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Ameaçado por tarifas, comércio entre Brasil e EUA bateu recordes após a pandemia

Americanos ampliaram negócios com os brasileiros após 2021, enquanto buscavam fornecedores mais próximos

Bobina de aço em fábrica, preparada para exportação (Julio Aguilar/AFP)

Bobina de aço em fábrica, preparada para exportação (Julio Aguilar/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 17h41.

O comércio entre Brasil e Estados Unidos, ameaçado pela imposição de tarifas por parte do presidente Donald Trump, registrou vários recordes nos últimos anos, que foram comemorados pelo governo brasileiro.

As exportações brasileiras aos EUA ganharam força a partir de 2021. Após a pandemia, os americanos buscaram reduzir as compras da China e diversificar fornecedores. O recorde histórico no comércio bilateral foi registrado em 2022, quando a corrente de comércio (soma de importações e exportações) atingiu US$ 88,7 bilhões, sendo US$ 51,3 bilhões em vendas, segundo dados da Câmara de Comércio Brasil-EUA (Amcham).

Em 2023, houve queda e as vendas foram de US$ 38,9 bilhões. No ano seguinte, 2024, houve uma retomada e a corrente de comércio superou US$ 80,9 bilhões de dólares, o segundo maior valor da história,

Já as importações brasileiras bateram recordes em valor e volume. Foram US$ 40,3 bilhões em vendas, alta de 9,2% em relação a 2023, e 40,7 milhões de toneladas, avanço de 9,9% sobre o ano anterior.

Houve, ainda, recorde de exportações industriais brasileiras para os EUA. Foram US$ 31,6 bilhões em vendas, crescimento de 5,8% em relação a 2023. O país é o principal destino das exportações industriais brasileiras, com 17,8% do total.

No ano passado, o governo brasileiro destacou que o total de empresas do Brasil que exportam para os Estados Unidos bateu recorde. Em 2023, 9.533 companhias nacionais venderam produtos ao país norte-americano. Em 2000, como comparação, havia 4.664 empresas brasileiras na lista de importadoras.

O levantamento mostrou ainda que as empresas que exportam aos EUA pagam melhores salários aos funcionários e empregam mais mulheres, na comparação com companhias que vendem a outros países.

"Nunca na história tantas empresas exportaram para um único destino quanto exportaram no ano passado para os Estados Unidos", disse à epoca Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC. "Isso é algo que interessa porque ampliar a base exportadora do Brasil é um objetivo do governo federal."

No começo de 2025, antes da posse de Trump, a Amcham previa que o fluxo comercial entre os dois países se manteria próximo do nível dos últimos anos, pois os dois países têm projeção de crescimento em torno de 2% ao ano, o que aumenta a demanda por produtos.

No entanto, "o cenário de elevadas incertezas no contexto internacional e eventual aplicação de restrições comerciais podem influenciar o comércio bilateral", apontou a entidade.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. Os principais produtos americanos exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram:

  • Óleos brutos de petróleo
  • Produtos semi-acabados de ferro ou aço
  • Aeronaves e suas partes
  • Café não torrado
  • Ferro-gusa, e ferro-ligas
  • Óleos combustíveis de petróleo
  • Celulose
  • Equipamentos de engenharia civil
  • Sucos de frutas ou de vegetais
  • Carne bovina

Taxas ao aço e alumínio

Trump assinou na segunda-feira, 10, um decreto que oficializa a adoção de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio feitas por todos os países. A medida passa a valer em 12 de março.

Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor do metal para os EUA, atrás apenas do Canadá. No acumulado do ano, o país vendeu 4,08 milhões de toneladas, representando 15,5% de tudo que os Estados Unidos compraram de fora.

No ano passado, segundo a Amcham, o Brasil exportou mais de US$ 5,7 bilhões em aço e ferro para os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras. No mesmo ano, o Brasil exportou US$ 267 milhões em alumínio para o mercado americano, equivalente a 16,7% das vendas globais brasileiras.

Além de exportar aço para os EUA, o Brasil importa do país muitos produtos industriais feitos com o material, como máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação. "Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana", avalia a Amcham, em nota.

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