Aleppo: "a violência dos bombardeios demonstra que há uma decisão russa de tomar o leste de Aleppo a qualquer preço", afirmou Abdel Rahman (Sultan Kitaz / Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2016 às 17h21.
Socorristas exaustos trabalhavam sem descanso nesta sexta-feira em meio a escombros dos bairros rebeldes de Aleppo, bombardeados pelo regime sírio e seu aliado russo na véspera de mais uma reunião internacional para tentar por um fim ao banho de sangue.
A reunião, prevista para este sábado (15), em Lausanne (Suíça), reunirá os chefes da diplomacia russa e americana, respectivamente Serguei Lavrvov e John Kerry, assim como representantes de Turquia, Arábia Saudita e talvez do Catar, "padrinhos" regionais da oposição armada ao presidente Bashar al-Assad.
"Não espero nada em especial", disse Lavrov a jornalistas, durante uma visita de trabalho a Erevan, capital da Armênia.
Pela terceira semana consecutiva, os bombardeios aéreos continuavam atingindo o leste de Aleppo, segunda cidade da Síria. Isto ocorre desde 22 de setembro, quando teve início uma ampla ofensiva do exército sírio para recuperar a cidade rebelde, nas mãos dos insurgentes desde 2012.
"Vários bairros do leste de Aleppo foram intensamente bombardeados desde a madrugada até agora", disse à AFP nesta sexta-feira Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que não pôde fornecer até o momento um eventual número de vítimas.
"A qualquer preço"
"A violência dos bombardeios demonstra que há uma decisão russa de tomar o leste de Aleppo a qualquer preço", afirmou Abdel Rahman.
Sobrecarregados, os Capacetes Brancos, socorristas da área rebelde, trabalham sem descanso dia e noite.
"Há uma forte escalada", afirmou à AFP um deles, Ibrahim Abu Laith. "Não durmo há quatro dias, devido aos bombardeios", explicou.
Na parte rebelde de Aleppo, com 250 mil habitantes, mais de 370 pessoas, a maioria civis - inclusive 68 crianças - perderam a vida desde 22 de setembro em bombardeios aéreos e disparos de artilharia, segundo o OSDH.
Na quinta-feira, as Forças Armadas russas - que intervêm no país há um ano em apoio ao regime sírio - anunciaram a disposição de garantir aos rebeldes armados uma saída desta metrópole do norte.
Entretanto, a Rússia continua reforçando sua presença militar na Síria.
O Kremlin anunciou nesta sexta-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, ratificou um acordo entre Damasco e Moscou sobre a mobilização "por tempo indeterminado" de suas forças no aeródromo militar de Hmeimim.
Este acordo, originalmente assinado em 26 de agosto de 2015, permite a presença permanente de aviões militares russos neste aeródromo, que serve à Rússia para realizar operações de apoio ao regime de Assad.
Na segunda-feira passada, Moscou já tinha anunciado que transformaria suas instalações no porto de Tartus, no noroeste da Síria, em uma "base naval russa permanente".
Iniciada em 2011, a guerra civil na Síria se tornou gradualmente mais complexa e o conflito ganhou dimensão internacional.
Mais de 300.000 pessoas morreram e mais de 13,5 milhões de sírios, incluindo seis milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária, de acordo com a ONU.
Diplomacia impotente
Diante desta tragédia, a comunidade internacional continua incapaz de por fim ao banho de sangue.
Por enquanto, os Estados Unidos e a Rússia, que suspenderam no começo de outubro seus diálogos sobre a Síria, anunciaram duas reuniões com potências árabes e europeias: a de sábado em Lausanne e outra no domingo (16) em Londres.
Na semana passada, a Rússia vetou uma resolução francesa no Conselho de Segurança da ONU, que defendia um cessar-fogo em Aleppo e a proibição de sobrevoos no local com aviões militares.
O próximo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que chegou o momento de a comunidade internacional superar suas divisões sobre a Síria.