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Analistas dizem que plano da Liga Árabe aponta fim de Assad

Organização pediu uma ação da ONU e defendeu que o ditador deixe o poder em até dois meses

A Liga Árabe quer o fim da violência na Síria (Louai Beshara/AFP)

A Liga Árabe quer o fim da violência na Síria (Louai Beshara/AFP)

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Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2012 às 17h44.

O último plano da Liga Árabe para por fim à crise na Síria indica que os Estados membros veem a era Assad chegando ao fim, apesar de este ser, possivelmente, um demorado processo, disseram analistas nesta segunda-feira.

"Eu acredito que, ontem, a Liga Árabe tirou o coelho da cartola," disse Salman Shaikh, diretor do Brookings Doha Center.

"A trajetória política que eles sugeriram é altamente significativa... Ela está efetivamente sinalizando que (o presidente sírio) Bashar al-Assad tem que renunciar" disse ele.

A Liga Árabe, de 22 membros, que em dezembro enviou uma equipe de observadores para uma Síria assolada por conflitos, pediu no domingo que a Organização das Nações Unidas apoie um novo plano para acabar com a matança.

Damasco rejeitou rapidamente o plano, estabelecendo uma transferência de poder de Assad para seu substituto e um governo de unidade nacional dentro de dois meses, interpretando-o como interferência em assuntos internos e um ataque à soberania da Síria.

Especialistas dizem que o plano, adotado unanimemente na reunião ministerial no Cairo com abstenção apenas do Líbano, sinaliza que os vizinhos da Síria estão se preparando para uma era pós-Assad.

"Eles não estão mais falando de uma missão de observação" para a Síria, disse Shaikh, referindo-se à equipe liderada pelo Sudão que divulgou este mês um relatório da missão amplamente criticada sem fazer alarde.

"O esforço seria agora para reunir a comunidade internacional em torno desse plano para uma transição pós-Assad na Síria" disse Shaikh à AFP.

Contudo, não há garantia de que o Conselho de Segurança da ONU vá se unir em um plano de ação, com a China e a Rússia se recusando a condenar a repressão do regime a uma revolta de dez meses.

"A Liga Árabe precisará fazer muitos trabalhos diplomáticos nos bastidores, incluindo se engajar em um diálogo estratégico com os russos e chineses", disse Shaikh.


Embora pedido da Liga Árabe para que Assad se prepare para deixar o poder tenha marcado a primeira posição unânime sobre a Síria, especialistas disseram que ele ainda ficou aquém de um pedido inequívoco para o controverso ditador renunciar.

Este foi "um passo importante em direção à fase pós-Assad, apesar de haver atualmente poucos indicadores de que qualquer mudança real aconteça em um futuro próximo", disse Paul Salem, diretor do Carnegie Middle East Center, de Beirute.

"O plano da Liga Árabe é significativo porque oferece um terceiro caminho, uma solução que marca nem uma completa vitória para o regime de Assad nem para os manifestantes", acrescentou Salem à AFP.

A crise síria, que surgiu em meados de março, deixou mais de 5.400 pessoas mortas, de acordo com as Nações Unidas.

Conforme o número de mortos aumenta, sem uma intervenção internacional, analistas alertam que o plano árabe pode permanecer em ponto morto por muitos meses sem qualquer mudança imediata no cenário político em Damasco.

"A rejeição pelo regime sírio do plano da Liga Árabe provavelmente se traduzirá em mais banho de sangue e repressão, como vimos no passado", disse Hilal Khashan, professor de Ciência Política da American University de Beirute.

"A Liga Árabe desistiu de esperar as reformas de Assad... mas ela ainda não apresentou um plano para que Assad assine nem pediu a ele para prometer que vai renunciar", disse Khashan à AFP.

"Este é o começo do que se mostrará um processo muito longo", acrescentou. "Mas não há mais volta".

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