O deputado venezuelano Diosdado Cabello (centro) gesticula ao lado de apoiadores do presidente venezuelano Nicolás Maduro durante um comício em direção ao palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, em 30 de julho de 2024 (Federico Parra/AFP)
Publicado em 31 de julho de 2024 às 08h30.
Última atualização em 31 de julho de 2024 às 08h36.
Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e chefe de campanha do presidente Nicolás Maduro, pediu ao Ministério Público nesta terça-feira que prenda a líder da oposição, María Corina Machado, e seu candidato, Edmundo González, a quem acusou mais uma vez de serem fascistas.
"Com o fascismo não há diálogo, eles não recebem benefícios processuais, não são perdoados", afirmou diante do Parlamento controlado pelos chavistas. "As leis são aplicadas a eles e o Ministério Público tem de agir não apenas com os bandidos viciados em drogas que são pagos para aterrorizar, mas também com seus chefes. E não estou me referindo apenas a María Corina Machado, mas também a Edmundo González, porque ele é o chefe da conspiração fascista.
Durante a sessão, o deputado Diosdado Cabello, vice-presidente do chavista Partido Socialista da Venezuela (PSUV), também se pronunciou, ameaçando mais prisões após a do líder da sigla de oposição Voluntad Popular, Freddy Superlano, na manhã desta terça-feira.
Cabello disse que, além das 730 prisões informadas pela procuradoria-geral da República nesta manhã, há dez líderes da oposição que estão na mira do sistema judiciário chavista.
"Já temos dez líderes que serão detidos", afirmou. "Temos as conversas e comunicações, seja qual for seu nome, seja qual for seu sobrenome, eles serão presos".
Durante a campanha, González foi constantemente atacado por altos funcionários do governo, mas esta é a primeira vez que pediram que ele fosse preso.
Apoiadores de Edmundo González Urrutia, candidato pela Plataforma Unitária (PUD) e da líder opositora María Corina Machado se concentraram em Caracas e em outras cidades venezuelanas para contestar o resultado do pleito.
"Devemos permanecer nas ruas, não podemos permitir que nos roubem os votos tão descaradamente. Isso precisa mudar", disse a administradora Carley Patiño, de 47 anos, à AFP.
Liderada por María Corina Machado, a oposição afirma ter provas da sua vitória. Ela afirma possuir cópias de 84% das atas, que provariam a fraude, e as publicou em um site.
A comunidade internacional pressiona por uma recontagem transparente dos votos.
Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Joe Biden, conversaram por telefone na terça-feira, 30, para falar sobre a situação no país e pediram a apresentação das atas de votação "de forma imediata", ressaltando que as eleições na Venezuela representam “um momento crítico para a democracia no hemisfério”.
Para o Carter Center, as eleições presidenciais não seguiram "parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral".
"Não pode ser considerada democrática", afirma um comunicado divulgado pelo Centro Carter, convidado pelo CNE para observar as eleições.
O Peru reconheceu González Urrutia como o presidente eleito "legítimo" da Venezuela. "É evidente que a vontade de fraude existe (por parte do governo venezuelano). O senhor (Edmundo) González é o presidente eleito da Venezuela, essa é a posição do governo peruano", declarou o chanceler Javier González-Olaechea à rádio RPP.
Em seguida, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, anunciou na rede social X o rompimento das relações com Peru "após as declarações temerárias do chanceler peruano que ignoram a vontade do povo venezuelano e a nossa Constituição".
Durante a manifestação em Caracas, González Urrutia pediu que os militares mantenham a calma. "Senhores das Forças Armadas: não há razão para reprimir o povo da Venezuela, não há motivo para tanta perseguição", disse.
Maduro responsabilizou González Urrutia e Machado pela violência nas manifestações e garantiu que "a justiça vai chegar".
"Responsabilizo o senhor, González Urrutia, por tudo o que está acontecendo na Venezuela, pela violência criminosa, pelos delinquentes, pelos feridos, pelos mortos, pela destruição", disse na terça-feira.
"A justiça será feita contra diabos e demônios. Haverá justiça. Saia da sua guarida, senhor covarde!", gritou o presidente mais tarde referindo-se a Urrutia e María Corina, diante de centenas de apoiadores que se concentraram em frente ao palácio presidencial Miraflores.
O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, também atribuiu os protestos pós-eleitorais a González Urrutia e María Corina Machado, que segundo ele "deveriam ser detidos".
"María Corina e Edmundo devem ser detidos. Não negociamos com o fascismo, aplicamos todo o rigor das leis da República", disse durante uma sessão da Assembleia Nacional.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, e o responsável pela diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediram respeito à manifestação pacífica dos opositores.
A ONG de defesa dos direitos humanos Foro Penal contabiliza pelo menos 11 civis mortos nos protestos, incluindo dois menores de idade.
"Preocupa-nos o uso de armas de fogo nestas manifestações. O fato de terem ocorrido 11 mortes em um único dia é um número alarmante", considerou Alfredo Romero, diretor da Foro Penal.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, também relatou a morte de um militar e anunciou que 749 pessoas foram detidas.
A ONG 'Encuesta Nacional de Hospitales' informou que 84 civis ficaram feridos nos protestos, enquanto o Ministério da Defesa mencionou que 23 militares sofreram ferimentos.
O líder opositor Freddy Superlano foi detido na terça-feira preso hoje, no que a oposição chamou de "escalada repressiva". O seu partido, Vontade Popular, denunciou a "torturas" para "obrigá-lo a confessar o falso plano montado pelos porta-vozes do regime".
As Forças Armadas, principal apoio do governo, expressou "lealdade absoluta e apoio incondicional" a Maduro, declarou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que respaldou a tese de golpe contra o presidente.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, pediu que aqueles que questionam e denunciam uma fraude eleitoral "não metam o nariz" nos assuntos internos da Venezuela os que questionam e, inclusive, denunciam fraudes nas eleições.
Na Cidade do México, centenas de venezuelanos denunciaram a "fraude" eleitoral.
Antes de romper relações com o Peru, Caracas expulsou o corpo diplomático deste país, assim como os da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, República Dominicana e Uruguai, em resposta ao que considera "ações intervencionistas" desses países
Seis colaboradores de María Corina estão refugiados há seis semanas na embaixada argentina. A líder de oposição denunciou um cerco policial à sede diplomática.
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