Argentina: cenário de segundo turno preocupa investidores (Bloomberg /Bloomberg)
Agência de notícias
Publicado em 19 de outubro de 2023 às 08h39.
Última atualização em 21 de outubro de 2023 às 10h46.
A apreensão toma conta dos detentores de US$ 65 bilhões de títulos soberanos argentinos antes da eleição presidencial de domingo, com quase todos os cenários apontando para novas perdas de investimento. Seguem três possíveis resultados para os quais os investidores estão se preparando:
Os operadores de renda fixa temem que os títulos argentinos afundem se o líder libertário Javier Milei, frequentemente comparado a Donald Trump, vencer a eleição já no primeiro turno, em 22 de outubro — ou se assegurar uma porcentagem bastante grande dos votos antes de um segundo turno em novembro.
Sua proposta de combater a disparada de preços com a dolarização da economia é vista por muitos analistas como uma medida arriscada que pode alimentar ainda mais a inflação no curto prazo. E ninguém sabe como ele conseguiria isso sem maioria no Congresso.
“Em uma vitória de Milei, sua falta de apoio no Senado e Câmara cria um empecilho contra suas ideias mais radicais”, disse Trevor Yates, analista de investimentos da Global X em Nova York. “Se ele quiser realmente dolarizar a economia, terá de normalizar a política fiscal e econômica no curto prazo.”
A redução do déficit público e a eliminação dos controles de capitais também fazem parte da plataforma da ex-ministra da Segurança e candidata pró-negócios Patricia Bullrich. Os títulos poderão receber um impulso se Bullrich, a preferida de muitos investidores, tiver um bom desempenho no domingo.
Ela propõe uma abordagem ortodoxa para combater a inflação: reduzir os gastos públicos e parar de imprimir pesos para cobrir as despesas do governo.
“É mais uma questão de quem tem a melhor capacidade de implementar as políticas após as eleições”, disse Claudia Calich, chefe de dívida de mercados emergentes da M&G Investments. Há “uma longa lista de coisas que precisam ser feitas por quem quer que seja eleito”.
Os investidores temem que os títulos argentinos caiam ainda mais caso Milei enfrente o ministro da Economia e candidato da situação, Sergio Massa, no segundo turno em novembro. Isso porque espera-se que Massa, se eleito, continuaria seus programas de gastos financiados pela impressão de papel-moeda, aumentando a inflação que já chega a 138%.
“Acho que Milei versus Massa no segundo turno seria o pior de todos os cenários possíveis”, disse Patrick Esteruelas, da Emso Asset Management. A tática de gastos de Massa é “transformar o que já era um cálice envenenado para um eventual sucessor em um cálice intragável”.
Em qualquer eleição existe a possibilidade de um resultado inesperado. Dado o desempenho superior de Milei nas primárias de agosto, as chances de um segundo turno com o duo Bullrich-Massa são mínimas — mas não é impossível. Nesse caso, os investidores veem Bullrich como uma provável vencedora, o que poderá ser bom para os títulos.
“Com as eleições chegando e os títulos soberanos onde estão, é hora de apertar os cintos e se preparar para outra montanha-russa argentina”, disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management.