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Da Redação
Publicado em 21 de dezembro de 2012 às 11h58.
Alto Paraíso - Muitos que temiam o fim do mundo nesta sexta-feira viajaram a Alto Paraíso, no centro do Brasil, convencidos de que este município de tradição esotérica e ex-refúgio de hippies seria um bunker natural contra a catástrofe.
Pela segunda vez em pouco mais de uma década, Alto Paraíso, 230 km ao norte de Brasília, se preparou para receber uma quantidade incomum de visitantes, entre eles muitos estrangeiros.
A primeira vez foi em 2000 por ocasião da mudança de século. Na época, muitos também fugiram para a região, pensando que algo muito grave poderia ocorrer.
Augusto Vinholis se identifica como um veterano biomédico de São Paulo. Por 30 anos, acreditou que o mundo poderia acabar em 21/12/2012 e, sem se importar com as provocações, organizou seu próprio refúgio: uma casa de 10 metros de altura por 10 metros de diâmetro, com nove quartos e reservas suficientes de água e comida.
"Estou me preparando para o pior, embora possa não ocorrer", disse à AFP antes de se fechar por dois dias com sua esposa, quatro de seus cinco filhos, noras, netas e sua secretária.
Influenciado por uma mistura de interpretações bíblicas e maias, Vinholis acredita que o mundo entrará em um período curto de escuridão, e que a terra irá tremer e liberar gases terríveis.
Pela cabeça de Julio Álvarez, um colombiano que trabalha como pedreiro, também passam ideias catastróficas. Convenceu um brasileiro para que, em troca de trabalho, lhe concedesse uma das casas de forma ovaloide, com entradas de luz ao estilo de uma nave espacial, construída no ponto mais alto do município.
"Nesta casa não há telhas que possam cair. Se houver um terremoto pode resistir e se a água nos alcançar tenho um colchão para flutuar. Pode ser no dia 21, no dia 24, mas que algo vai acontecer é certo. Temos que nos preparar", diz Álvarez, de 54 anos, acompanhado de seu cachorro "Avatar".
No entanto, Alto Paraíso não atrai apenas os que acreditam no fim do mundo, mas também os que, mais místicos, afirmam que o dia 21 é o início de uma era de mudanças que coincide com o término de um ciclo maia de 5.200 anos.
"O dia é mais simbólico que outra coisa, a palavra fim tem uma força muito grande que também significa" assumir a vida "com uma finalidade mais espiritual", afirmou Luis Salvi, escritor de temas místicos.
Mas também há os incrédulos que buscam aproveitar economicamente a data. "No último ano as vendas de imóveis triplicaram, os preços duplicaram e não há local para alugar", disse à AFP Nilton Kalunga, corretor imobiliário.
Em Alto Paraíso vivem cerca de 7.000 pessoas, e para esta sexta-feira e fim de semana eram esperados até 10.000 visitantes.
A 1.200 metros acima do nível do mar, muito afastado da costa, o município se levanta sobre uma área abundante de cristais de rocha, principalmente quartzo, e é atravessado pelo paralelo 14, que também cruza o famoso complexo inca de Machu Picchu.
Estas características, somadas à abundante vegetação e às múltiplas cascatas, são consideradas uma fonte privilegiada de energia espiritual. Entre as décadas de 1970 e 1980, foi refúgio de hippies e de espíritas, mais tarde de seguidores da "Nova Era" e hoje de ambientalistas.
Um portal em forma de nave espacial marca a entrada do município. Casas e lojas são decoradas com figuras alienígenas, discos voadores, mandalas e em apenas uma avenida localizam-se templos, lojas esotéricas, restaurantes vegetarianos e espaços de meditação.
Diante da expectativa pela data, alimentada por informações da imprensa que falaram até de um possível desabastecimento, as autoridades duplicaram o número de policiais, patrulhas, médicos e bombeiros.
Não falta comida, nem gasolina, nem água, apenas "quisemos prevenir qualquer emergência", disse à AFP o prefeito Alan Barbosa, um dos muitos incrédulos do fim do mundo.