O Canadá recebeu críticas da China e da França por ter abandonado o acordo (Chris Jackson/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2011 às 18h01.
Washington - A retirada canadense do Protocolo de Kioto representa um tapa na cara daqueles que têm se empenhado em esforços colossais para trazer todos os países a um único compromisso legal no combate às mudanças climáticas, mas seu impacto pode ser limitado.
Na segunda-feira, o Canadá se tornou o primeiro país a deixar formalmente o histórico tratado, firmado em 1997, tentando evitar pagar sanções de até 14 bilhões de dólares canadenses (US$13,6 bilhões) por descumprir as metas de cortes de emissões de carbono.
A decisão do governo do premier conservador Stephen Harper ocorreu menos de um dia depois de a Cúpula do Clima da ONU em Durban, na África do Sul, terminar com um acordo geral para reunir todos os países sob um único tratado climático.
Ambientalistas afirmam que uma ação vinculante é vital para alcançar os tipos de cortes de emissões que os cientistas dizem ser necessárias para que o mundo possa evitar os impactos das mudanças climáticas, inclusive o aumento de desastres naturais.
Josh Laughren, diretor do programa de clima e energia da seção canadense do Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Canada), afirmou que a decisão "realmente relega o Canadá à margem" da diplomacia climática internacional.
"No rastro de um acordo frágil em Durban, isto não traz esperanças. Mas no fim, mesmo tratados e protocolos internacionais legalmente vinculantes só são bons de acordo com o desejo dos governos de implementá-los", afirmou.
O Canadá se uniu, assim, aos Estados Unidos no grupo dos grandes países industrializados ausentes do Protocolo de Kioto. O ex-presidente americano, George W. Bush, se recusou a ratificar o tratado após ser empossado, em 2001, alegando ser injusto por não apresentar demandas a países emergentes, como Índia e China.
A decisão canadense gerou protestos internacionais. O porta-voz da chancelaria francesa, Bernard Valero, referiu-se ao anúncio como "má notícia para a luta contra as mudanças climáticas".
A China, que é o maior emissor do mundo e só concordou com relutância a aderir aos esforços liderados pelo Ocidente para buscar um pacto contra o aquecimento em Durban, pediu ao Canadá para "enfrentar suas responsabilidades e obrigações" e "honrar seus compromissos".
Elizabeth May, líder do Partido Verde do Canadá, afirmou estar preocupada com a reputação de seu país, e perguntou ao Parlamento, em Ottawa: "quem voltará a pensar que somos uma nação confiável?"
Mas alguns especialistas duvidaram sobre o impacto da medida, afirmando que o Canadá responde por cerca de 2% das emissões globais de gases estufa, apontadas como responsáveis pelas mudanças climáticas, e que União Europeia e Japão se comprometeram a cumprir os compromissos de Kioto.
Alden Meyer, da União de Cientistas preocupados, uma organização sediada nos Estados Unidos e que apoia ações contra as mudanças climáticas, afirmou que o Canadá é uma "aberração" da tendência global.
"O Canadá é realmente um ator insignificante em termos de emissões e na liderança diplomática neste processo", disparou Meyer.
O primeiro-ministro Harper procurou incentivar a produção de petróleo a partir de areias de alcatrão - um método altamente sujo - e exportá-lo aos Estados Unidos através de uma controversa extensão do oleoduto Keystone.
"A decisão canadense não é uma surpresa, uma vez que (o país) já é visto como um transgressor climático internacional", acrescentou Meyer.
Outros argumentaram que o modelo de Kioto torna-se cada vez mais irrelevante, devido à pouca probabilidade de que Estados Unidos e China assinem compromissos vinculantes em um tratado futuro.
"O Canadá está simplesmente reconhecendo o que viemos a aprender", resumiu William Antholis, diretor-gerente do 'think-thank' The Brookings Institution, coautor de um livro sobre as tensas negociações climáticas de Copenhague, em 2009.
"A contribução da assinatura de Kioto foi reconhecer a importância da ação contra as mudanças climáticas", afirmou Antholis.
"Mas nós vivemos em um mundo pós-Kioto, onde o que as pessoas fazem realmente é muito mais importante do que compromissos legalmente vinculantes intrincados que não são nem compromissos reais, nem legais, nem vinculantes", afirmou.