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Ambição de Grace Mugabe fez naufragar regime no Zimbábue

Decididos a evitar que a esposa de Mugabe fosse nomeada a nova vice-presidente, os militares decidiram na quarta-feira tomar o controle do regime

Grace Mubage: ela foi considerada durante anos como uma viciada em compras (Philimon Bulawayo/Reuters)

Grace Mubage: ela foi considerada durante anos como uma viciada em compras (Philimon Bulawayo/Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de novembro de 2017 às 15h55.

Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 16h04.

A queda do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, foi o resultado das ambições de Grace, sua esposa que, ansiosa por sucedê-lo, acabou sendo a gota d'água para os militares.

Grace Mugabe, 41 anos mais jovem que seu marido, foi considerada durante anos como uma viciada em compras. Mas aos poucos ganhou protagonismo na vida pública e se tornou a favorita para suceder seu marido, sobretudo depois que Mugabe destituiu na semana passada seu principal rival, o vice-presidente Emmerson Mnangagwa.

Decididos a evitar que Grace, de 52 anos, fosse nomeada a nova vice-presidente do país, os militares decidiram na quarta-feira (15) tomar o controle e acabar com o regime.

"A crise foi provocada por Grace porque queria tomar o poder", explica à AFP Shadrack Gutto, diretor do Centre for African Renaissance Studies, da Universidade da África do Sul.

"Foi além de suas possibilidades. Fez muito para acelerar a saída de seu marido do poder. Os militares decidiram que já chega", explica.

As ambições políticas de Grace tinham o apoio do chamado "G-40", um grupo com reputação violenta. Esta facção, que inclui alguns ministros, foi o principal alvo dos militares desde que anunciaram na televisão oficial na primeira hora de quarta-feira que levariam à Justiça os "criminosos" próximos a Mugabe.

"Tinha que agir"

"O Exército do Zimbábue acredita que tem o direito de ter um presidente que lhe agrade", assegura à AFP Knox Chitiyo, do think-tank Chatham House. "Tinha que agir antes que Grace fosse nomeada vice-presidente no congresso do ZANU-PF [partido de Mugabe] no mês que vem", explica.

Nascida na África do Sul, Grace era uma das secretárias de Mugabe quando, em 1987, começou a história de amor. Tiveram dois filhos em segredo até a morte da então esposa de Mugabe, em 1992.

Em 1996 celebraram um pomposo casamento, com Nelson Mandela como convidado, e depois tiveram um terceiro filho.

Grace obteve o doutorado na Universidade do Zimbábue, comandada por seu marido, aparentemente apenas três meses depois de sua inscrição. E em 2014 se tornou a líder da seção feminina do partido ZANU-PF.

Foi acusada em inúmeras ocasiões de gastos extravagantes em roupas de luxo e viagens ao redor do mundo, além de seu suposto envolvimento em transações imobiliárias corruptas.

"Gucci Grace"

Apelidada por seus críticos de "Gucci Grace" e "A primeira compradora", a esposa de Mugabe mostrou seus dotes políticos em 2014 com uma campanha contra a então vice-presidente Joice Mujuru, uma aspirante a suceder seu marido.

Grace lançou duros ataques contra Mujuru, acusando-a de conspirar para derrubar o presidente. Pouco depois, Mujuru foi expulsa do ZANU-PF.

O estilo agressivo de Grace e pouco próximo às pessoas não a tornaram popular em seu país, apesar de seus partidários terem tentado lhe dar apelidos afetuosos como "Dr Amai" ("Doutora Mãe") e "Rainha das rainhas".

Em seus discursos, ela sempre clama contra os que acusam o presidente de deslealdade e seu conhecido mau humor foi parar nas manchetes em agosto, quando supostamente atacou uma modelo que estava com seus dois filhos em um hotel na África do Sul.

Entretanto, assegurou em um programa televisivo sul-africano que não se preocupa com o que pensam dela. "Tenho o couro duro, nem me importo", explicou.

Com a piora constante da saúde de Mugabe, de 93 anos, Grace poderia se ver agora próxima ao exílio ou de negociar uma saída do país junto com sua família.

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