Donald Trump: “Os países que defendemos devem pagar os custos disso. Senão, os EUA devem se preparar para que os deixem se defender sozinhos. ” (Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 28 de abril de 2016 às 16h42.
São Paulo – Possível candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, o polêmico empresário Donald Trump falou aos americanos ontem sobre a linha que pretende seguir na política externa. Se, é claro, passar a ocupar a Casa Branca depois das eleições que acontecem em novembro de 2016.
Trump não poupou Barack Obama, atual presidente do país, e Hillary Clinton, ex-secretária de Estado e sua provável rival no pleito presidencial, de críticas quanto a maneira como a política externa dos EUA foi conduzida nos últimos anos."Nossa política externa é um desastre completo", disse o empresário, "não há visão, propósito, direção ou estratégia. "
O nome do seu programa é uma mensagem clara ao planeta: America comes first (“América em primeiro lugar”). O slogan se popularizou entre as décadas de 30 e 40 entre vozes que se opuseram ao envolvimento americano na Segunda Guerra Mundial. Sinalizaria, portanto, a adoção de uma postura isolacionista pelo país mais poderoso do mundo.
No entanto, a escolha de palavras foi vista com ceticismo, especialmente pela classe política americana envolvida na política externa do país. "Usar esse slogan mostra que ele tem amnésia ou não entende de história”, disse ao The New York Times Nicholas Burns, ex-oficial do Departamento de Estado durante o governo Bush e atual conselheiro de Hillary.
Veja abaixo alguns dos pontos da proposta delineada por Donald Trump.
Terrorismo
Trump enxerga que o uso das forças militares é necessário em alguns eventos, mas reconhece que conter a ameaça terrorista deve incluir, também, uma espécie de batalha filosófica, “como nossa longa batalha durante a Guerra Fria”. Para tanto, quer construir pontes com “amigos no mundo muçulmano”, que são as maiores vítimas do radicalismo.
Essa via de mão dupla, contudo, não deve vir de graça para os países que cooperarem com o governo Trump nesse assunto: “eles devem ser bons conosco e lembrarem de tudo o que fizemos por eles”.
Rússia e China
“Queremos viver em paz com a Rússia e com a China”, disse Trump. O pré-candidato sinalizou o desejo de se aproximar de Vladimir Putin especialmente em negociações para conter organizações terroristas. “Alguns dizem que a Rússia não será razoável, mas eu quero descobrir”, declarou. Quanto aos chineses, Trump disse querer trabalhar para melhorar essa relação. “Uma América forte e inteligente é uma América que tem a China como boa amiga”.
Aliados devem contribuir. Financeiramente
Na visão de Trump, os países aliados não estão fazendo a sua parte na contribuição com os custos humanos e financeiros da segurança internacional. Na Otan, citou ele como exemplo, apenas quatro dos 28 membros gastam o mínimo de 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) com a Defesa. “Os países que defendemos devem pagar os custos disso. Senão, os EUA devem se preparar para que os deixem se defender sozinhos”, pontuou.
Amigos devem ser mais bem tratados
Segundo o empresário, os EUA precisam se reaproximar de seus amigos como Egito, Polônia e República Tcheca. Em tom de crítica a Obama, Trump chamou o acordo nuclear com o Irã de “desastroso”, disse que sob sua administração, o país jamais terá uma arma nuclear e que o atual presidente tratou os iranianos melhor que os israelenses, “nossos grandes amigos”.
Entre colegas de partido e até entre diplomatas de nações aliadas, como a Alemanha e Suécia, a recepção do discurso não foi boa. O senador Lindsay Graham, via Twitter, considerou a fala de Trump “patética”, além de “isolacionista e desconectada”.
Para o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, tal isolacionismo é preocupante. “Nenhum presidente conseguirá mudar a arquitetura da segurança internacional. E ‘América em primeiro lugar’ não é a resposta”, disse à Reuters. Carl Bildt, ex-primeiro ministro sueco, acusou Trump de estar abandonando aliados e valores democráticos.