General Gus Perna, que supervisiona a operação logística como parte da estratégia antipandemia do governo, comparou momento ao Dia D, ponto de inflexão da Segunda Guerra Mundial. (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 12 de dezembro de 2020 às 18h46.
A vacina de covid-19 da Pfizer-BioNTech chegará na manhã desta segunda-feira a hospitais e outros locais de inoculação nos Estados Unidos, pronta para ser injetada em milhões de pessoas nos setores mais vulneráveis, anunciou um alto funcionário neste sábado.
As doses começarão a ser enviadas no domingo da fábrica da Pfizer em Kalamazoo, no estado do Michigan. As doses serão armazenadas em caixas com gelo seco capazes de ficar a -70 graus Celsius, temperatura necessária para manter a vacina ativa.
O general Gus Perna, que supervisiona a massiva operação de logística da vacina, comparou o momento ao Dia D, o ponto de virada da Segunda Guerra Mundial.
"Estou absolutamente 100% certo de que distribuiremos com segurança esse produto precioso, essa vacina necessária para derrotar o inimigo", disse ele a repórteres.
A notícia chega quando a pandemia atinge o país com mais força. Os Estados Unidos são o país com mais luto do mundo, com quase 300.000 mortes por covid-19 e quase 16 milhões de infecções.
Nas últimas duas semanas, os Estados Unidos ultrapassaram várias vezes as 2.000 mortes diárias relacionadas ao novo coronavírus, números semelhantes aos piores picos dos primeiros meses da pandemia.
Perna disse que centenas de locais, incluindo hospitais e outros centros de distribuição, receberão as vacinas entre segunda e quarta-feira, o que cobriria a primeira fase da vacinação, com cerca de três milhões de pessoas imunizadas.
As autoridades de saúde do país recomendaram que os trabalhadores de saúde e residentes de asilos tenham prioridade, mas as decisões serão deixadas para os governos estaduais.
Os Estados Unidos se tornaram o sexto país a autorizar a vacina Pfizer/BioNTech na noite de sexta-feira -- o primeiro foi o Reino Unido, que já começou a vacinar a população.
Foi um momento de triunfo para a gigante americana e sua parceira alemã BioNTech, que começaram a trabalhar na vacina, baseada na tecnologia experimental de mRNA (ácido ribonucleico mensageiro), há apenas 11 meses.
Embora a aprovação da vacina já fosse aguardada, ela surgiu em meio a polêmicas. A mídia dos EUA informou que o presidente Donald Trump ameaçou o diretor da Food and Drug Administration (FDA), a agência sanitária dos EUA, com demissão se ele não desse a aprovação de emergência da vacina na sexta-feira.
Neste sábado, o comissário do FDA, Stephen Hahn, negou esta informação aos jornalistas: "As declarações na imprensa de que ameaçaram me despedir se não o fizéssemos antes de uma determinada data são imprecisas".
Em um ensaio clínico com 44.000 voluntários, a vacina demonstrou ser 95% eficaz na prevenção de covid-19 e não há evidência de efeitos colaterais graves.
Mas depois de dois casos de alergias graves relatados no Reino Unido esta semana, a FDA desaconselhou a vacina para pacientes que já tiveram "reações alérgicas graves" a seus componentes ou vacinas semelhantes.
Se algum paciente receber a primeira dose e apresentar uma reação alérgica grave, é aconselhável não tomar a segunda dose.
A FDA não tomou nenhuma decisão final sobre se mulheres grávidas ou imunocomprometidos devem receber as injeções, convidando as pessoas nessas condições a tomarem a decisão com seus médicos.
"Não havia mulheres grávidas suficientes nos ensaios, ou mulheres que engravidaram durante os ensaios para realmente saber e fazer qualquer declaração sobre isso", disse o cientista do FDA Peter Marks.
Marks também expressou apoio ao plano da Pfizer de permitir que as pessoas que participaram do ensaio clínico descobrissem se receberam a vacina ou o placebo.
Segundo essa proposta, se receberam o placebo, podem solicitar a vacina quando chegar sua vez pelos critérios sanitários.
Alguns cientistas se opuseram a essa medida porque, se os participantes do estudo descobrissem que substância receberam, eles poderiam mudar seu comportamento e isso corromperia os dados do estudo.
Mas para Marks, "a quantidade de dados cegos que recebemos deve ser equilibrada com a necessidade de proteger as pessoas de uma pandemia que ceifa milhares de vidas diariamente".