 1960, eram 537 votos, só um a menos; em McKinley, em 1900, eram 447.

Desde que o número de votos no colégio eleitoral é igual ao atual, tiveram menos votos do que Biden os presidentes Nixon, Jimmy Carter e Bush. 

Já Trump em 2016 teve uma peculiaridade da legislação eleitoral. Naquele ano, na "hora H", que é o congresso em que os delegados representantes dos estados confirmam os votos populares, dois delegados que deveriam confirmar votos para Trump, do Texas, desertaram e votaram em outros candidatos de menor expressão -- um em Ron Paul e outro em John Kasich.

Hillary Clinton também perdeu cinco delegados, todos de Washington. Assim, Trump entra para a história com 304 votos, em vez de 306.

Os delegados são pessoas dos estados escolhidas para representar o voto da população, mas eram autorizados a ir contra as urnas. Os desertores em 2016 não foram suficientes para mudar o resultado da eleição (os dois delegados do Texas fazem pouca diferença porque os outros 36 dos 38 delegados do estado seguiram votando em Trump normalmente).

Neste ano, a Suprema Corte proibiu delegados "desertores" como os que mudaram de voto contra Trump e Hillary Clinton em 2016

De qualquer forma, a regra mudou neste ano, quando a Suprema Corte decidiu por unanimidade que os estados podem, se quiserem, obrigar seus delegados a votarem da forma como a população decidiu. Assim, há menos chances para deserções neste ano.

Se Biden for confirmado pelos delegados com 306 votos, terá oficialmente mais votos do que o atual presidente. A reunião do colégio eleitoral neste ano, que vai oficializar a vitória de Biden e seus votos, acontece em 14 de dezembro.

Ainda assim, a eleição foi acirrada

Os EUA têm um sistema eleitoral peculiar no mundo. Por lá, há na prática "uma eleição em cada estado". Em todos os 50 estados, com exceção de Maine e Nebraska, o vencedor em um estado leva todos os votos eleitorais, não importa o quão apertada tenha sido a diferença.

Apesar da vantagem de Biden no colégio eleitoral, a eleição de 2020 esteve, sim, entre as mais acirradas da história americana, assim como a de 2016.

Neste ano, a vitória de Biden foi especialmente apertada na Geórgia (0,2%), no Wisconsin (0,6% de vantagem) e no Arizona (0,2% de vantagem). Na outra ponta, Biden também ganhou com um pouco mais folga em lugares onde Trump teve vitória magra em 2016, como Pensilvânia e Michigan.

No Arizona e na Geórgia, em especial, a vitória de Biden foi vista como um marco: os democratas não ganhavam nesses estados desde Bill Clinton na década de 90.

É por isso que a campanha de Trump tem focado esforços em questionar a eleição nesses lugares decisivos, embora sem provas. Mas a vitória por alguns milhares de votos não é incomum nos EUA, e já aconteceu com Trump em 2016. Em 2016, Trump ganhou por pouco em lugares decisivos como Wisconsin (0,7%), no Michigan (0,3%) e na Pensilvânia (0,7%).

Cada estado tem um número de eleitores a depender do tamanho da população. Califórnia (55 votos), Texas (38) e Flórida (29) são os com mais votos. Mas desses, o mais importante é a Flórida, que é um estado com vencedor incerto todos os anos. Em 2016 e 2020, a Flórida escolheu Trump; em 2008 e 2012, Obama.

Isso faz com que esses estados em que o vencedor é incerto -- os chamados swing states -- sejam altamente disputados. Na reta final das campanhas, os candidatos focam os esforços nesses estados decisivos -- os democratas praticamente não precisam fazer campanha em Nova York, enquanto os republicanos não precisam fazer campanha na Louisiana.

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