Alta do trigo faz com que produtores substituam a produção de outros alimentos pelo cereal (Mychele Daniau/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Buenos Aires - A alta do preço do trigo, causada pela interrupção das exportações da Rússia, acelera a semeadura do cereal na Argentina, enquanto o governo prevê para 2010 uma melhora na produção para 13 milhões de toneladas.
"A alta do preço do trigo fortalece a intenção de completar a cobertura" de hectares semeados, disse em um comunicado a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.
Segundo a entidade, "em alguns casos, os lotes de cevada são abandonados para incorporar o trigo, impulsionados pela melhora de sua cotação".
O preço do trigo alcançava seu maior nível em dois anos nesta sexta-feira no mercado futuro de Chicago, onde o cereal era negociado a 7,5250 dólares o bushel (35 litros) às 15h25 GMT (12h25 de Brasília), contra 6,6150 na semana passada.
Para a temporada 2010/2011, espera-se que a superfície semeada de trigo na Argentina alcance 4,2 milhões de hectares, o que significaria 900.000 hectares a mais que na temporada anterior do país, potência mundial de grãos e alimentos.
"Apesar de continuar a incerteza em relação à comercialização, é de se esperar que se superem as 4 milhões de hectares de trigo", informou nesta sexta-feira a Bolsa de Comércio de Rosário, principal porto de exportação de grãos do país.
Segundo o Ministério da Agricultura, 88,6% dos hectares previstos já estão plantados e deverão completar-se no restante da época de semeadura que se estende de abril a setembro.
O anúncio da Rússia, terceiro exportador mundial de trigo, de um embargo de suas exportações desse cereal e seus produtos derivados a partir de meados de agosto, devido à queda das colheitas pela seca que afeta o país, alenta os agricultores da Argentina, que padeceram do mesmo flagelo em 2009.
O governo prioriza o consumo interno de trigo, de em torno de 6 milhões de toneladas anuais, e apenas exporta o excedente, a maior parte ao Brasil, seu principal comprador.
A Bolsa de Rosário estimou que o comportamento do mercado externo "contaminou o mercado local, onde o preço do trigo novo alcançou valores impensados há alguns meses, quando os produtores começaram as semeaduras".
Apesar de se beneficiarem com a alta global dos preços, os produtores temem perder a oportunidade de recuperar mercados no mundo.
"Nos esquecemos de produzir trigo na Argentina. Até 2006, a produção rondava em 16 milhões de toneladas", lamentou-se Santiago Cameron, presidente da Associação de Produtores de Trigo, que responsabilizou o governo que "nos forçou a fazer outras coisas: produzir mais soja e outros cultivos".
A Argentina é um dos principais exportadores mundiais de grãos: o primeiro em azeite de soja, terceiro em grãos de soja, segundo de milho e quarto de trigo.
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