Clima em transe: dos 20 maiores incêndios florestais da Califórnia, 15 ocorreram desde 2000. (SandyHuffake / Stringer/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 18 de novembro de 2018 às 08h15.
São Paulo – Ao menos 78 pessoas morreram e mais de 1.000 estão desaparecidas nos mais mortais incêndios da Califórnia, que entram na sua segunda semana. Desde que se iniciou, em 8 de novembro no norte do estado norte-americano, o Camp Fire já destruiu quase 10 mil casas e ceifou incontáveis vidas animais.
A pequena cidade de Paradise é a mais afetada pelo fogo, que já consumiu mais de 60 mil hectares. O segundo foco de incêndio — o de Woolsey — nos arredores de Los Angeles, no sul do estado, já destruí centenas de casas, entre as quais as da cantora Miley Cyrus e do ator Gerard Butler.
As causas destes incêndios ainda estão sendo investigadas. Há quem ponha a culpa em falhas em redes elétricas e quem responsabilize a intervenção humana. Mas há um pano de fundo por trás desses desastres: as mudanças climáticas.
O fogo é uma parte natural da ecologia da Califórnia. Por meio de queimadas frequentes, as florestas do norte ao sul da região evoluíram ao longo de milhares de anos: elas ajudam a regenerar e espalhar sementes para a próxima geração de árvores. Mas, o tamanho e a ferocidade dos incêndios que varrem o estado estão aumentando.
Dos 20 maiores incêndios florestais registrados na história da Califórnia, 15 ocorreram desde o ano 2000. Só em 2017, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, a temporada de incêndios custou mais de US$ 2 bilhões, a mais cara já registrada. A maioria dos anos mais quentes e mais secos do estado ocorreu durante as duas últimas décadas também.
Não há coincidências aqui. O ar mais quente e a redução das chuvas deixam as árvores, os arbustos e as pastagens mais secos e, portanto, mais propensos a queimar. Devido a esse efeito, os incêndios florestais estão se tornando mais frequentes e violentos por lá. Para piorar, esse ciclo de queimadas retroalimentam a mudança do clima.
Explica-se: as florestas saudáveis removem o dióxido de carbono (CO2), o principal gás causador do efeito estufa, da atmosfera e o armazenam como carbono enquanto crescem. Quando as árvores morrem, elas liberam CO2 de volta para a atmosfera. Incêndios como os que castigam a Califórnia podem resultar em grandes emissões de CO2 de volta para o ar, o que alimenta o efeito estufa.
Há outro fator que explica a dimensão da tragédia na Califórnia: as pessoas estão cada vez mais se movendo para áreas próximas às florestas, conhecidas como interface urbano-floresta, que estão propensas a queimar. A população do estado está se aproximando aproximando de 40 milhões, com um incremento de 300.000 pessoas por ano desde 2010. Ao menos 5 milhões de residências se encontram nessas fronteiras perigosa, o que aumenta o risco de encontros mortais com o fogo.